ARTUR E O URSO! (O LADO AVESSO).

Crianças em geral tem muita dificuldade em verbalizar conflitos e angústias. Sofrem caladas! Expressam sentimentos através de sonhos ou por reações emocionais e comportamentais, muitas vezes incompreendidas pelas pessoas que as cercam. Expressam-se, também, através de desenhos e joguinhos. Muitas vezes, apenas profissionais especializados em psicologia infantil conseguem interpretar e avaliar seus significados e símbolos e os relacionar com o histórico emocional. Crianças, dos sete aos doze anos, mais ou menos, se encontram no estágio operacional concreto. Nessa fase desenvolverão habilidades para solucionar problemas concretos. Existe defasagem nesse ciclo do desenvolvimento entre muitas crianças. Nessas crianças o aparato psíquico precisa de mais tempo para compreender noções exatas de tempo e espaço em relação à realidade. Têm nessa fase muita dificuldade para entender e integrar emocionalmente os fatos da vida. Muitas vezes essa dificuldade pode estar também relacionada com a imaturidade emocional decorrente de stress ou experiências emocionais e educacionais destrutivas. Por isso a importância de conhecer e compreender cada fase da criança. Um bom contato emocional e a percepção das necessidades infantis vão ajudar no desenvolvimento de seres humanos mais saudáveis e equilibrados. Artur não teve a sorte de pertencer a uma família bem estruturada psicologicamente. Grandes confusões. Muitas brigas entre seus pais decorrentes de imaturidade. Eram dois apaixonados desmedidos. Ciumentos e românticos. Viviam no mundo da fantasia enquanto a realidade cobrava atitude e enfrentamento. O buraco foi ficando intransponível. Dificuldades financeiras e emocionais foram se acumulando. Clima tóxico dentro de casa, cada vez maior. Artur, oito anos de idade, no meio desse tiroteio. Não recebeu atenção nos momento em que precisava. Não conseguia compreender as brigas e rupturas entre seus pais, que não o poupavam em momento algum. Isso foi gerando na criança insegurança e medo. Suas referências afetivas tiravam-lhe o chão constantemente. Os imaturos genitores não percebiam o mal que estavam causando ao filho e a eles mesmos. Como duas crianças mimadas só percebiam o próprio umbigo. “Brincavam de casamento”! O desgaste na relação ficou insustentável. Separaram-se. Artur cada vez mais inseguro. Nem o pai, nem a mãe percebiam o estado emocional da criança. Davam-lhe “alegria” através de presentes que conseguiam comprar. Muitos problemas crescendo. Insônia e agressividade acometendo o pequeno. Família desintegrada. Ausência afetiva. Grito de socorro! SONHO: Artur sonhou que tinha ido passear na floresta com sua mãe. Andavam entre as árvores livremente, admirando tudo que a natureza oferecia. Fascinado, observava formigas nos caules transportando pedacinhos de folhas e de flores que caiam no chão ou que elas mesmas tinham tirado dos galhos. Num repente, surgiu um enorme urso preto. Sua mãe apavorada correu sem rumo, separando-se de Artur. Ele, por sua vez, num ímpeto, correu desenfreadamente para o lado oposto ao que sua mãe tinha ido. Correu. Correu muito! Sem fôlego. Cansado. Esbaforido. Pernas bambas. Caiu no chão! O monstruoso urso se aproximou. Quando ia dar o golpe fatal, Artur acordou. Tremendo. Chorando. Chamando pelo pai. “Nesse sonho o menino expressa o seu coração”! Vera, psicóloga infantil, esta visitando essa floresta  de mãos dadas com o menino. Estão atrás do urso malvado que não deixa Artur dormir. “O príncipe perdeu o seu reino”. Sua mãe? ANDA PERDIDA PELA FLORESTA!

IVAN, O DISFARÇADO! ( PSICOPATA).

