MONALISA, ONDE VOCÊ SE ESCONDEU? (TIMIDEZ/SEXUALIDADE)!

Meu nome é Monalisa. Sempre me achei meio esquisita! Por mais que eu me esforçasse não conseguia me sentir igual aos outros. Tinha muita dificuldade de me encaixar no social, explicitamente. Na adolescência sofri muito por conta disso. Na escola,  enquanto minhas colegas de classe saboreavam a ebulição natural dos seus hormônios, paquerando, indo a festas, saindo com grupos de amigos, eu me mantinha isolada de tudo, sofrendo em silêncio! O momento do meu maior sofrimento foi aos quinze anos; me sentia um “E.T.”! Naquela fase,  iniciei um  processo de fechamento emocional profundo a ponto de não conseguir me expressar, nem em minha própria casa! Tenho uma irmã, Carla, um ano mais nova que eu. Ela era o meu oposto. Extrovertida e aparentemente feliz! Carla não fazia nenhuma questão de ser minha amiga! Acho que ela não gostava do meu jeito. Quanto à minha mãe, Helena, nunca me percebeu! Vivia tão preocupada com a sobrevivência! Parecia tão infeliz! Pudera, meu pai a abandonou assim que minha irmã nasceu. Ela teve que dar duro na vida!  Ser mãe e pai ao mesmo tempo. Nunca mais namorou ninguém! De vez em quando eu até tinha vontade de ser amiga da minha irmã, ser mais próxima de minha mãe! Fiz algumas tentativas que não deram em nada. Hoje, passados oito anos, percebo que talvez ela tivesse inveja de mim! Todos falavam de minha beleza, de meus olhos azuis e misteriosos, da minha meiguice… Os elogios eram constantes, mas eu me sentia feia e magra demais. Nem gostava de me olhar no espelho! Carla era o meu oposto. Graúda, nem um pouco delicada, falava muito alto e um tanto egoísta. Nunca queria  dividir nada. Invadia todos os espaços que conseguia, sem ter a menor culpa! Minha mãe dizia que ela era parecida com o meu pai! Tinha um comportamento oposto do meu. Comunicativa, determinada! Fazia de tudo pra conseguir o que queria, não media consequências! O fato que mais me marcou naquela época, foi aos dezesseis anos. Nessa fase arranjei um amor platônico, o garoto mais bonito da escola! Na minha fantasia eu podia viajar quanto tempo quisesse. Ninguém sabia, era só minha! Nos meus isolamentos, era a minha imaginação quem dava asas ao meu sonho. Me sentia poderosa, desejada! Num dia de setembro, estava ouvindo o meu coração, me imaginando dançando com esse amor idealizado, quando de repente chega a minha irmã, toda eufórica, carregando um livro da biblioteca da escola. Olhou pra mim com a indiferença de sempre e colocou esse livro em cima da mesa. Estava cantarolando e disse de repente que tinha começado um namoro com o Felipe, “o meu amor secreto”! Iria sair com ele naquela noite. Perdi o chão! Fiquei tonta, tentei disfarçar. Corri para o meu quarto e desandei a chorar. Lá fiquei horas sem fim, desolada, até Carla sair, para o encontro que me destruiu. Sozinha em casa, meio perdida, num impulso, voltei à sala tentando me recuperar. Peguei o livro que tinha ficado em cima da mesa e comecei a ler. Precisava fugir da tristeza que eu sentia… Li a sinopse e me interessei! Lá narrava a história de uma mulher que, para não sofrer, resolveu nunca amar.  Ela ficou assim depois de uma grande decepção amorosa. Quase enlouqueceu! Naquele momento ela jurou nunca mais querer se envolver com alguém! Transformou-se em uma pessoa extremamente racional! Correu atrás de sua profissão. Ganhou muito dinheiro! Seguiu na vida procurando se afastar dos relacionamentos que surgiram. Nunca mais amou! Em meu desespero, resolvi adotar o mesmo modelo! Achei que dessa maneira me pouparia de novas dores também. Me prometi não me magoar nunca mais! Peguei firme nos estudos, me formei em engenharia de alimentos. Consegui um bom emprego em outra cidade com um ótimo salário.  Hoje, passados onze anos, me sinto uma mulher segura, rígida e determinada, assim como a personagem daquele livro que li. Tenho quase tudo que o dinheiro pode comprar, mas confesso que “não sou feliz”! Não me permiti conhecer a “fêmea” que habita em mim. Passei todos esses anos fugindo do amor! Entediada, há um mês resolvi enfrentar as minhas defesas e fazer um curso de dança. Bem pertinho de casa! Sabe que estou adorando? Na última aula dancei com o “Antonio”, um moreno com olhos verdes e brilhantes! O seu sorriso maroto não me assustou!!! Alguma coisa está mudando em mim! Há um clima de tesão no ar…

O VELHO “GALINHA”! ( ANCORADO NA ADOLESCÊNCIA)!

