CASARÃO VERMELHO! (CORAÇÃO).

Passei por tantos ciclos. Cada um foi único. Simples. Sofisticado. Glamoroso. Colorido. Preto e branco! Muito diferente um do outro. Em cada um deles uma história emocional. Uma nova vibração. Diferentes sensações. Minha primeira morada foi quente. Energética. Tinha um “quê” de tristeza. Mas não sofri. Havia sintonia com afetos genuínos constantes.  Calor foi mais intenso do que ocasionais frios que ocorreram.  Sensações incríveis de vida. Pulsação! O segundo ciclo  assustou-me em muitos momentos. Risco de vida misturado com cheiro de pão quente saindo do forno. Ambivalência. Sabores e odores do forno quente, traçaram rumos para a próxima etapa onde cheguei feliz. Terceiro ciclo foi muito divertido. Inocente! Cores estimulantes embelezando a vida. Dava vontade de nunca mais sair de lá. Céu azul turquesa e nuvens cor de rosa.  O tempo soberano, não para. Não quis saber. Lá fui eu em direção ao caminho para o próximo ciclo. Cheguei e não acreditei! Foi melhor que o anterior. Singular. Músicas de todos os ritmos. Euforia. Paixão. Sons delirantes num convite a luxúria. Sedução! Muitas vezes, total confusão. Noutras, acolhimento e ternura. Dava pra pirar nesse vai e vem, não fosse o bom senso pedindo licença.. “Hormônios em excesso mobilizam e desestabilizam”! Outra morada de onde não queria partir. Era bom demais sentir a gangorra nas alturas! Também é verdade que muitas vezes sangrei. Pensava em parar por ali. Ir embora para sempre; então pulsava mais devagar, tentando segurar no que dava. No entanto, em algum outro momento, recebia energia vital voltando a pulsar com mais tranquilidade. Assim continuava  brincando e chorando no processo da vida. Confesso que muitas vezes fui incauto. Tive que carregar sequelas inevitáveis para o próximo momento. “Sonhos e fantasias idealizadas impossíveis de se realizarem”. Sofri novamente. Quase enfartei. Enfrentei dinossauros e abutres gigantes. Sobrevivi. Fui me fortalecendo com o transcorrer desse tempo. Não é raro um arco íris colorir o sangue vermelho. Mais amadurecido já sei o que busco nos sonhos. Nessa nova e última morada já me permito o infinito. Escolho com mais cuidado evitando flechas venenosas. Nem sempre consigo proteger-me.  Experiências vividas durante todo o meu processo de vida deixaram o legado de que sou dono de mim. Hoje me permito. Risonho ou carrancudo. Reagir e expressar sentimentos e afetos. Sejam quais forem. ” SANGUE VERMELHO VIVO PULSANTE DEIXANDO O CORAÇÃO LILÁS!”.

O SUFOCANTE PEDRO! ( ANULADOR DE IDENTIDADE).