Ivan é um rapaz capaz de enganar aos incautos, carentes e fragilizados. Narcisista e sedutor. Nasceu meio na marra. Sua mãe, uma jovem de classe media alta, o rejeitou de todas as formas. Escondida, tomou remédio para abortá-lo. Passou muito mal. Não conseguiu realizar o aborto. Ficou com medo de passar por outro procedimento e morrer. Contrariada e apoiada pelo pai da criança, assumiu a gravidez. Ela também vinha de uma família com valores fúteis e de pouco contato. A gravidez foi indesejada o tempo todo. Acho que por força do destino, Ivan nasceu! Meio franzino e estranhamente calmo. Chorava pouco. Encontrou um ambiente familiar muito prático. Frio. Sem acolhimento emocional. Foi cuidado por babás e pessoas sem vínculos afetivos até a adolescência. Além de um ambiente familiar tóxico e repleto de conflitos, enfrentou também uma mãe totalmente descompensada psicologicamente. Muitas brigas e xingamentos dentro de casa com seus parceiros e eventuais namorados. Ivan vivenciando todo esse inferno emocional! Foi desenvolvendo atitudes esquisitas e cruéis. Certa vez jogou seu gato de estimação num buraco fundo e se divertia em ver o sofrimento do animal. Construía situações inusitadas em sua mente e tentava persuadir a todos que era real. Normalmente expressava total falta de sensibilidade e empatia com o sofrimento de alguém. Não conseguia se colocar na condição do outro. Nunca sentia arrependimento por algo errado que fizera. Não sentia culpa, por menor que fosse. Egocêntrico e superficial em suas reações emocionais. Mentiroso e falso. “Total miséria emocional”! Era como se fosse um estranho para Maria, sua mãe. “Mãe ausente”! Ela trocava de parceiros como quem troca de roupa. Vários casamentos. Vivia viajando pelo mundo. Conheceu vários países. Nunca pensou em levar o filho. O máximo que fazia era trazer presentes bonitos de todos os lugares que visitava. Realmente ela não tinha o dom da maternidade! Nunca pensou em ser mãe novamente. Talvez a imatura Maria não tenha percebido o mal que fizera ao filho. Ivan ficou adulto sem ela perceber. Cheio de problemas psicológicos. As condições emocionais que enfrentou, provavelmente, foram as desencadeadoras de suas atitudes doentes diante da vida. Incrível capacidade de persuasão. Uma pessoa amadurecida e razoavelmente equilibrada não entraria na conversa barata dele. A maioria dos mortais, sim! Ele utilizava sempre a mesma forma sedutora para atrair “potenciais vítimas de seus desejos egoístas”. Isabel, mulher sensível e inteligente, conheceu Ivan numa festa de fim de ano, na  empresa em que trabalhava. Era filha do dono. Naquela noite de dezembro havia um clima emocional próprio da época. Muitos risos e alegria pelo ar. Luzes coloridas. Conversas. Espírito de fim de ano! Entre um sorriso e outro, foram apresentados por amigos comuns. Ivan estava incrivelmente sedutor. Tinha se preparado para conquistar a filha do dono da grande empresa de cosméticos! Colocou isso na cabeça. “Ele já sabia da frustração emocional recente que Isabel havia sofrido”. Ela significava uma presa fácil! Por sua vez, ela se forçou ir à festa de congraçamento. Estava muito triste com a separação que tinha sofrido, mas, foi representando o pai que não podia comparecer por estar adoecido. Ivan já sabia disso também. Arquitetou um grande plano de enriquecimento rápido. Não podia perder a ocasião. Já tinha investigado tudo sobre a vida dela. Sabia de toda a sua fortuna. Planejou aproveitar a carência intensa de Isabel pelo rompimento recente de seu casamento, com o marido João. Tentaria ocupar o vazio deixado pela separação. Isabel nem imaginava que havia um lobo mau atrás dela! Estava num momento emocional péssimo para conhecer alguém. Muito menos um mau caráter como Ivan. Realmente, naquela noite o cosmo não conspirou a favor da indefesa Isabel. O lobo soube dar um excelente golpe em sua presa. Foi direto na jugular. Fato consumado. Isabel caiu na armadilha. “Carência captada pelo lobo”. Sussurros e palavras  que  estava desesperadamente precisando