Alfredo é uma pessoa divertida, com senso de humor requintado, capaz de ficar horas seguidas dançando e falando de mulher, seu tema preferido. Dia destes, sentada em um botequim muito bem frequentado, no centro da cidade, conheci essa “figura”! Acho importante descrever o seu visual, para se formar a ideia da imagem física dele. Possui mais ou menos um metro e oitenta de altura, cabelos ralos e brancos, postura meio curva. Seu rosto tem muitas marcas do tempo, com um par de olhos esverdeados e meio caídos. O que chama a atenção é o brilho que esse olhar ainda contém e o sorriso maroto que exibe seus dentes meio amarelados pelo tempo. Eu estava com uma colega, também psicóloga, tomando um suco, depois de um dia de trabalho. Conversávamos sobre a viagem que faríamos no próximo fim de semana. Estávamos tão envolvidas com o tema e, nem percebemos que Alfredo, na maior “cara de pau”, tinha puxado sua cadeira e se sentado ao nosso lado. Percebi sua presença no momento em que ele sussurrou em meu ouvido ” Não sabia que Anjos falam”! Levei um susto! Quase caí da cadeira! Ele emanava cheiro de cerveja, seu hálito estava terrível. Logo comigo que não gosto de álcool! Diante da minha reação, ficou meio desconcertado mas não perdeu a pose! Se apresentou. Era uma pessoa prolixa! Começou a falar como um adolescente, papo empolgado e conquistador. Achei uma certa graça e fiquei com pena daquele homem. Acostumada a ouvir pessoas, dei uma certa atenção a ele. Queria entender um pouco mais sobre seu comportamento e talvez ajuda-lo. Minha amiga percebendo a minha intenção, pediu licença e foi ao banheiro. Por acaso estou desenvolvendo uma tese sobre” TEMAS DE COMPORTAMENTOS”! Dei espaço pra ele se abrir e falar de si. O que eu fui percebendo é que eu estava diante de um homem com idade bem madura, num psiquismo muito adolescente. Estimulei que falasse sobre sua história de vida e fui entendendo onde ficaram os “buracos” emocionais, de seu desenvolvimento psíquico. Despertou em mim uma certa compaixão. Ao contrário do que  foi buscar em minha mesa, ele encontrou a indicação de um caminho onde pudesse se descobrir. Se ele se crescer, talvez  haja tempo de conhecer o verdadeiro amor!

CRIS, VOCÊ ENLOUQUECEU? (INVEJA)!

Será que enlouqueci? Andei me perguntando nos últimos meses. Não me reconhecia naquela pessoa agressiva e desorganizada em que eu tinha me transformado. Fui sempre tão equilibrada. Tão organizada! As pessoas até brincavam que eu era muito cerebral. Eu pensava, concluía e organizava! Sentimentos? Driblava, facilmente! Porque sofrer por alguém? “Que bobagem!”; assim eu ia lidava com a minha vida emocional. Incrível como eu me  sentia muito bem resolvida. Conquistava e largava! Isso me divertia. Dava muito prazer saber que alguém sofria por mim! Funcionei assim, até há alguns meses.  O casamento de  Nívea, minha prima, mudou tudo. Na noite em que Nívea se casou,  tudo estava em clima de festa. A noiva  com  brilho único no olhar, irradiando uma felicidade intangível. As luzes do ambiente, a festa, a música, tudo mágico. Na hora em que eu fui cumprimentar os noivos, senti um “frio na barriga”. Essa sensação  me fez sentir muito estranha,  aumentando ainda mais, quando fui abraçar Nívea. Percebi que a  intensa alegria que ela estava vivendo me incomodou.  Seu sorriso radiante me deu certa raiva! Abraçando o noivo, aquele homem másculo, forte, cheiroso senti minha libido alterada. Nossa, Confesso que me incomodou. Precisava me afastar dali. Fui me esconder no jardim. Não entendia porque não estava suportando a felicidade de minha prima.  Acho que queria estar no lugar dela, talvez, que ela nem existisse! Ambivalente, raiva e culpa, martelando em meu peito! Tentei recuperar o bom senso, quando consegui parte disso,  voltei à festa. Encontrei os noivos  dançando alegremente músicas pop, samba, rock. Assim que olhei Nívea em cima daquele sapato branco de salto alto, celebrando a vida junto ao marido, desejei que seu salto alto quebrassem ali mesmo.  Vê-la com tanta alegria de viver, sangrava o meu coração. Naquele rápido instante, me odiei.  Me senti uma bruxa! Sorrateiramente, fui embora da festa. Não dava mais para continuar lá.  Eu estava esvaziada e infeliz. Esse desequilíbrio foi tomando grandes proporções. Não entendia como eu podia ser tão má!  Porque não conseguia me livrar desse sentimento tão corrosivo:- ” Roubar de Lívia toda a felicidade que estava vivendo”.  Cheguei até a ficar na dúvida se estava apaixonada por Carlos, seu marido. Morria de vergonha de mim mesma. Fui buscar num livro de psicologia alguma explicação desse turbilhão de emoções. O que descobri me aliviou. Estou em minha décima  sessão de terapia. Comecei entendendo que sou humana e tenho que aceitar os meus sentimentos. Aprender a lidar com eles. Descobri também que não estou apaixonada por Carlos, apenas sou muito carente e mal resolvida. Entre outras coisas, fui mordida pela inveja por eu  não ser feliz no amor.  Era o doce que eu nunca comi. Quanto aos noivos, fiquei sabendo que estão em plena ” lua de mel”! Sabe que já torço pela felicidade deles!? Entrei em contato com meu coração. Estou iniciando uma lua de mel, comigo mesma! Tem um certo gostinho de felicidade no ar. “Acho que não sou tão bruxa assim!”.