Pedro, como pude me submeter a seus caprichos e vaidades por tanto tempo? Quando o conheci, não tinha ideia do quanto você era neurótico. Construí um castelo cor de rosa e você cabia lá direitinho. Preenchia todos o espaços dos sonhos e fantasias. Partimos juntos numa estrada com muitos percalços e incríveis construções. Construímos vidas lindas. Perfeitas! Loira. Ruiva. morena. Quadros pintados por Deus enfeitando a vida. Raízes fincadas em minhas vísceras pontuando sentimentos de todos tipos. Alguns devastadores outros tão suaves! Além dos momentos intensos em que me sentia uma verdadeira fada. Para mim eles eram perfeitos. Pedro, como  o amei! Pobre ingênua que fui. Confesso que eu era  carente demais  e envolvida com muito trabalho. Não restava tempo pra auto questionamento. Nunca o trabalho me assustou! Assim construí um mundo idealizado. Cuidar do ninho fazia parte do meu projeto de vida. Se não fosse seu jeito tóxico, camuflado, tudo estaria perfeito hoje. Mas seu comportamento não era tão evidente assim. Vinha em doses homeopáticas. Atitudes corrosivas devagarzinho minando o amor e admiração que sentia. Você só  competia comigo o tempo todo. Disputa constante. Queria ser o melhor em tudo. Sempre uma crítica ácida em relação a mim. “ATITUDES DEFINEM UMA PESSOA”. São determinantes. Palavras ficam jogadas ao vento! Custei a compreender isso. Acordei tarde demais. Quem sabe, lá atrás, no início de nossa relação eu pudesse  ter mudado rumos. Neguei a minha percepção. Talvez tenha sido uma defesa. Paciência! Eu me perdoo. Só busquei acertar! Sua atitude doente teve efeito cumulativo. Cansei de ser sufocada e engolida por você. Hoje, mais amadurecida e centrada admito que não dá mais. Acabou. Chega! O que é isso?  Sufocar minha identidade, fraquejar minhas pernas? Sem  nenhuma  cumplicidade ou respeito. Se eu me submetesse às suas vaidades, você era a melhor pessoa do mundo. Confesso que muitas vezes me sentia uma criança assustada, admitindo seu poder sobre mim. Que loucura! Decisões importantes ou banais tudo era só com você. O soberano! Lá fora, no social, ninguém imaginava esse seu comportamento doentio na intimidade. Lá, você usava máscaras. Lindas máscaras! Não foram poucas as vezes que o perdoei ao logo de tantos anos. Tampouco não foram poucas as vezes que chorei me prometendo abandoná-lo. A sua ambivalência confundia a minha cabeça. Se eu fosse “boazinha”, nosso lar tinha paz. Você fazia comidinha e sexo gostoso. Só o que importava era alimentar seu corpo e ego. Você era cego cara! Nunca viu minha alma. Muito menos meu coração. Onde já se viu tratar uma companheira assim! No fundo você tem raiva de mulher. Desequilibrado é o que você é. Narcísico! Ego inflado que acoberta fragilidade e Insegurança. Precisa de admiração o tempo todo. Dentro e fora de casa. Isso o enche de poder. Só assim suas pernas ficam fortes para cavalgar na vida.. Inconscientemente  sua alma pede socorro. Seu pedido está sendo atendido. Eu o liberto! Me liberto também. Se quiser você já pode caçar outras vítimas ou então buscar entender o menino mal resolvido, mesquinho, que existe em seu coração. Você quem decide. Quanto a mim? Tenho só uma certeza:- NÃO TEREI MAIS TORCICOLOS!

” NAS GARRAS DA SAUDADE”! (SENSAÇÕES MEDIATAS).

Vão passando os anos. Tanto tempo já se passou. Ainda não o esqueci. Parece que foi ontem que o vi pela última vez. Seus olhos emanavam uma energia intrigante. Brilho intenso, devorador. Nunca antes acontecido! Acho que não estava preparada. Só o via como um grande ombro amigo. Aquilo me assustou. Seus lábios não disseram nada do que eu esperava ouvir. Já o olhar maroto delatou seu coração! Pra mim, éramos como dois amigos, alma gêmeas. Confidentes. Cúmplices em muitas situações. Felipe preenchia lacunas de um casamento “AGRIDOCE”! Augusto, meu marido nunca teve ciúmes de Felipe. Tinha um certo desprezo pelo seu jeito simples e natural de ser. Muitas vezes eu estranhava a paciência infinita que Felipe tinha comigo. Ouvia por horas meus queixumes. Sempre me entendendo. Incondicionalmente. Nunca, nunca mesmo, me julgava. Apenas ouvia meus conflitos, enquanto passava as mãos entre os meus cabelos. Um gesto de carinho que só  ele sabia ter. As conversas geralmente aconteciam em fins de tarde no café da esquina da avenida Junqueira. Bem pertinho da igreja matriz do centro da cidade. Viraram hábito esses encontros. No mínimo duas vezes por semana. Ele me fazia tão bem! Tão delicado. Depois de muitas conversas eu voltava pra casa leve. Animada da vida. Felipe despertava o melhor em mim! Não sei bem porque nossas conversas aumentavam o tesão que eu sentia por Augusto, meu companheiro. Após meus desabafos acompanhados com café e pão de queijo quentinho, chegando em casa me sentia incrivelmente energizada. Colocava um jazz. Enfrentava o fogão. Preparava pratinhos apetitosos para o jantar, tentando investir num clima emocional bom. Normalmente regados a bom vinho. Depois. Ah, depois… Amor enlouquecido! Nem sentíamos o tempo passar. Muito tesão. Sensação de vida. Tudo parecia perfeito. Esse era o ponto alto da nossa relação. “Só sexo não sustenta uma relação saudável”! Essa energia prazerosa durava até a próxima briga. (Briga constante corrói  relação). Augusto me sufocava. Ciúmes doentios. “Sempre tive alma livre”. Não sou mulher para ficar enjaulada. Preciso respirar! As recorrentes brigas e o seu controle, minavam minha energia. O conforto era sempre o meu amigo Felipe. Alto astral. Bom papo. Disponível. Em nossas tardes ele alimentava minha alegria de viver. Parecia um terapeuta. Ele sempre me falava porque eu insistia  num casamento desiquilibrado. Muitas vezes questionei o que me prendia ao Augusto além de sexo. Não havia paz. Nem confiança. De ambos os lados. Recebia respostas absurdas de meu coração. Sentia que estava enfeitiçada ou muito insana mesmo! Um dia, cansada dessa insalubridade, resolvi ter atitude. Mudar rumos. Matriculei-me em sociologia numa renomada universidade em São Paulo. Voltaria quinzenalmente para casa. Ares novos! Última chance  à um casamento falido. Achei que essa trégua traria reflexões e mudanças. Seria um exercício que poderia fortalecer ou desfazer a minha relação de vez. Comuniquei a Augusto minha decisão. Entendeu a mensagem! Teve que aceitar. Ele iria nos fins de semana em que eu não viesse. Pra quem morava a cento e oitenta quilômetros de distância era uma aventura e tanto! Focar mais em mim. Conhecer pessoas. Recomeçar com qualidade os  estudos e a vida. Reforçar a minha identidade de mulher. Naquela última sexta feira de janeiro, no usual encontro com Felipe, comuniquei a minha decisão. Ele ficou estranhamente esquisito. Até fiquei constrangida. Um grande amigo não deveria reagir assim! Seu silêncio me incomodou. Não fosse o brilho estranho de seu olhar acho que teria virado as costas e ido embora. Senti algo novo e mobilizador mas preferi fugir. Não podia naquele momento.  Fugimos daquele brilho traidor. Neguei! Negamos. Nem quis questionar. Estava de malas prontas. A partir dai nossas conversas foram se escasseando. Cessaram! Fui embora. Por lá fiquei os últimos quatro longos anos. Voltei mudada. Determinada. Poderosa. Sabendo que queria ser feliz! Augusto não teve jeito mesmo. Estamos em divórcio litigioso. O brilho daquele olhar ainda está aqui. Só de passar perto do café onde a gente se via me dá um frio na barriga! Tenho tantas saudades, Felipe. SERÁ QUE AINDA?