ouvir, mobilizaram alguns sentimentos positivos. Melhorou sua auto imagem, tão em baixa. Incrível a lábia daquele homem! Experiente, falava exatamente o que ela desejava ouvir. A pobre coitada não imaginava que aquele homem não tinha coração! Só palavras vazias de emoção. “Ele foi vítima de sua própria história”. Inconscientemente desenvolveu um bloqueio emocional como defesa. Para não sofrer. Seu coração ficou lacrado, como a caixa preta do avião! Como compensação, buscava ser valorizado e admirado de uma forma doentia. Ter poder e prestígio era o objetivo de sua vida. Alimento de que seu ego necessitava incessantemente.  Ivan era formado em medicina estética. Estava conseguindo algum reconhecimento em seu meio. Ambicioso, desmedido. Queria muito mais da vida. Mesmo que de forma imoral. Não media obstáculo pra conseguir seus desejos. Compulsivo em suas atitudes. Sempre em frente. Sem ética ou consideração pelo próximo. Nos seus vinte e nove anos de vida aprendeu muito bem como manipular pessoas na realização de suas fixações. Não deu a mínima importância aos trinta anos de diferença de idade, entre ele e Isabel. Naquela festa ela estava visivelmente abatida e mais envelhecida. Também, depois de tudo que passara, até que estava suportando bem! Não é fácil ser trocada pelo marido de longa data, por uma jovem e desqualificada mulher! A humilhação e mágoa ainda ardiam no peito de Isabel, mas, naquela noite, ela era a rainha da festa! Tinha que estar forte e presente. Todos procuravam  sua companhia, como acontece nessas situações. A dona da famosa empresa  de cosméticos representava poder e admiração. Muito dinheiro! Ivan espertamente soube tocar delicada e falsamente o  coração de Isabel. Usou de toda a artimanha de que era capaz. Isabel se encantou! Sedução fatal. Cegueira total. Aceitou tudo. Entregou tudo.  “O LOBO ENGOLIU ISABEL”!

CHOQUE DE REALIDADE! (IMATURIDADE).

Marcela sonhadora. Pobre menina Marcela! Total falta de contato com a realidade. Acostumada a ser tratada como princesa desde menina, construiu a vida como num conto de fadas. Sua educação baseada em mimos e todos os desejos realizados. Frustração? Nem pensar. Seus pais a tratavam como uma boneca de porcelana. Quase que intocável. Um exagero doentio. Quando o assunto era presentes, davam-lhe tudo que ela pedia. Isso também supria a ausência deles. Viviam em congressos. Nacionais e internacionais. Compensavam suas ausências nesse tipo de atitude. Filha única. Cara da mãe! Bonita, charmosa e muito inteligente. Seus pais escolheram não ter mais filhos pra facilitar a vida profissional. Médicos especializados em cirurgia cardíaca. Cresceu. Caprichosa como ela só. Muito voluntariosa. Essas características ficaram tão acentuadas em suas atitudes que de certa forma escureceu a sua  beleza. Era conhecida como a “antipática Marcela”! Pudera, mimada e egoísta só sabia buscar tudo que a envaidecia e satisfizesse seu ego plenamente. Não admitia um “NÃO” a qualquer de seus caprichos. Quem ousasse, teria a chance de receber sua grande agressividade como resposta. Na adolescência tornou-se arrogante. Sedutora. Outra arma que descobriu para atingir seus objetivos. Por meio da sedução exercia o seu poder. Aos dezoito anos, conheceu Augusto, trinta e oito anos. Bem apessoado, inteligente e com ótima condição financeira. Casou-se oito meses depois. Festa de princesa! Grandiosa. Noiva deslumbrante. Tudo perfeito. Desde a decoração aos detalhes mais sutis. Banda ao vivo, tocando músicas escolhidas pessoalmente por Marcela. Comida de primeira. Muitos convidados. Muitas das pessoas sem o menor vínculo com os noivos. Marcela se importava mais com quantidade do que com qualidade. Gostava de aparecer e ser admirada por todos. Queria marcar o evento como inesquecível. Numa coisa foi verdadeira: estava apaixonada por Augusto. Ela o admirava como homem e profissional bem sucedido. Ele, apaixonadíssimo. Lua de mel? Vários países da Europa. Quarenta e cinco dias caminhando nas nuvens! Algumas brigas bobas mas nada que afetasse a felicidade