ABORTO! (ENCONTRO NO PROFUNDO).

Vera acordou péssima naquele domingo de páscoa. Também, depois da bebedeira da noite anterior! Fazia um bom tempo  que ela não saía de casa. Andava mal por tantas dores sofridas. Resolveu aceitar o convite de Nina,  amiga muito querida que não suportava ver o quanto Vera estava sofrendo nos últimos tempos. Nina não podia nem ouvir falar o nome de Eduardo, o causador desses sofrimentos. Ela bem que  avisou a amiga, que ele não era “flor que se cheirasse”. Acostumado a ser mimado pela mãe, super protegido, cresceu infantilizado e egoísta. Queria ser cuidado por todas as mulheres. Tinha lá algumas qualidades que agradavam às suas eventuais vítimas. Vera o conhecia desde o início da faculdade. Encantou-se assim que o viu na cantina, entre os intervalos de aulas. Era um galanteador nato. Conseguia o que queria com o seu jeito de menino inseguro e brincalhão embora tivesse vinte e cinco anos de idade. Sabia rir dele mesmo! Essa foi a forma que encontrou para ocupar o seu espaço social e ser bem aceito. Vera, também insegura, vítima de um pai ausente e de uma mãe egoísta, não teve bons modelos para construção de sua estrutura psico-emocional. Ficou carente e fragilizada. Naquele encontro da cantina, quando Eduardo se aproximou e sussurrou:- ” Quero esses olhos pra mim!”, Vera derreteu-se. Literalmente atendeu ao pedido dele. Ali começou sua paixão! Com o passar do tempo todos percebiam que Vera era mais apaixonada por Eduardo que ele por ela. Ela era mais velha que ele seis anos. Ele estava com trinta e um anos quando a conheceu. Entre idas e vindas ficou com ele por longos sete anos. Tinham feito um pacto de não se casarem oficialmente. “Casar pra que?” Foram morar juntos com a condição de não terem filhos. Ele não queria! Não se sentia preparado. Também colocava a situação financeira deles como uma boa desculpa pra reforçar essa decisão! Professores como eles ganham tão pouco nesse mundo consumista! Eduardo vivia dizendo isso. Na verdade também não queria abrir mão de seus caprichos e nem ter maiores responsabilidades na vida. Vera engolia essa decisão por absoluta dificuldade que sentia em deixá-lo. Ela se conformava porque se sentia dependente emocional dele. Mas o destino trama situações inesperadas. Numa noite quente, depois de duas garrafas de um bom vinho tinto , Eduardo e Vera se entregaram ao sexo como há muito não acontecia. Abriram uma terceira garrafa e o chão sumiu! Tudo aconteceu no tapete da sala, perto da lareira. Ela aquecia ainda mais o desejo! Ali adormeceram jogados naquele tapete felpudo. Fazia um friozinho típico de inverno. Vera acordou antes que Eduardo. Correu para o banheiro. Evitou pensar que não tinham usado camisinha. “Estava no seu período fértil”. Não contaria a Eduardo! Não sabe porque tomou essa decisão. Lá no fundo, bem no fundo do coração, ela queria muito ser mãe! Estava perto dos quarenta anos. O tempo não perdoa. Passa rápido demais. Assim ficou com esse segredo até o período de sua próxima menstruação. Fez teste de gravidez. Não deu outra. O antigo sonho se confirmou. Vera estava grávida! Ficou extremamente ambivalente. Seu coração pulava de alegria e seu racional assinalava perigo na relação com Eduardo. Sabia que, imaturo e irresponsável como ele era, tudo poderia acontecer. Continuava brincalhão como antes, mas de uns tempos pra cá deu pra ser explosivo. Violento mesmo. Vera ficou num conflito danado. Sozinha, entrava em contato com o seu lado mãe e até chorava de alegria. Nos momentos com Eduardo sentia uma angústia incrível. Até quando conseguiria esconder dele a gravidez ? De uma coisa ela já tinha certeza:- QUERIA AQUELE FILHO! Já imaginava a reação de Eduardo. Esperava pelo pior! Passaram-se dois meses e meio. Vera sabia que era uma corrida contra o tempo. Não daria mais pra prorrogar a notícia a Eduardo. Planejou o fim de semana perfeito tentando um clima de prazer. Como ele gostava: – lasanha verde, pudim de leite com calda de caramelo e muito vinho. Talvez  uma boa transa depois do almoço! Quem sabe se, inundado de prazer, sua reação fosse acolhedora. Vera não tinha expectativa dele pular de felicidade com a notícia, já que era difícil pra ele. Acolhimento já seria uma resposta feliz diante das circunstâncias. Desgraçadamente não foi isso o que aconteceu! Ao saber da notícia, vociferou expressões violentas por ter sido enganado até então. Ofensas pesadas. Exigia que ela se livrasse “daquela situação”, imediatamente ou a deixaria para sempre. Demonstrou ali o ínfimo ser humano e companheiro que era. Nenhuma sensibilidade e empatia. Não abriu espaço para diálogo com a companheira com quem dividia a vida há tempos. Vera gritou:- “Aborto não!” Disse em alto e bom tom que pra ela bastava. Não queria mais um homem insensível, grosseiro e sem respeito ao seu lado. Assumiria o presente que Deus lhe deu como uma recompensa de todo o amor que sentiu por ele durante tanto tempo. Trancou-se no banheiro e chorou. Chorou muito! Aquelas lágrimas lavaram a sua alma. Conversou bem baixinho com o seu bebê. Falou da felicidade que estava sentindo com a sua vinda. Prometeu amor eterno. Acariciou o seu próprio ventre! Saiu de lá refeita. Na sala o “infeliz,” roncava no sofá como se nada tivesse acontecido. Vera começou a agir com uma doida feliz. Colocou sua música preferida bem alta e começou a dançar freneticamente. Eduardo acordou meio zonzo no meio daquele som. Levantou a cabeça e falou mais alto que o som da música :-Nossa, tive um pesadelo horrível. Sonhei que você estava grávida! Vera não pensou duas vezes e expulsou aquele animal de casa. Isso aconteceu há dois anos. Vera ainda está se recuperando do profundo stress emocional que viveu. Está se reconstruindo. A única certeza que  tem é que renasce a cada dia. Assim que chega em casa, seu coração transborda de alegria. Dois bracinhos fofos confirmam isso. “O cheirinho de seu cangote é só meu. Nunca pensei que amor doesse. Como é bom! ESTOU ABORTANDO O EDUARDO. UF!”.

26 comentários em “ABORTO! (ENCONTRO NO PROFUNDO).”

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