deles. “Pequenas diferenças de humor e forma de olhar a vida”. Aspectos que Augusto e Marcela não tinham considerado até então. Como diz o poeta : – “A paixão é cega”! Retornaram cansados. Felizes. Vida real  esperando. Marcela, menina imatura,  acostumada a não lidar com frustrações, sofreu um impacto ao enfrentar a rotina do dia-dia. Mulher casada querendo conciliar caprichos e sonhos adolescentes, ainda por cima esposa de um homem mais maduro. Não demorou muito para começarem discussões. Desentendimentos diários. Ressentimentos colocados em baixo do tapete. Sorte que Augusto tinha muita paciência. Tentava relevar os diferenças entre eles considerando a pouca idade de Marcela. Queria salvar o casamento. “Paixão desenfreada”! O casamento conseguiu sobreviver razoavelmente por quatro anos. Marcela, cedendo a impulsos imaturos, foi buscar prazer fora de casa. Conheceu um sujeito desqualificado, social e moralmente. Tinha uma qualidade: ótimo papo! Sabia dizer as palavras certas no momento certo. Raposa velha! Não tinha profissão definida. Fazia o que dava. De galho em galho, tirava seus vinténs. Também não precisava de muito para o jeito simples e sem expectativas em que vivia. Marcela, acostumada à boa vida, cartão de crédito sem limites, desejos satisfeitos, nem pensou nesses detalhes. Fundamentais! Idealizava esse novo paquera com sua cabeça de menina. Desconectando  realidade de sonhos e desejos. Como se fosse possível! Crise feia. Augusto saiu de casa. Mudou de cidade. Marcela, sem pensar, assumiu a nova paixão. O marido sofreu muito, por meses. Sangrou! Tentou reatar várias vezes. Sem sucesso. Cada vez era mais pisoteado por ela. Estava disposto a perdoá-la. Pensava que podia ser uma crise passageira. Ainda assim, Marcela  persistiu em ficar com o “novo amor”. Nunca se permitiu pensar que mal o conhecia. “Conhecer alguém leva uma vida”! Passou o tempo. Augusto, cansando e se distanciando da ideia de reatar. Decidiu parar de sofrer e de se sentir humilhado. Novos caminhos emocionais. Conheceu alguém. Se encantou! Refez a vida. Não quis mais saber de Marcela. Ela por sua vez desencantou-se do aventureiro que a seduziu com belas palavras. Foi percebendo suas mentiras, falta de caráter e de identidade saudável. Rompeu o relacionamento. Ficou só. Houve um acordar em seus sentidos. Arrependida até a alma. Culpa dilacerava o coração. Saudades do amor perdido. Tarde demais. Muita carga no coração. Não dava mais para continuar assim. Deprimiu. Marcela buscou psicoterapia! No início foi complicado encarar toda a sua história de vida. Reconhecer as carências. Entrar em contato com o coração. Enfrentar  suas defesas. Entender suas funções. Despir-se das arrogâncias e caprichos estruturados em seu caráter. “ENCARAR FRUSTRAÇÕES, AMADURECE”! Sua leviandade foi se transformando em gestos adultos e conscientes à medida em que sentia a necessidade de mudança. Foi surgindo uma nova mulher. Reconhecendo sua enorme dificuldade de lidar com frustrações. Avaliando melhor os “NÃOS” da vida. Numa retrospectiva emocional, entrou em contato com a sua criança interna. Reviveu birras. Raivas e solidão. Carências! Um enorme buraco escuro. Como se sentia com as ausências constantes de seus pais na infância. Carente e insegura, sem um contato quente. Eles nunca preencheram esse vazio. Foi percebendo que a atitude deles foi compensar com presentes e mimos todas as angústias e necessidades emocionais da filha. Até as babás eram instruídas a agir da mesma forma. “NÃO PODIAM FRUSTRAR A MENINA”. A crise em seu casamento com Augusto representou o ápice. Queria dele uma atitude semelhante à dos pais.  Teve que encarar essa realidade. Frustrou-se. Acordou. A depressão foi o presente genuíno que pode receber. Através dela houve a ruptura de um padrão mental. Não teve jeito. Confronto. Crescer dói. Encarar o seu comportamento desequilibrado diante da vida. Avaliar perdas e danos! Dores irreparáveis, talvez! Hoje, cada descoberta serve como base na reconstrução de sua auto imagem. MARCELA ESTÁ VIRANDO MULHER!