O SONHO DA CINDERELA! (RESOLUÇÃO).

Como nas fantasias, ela é linda. Pele de porcelana. Sorriso aberto e franco. Luz intensa no olhar.  Altivez na postura, voz doce. Suave e meiga. Quando precisa, sabe ser incisiva e firme. Sua presença traz a energia da paz.  Quando pequena, muito traquina. Haja traquinagem! Subia nas árvores com a agilidade dos macaquinhos. Um tanto silenciosa. O seu mundo devia ser muito encantado!  Sempre brincando sozinha. Cresceu com sua beleza. “Bela e sensível”! Transformou-se numa linda mulher-menina. Expressão infantil, delicada e carente. A vida lhe trouxe amarguras! Por ignorância ou egoísmo, seus pais, sua família , não souberam lidar com a imensa sensibilidade daquela criança. Ela não recebeu o quinhão justo de afeto e atenção que merecia. Não souberam entender a criança calada que gostava de ficar isolada em seu mundinho fantasioso. Todos os sentimentos que não foram expressos e ficaram blindados em seu peito.  A linda Cinderela sofreu sem acolhimento.  Sem ter se sentido vista. Amarguras acumuladas ao longo da infância e adolescência. Essa mulher menina, ainda com  olhos brilhantes, buscou terapia para entender melhor o seu coração. Tem um sonho recorrente que está tirando o seu sono há  mais de um dois meses:- SONHO – Está deitada na calçada, na esquina  da casa em que morava na adolescência. “Casa assobradada,  confortável, ampla. Morou lá durante a meninice até vinte e poucos anos “. Exposta na rua, não estava constrangida em ser criticada ou vista. Sentia-se bem. Libertada. Leve. Em outros sonhos, também recorrentes, ela estava sempre dentro da mesma casa, com suas irmãs e pais. Queria sair e não conseguia.  Acordava sempre sufocada. Ao contrário, neste último sonho, a sensação de liberdade por não se importar em estar fora da casa e não se preocupar com expectativas dos outros em relação a ela mexeu em seu interno. Ficou ambivalente em alguns aspectos; no entanto, a força energética de sentir-se feliz em manter-se no lugar que ela própria escolhera foi salvadora.  Não se importar com crítica e rejeição foi como sair de uma prisão de segurança máxima. “Não quer continuar a ser refém de sua história”! O fato de sentir-se fora da casa, com tantos registros traumáticos, responsáveis pela sua contenção emocional, foi sentido como um auto resgate da alma. De lá para cá, muitas coisas estão mudando em sua vida. Cinderela finalmente já pode chorar. Rir. gritar.  Está deixando para trás a menina contida. Já consegue entrar e sair da casa quando bem entende. TEM SUAS PROPRIAS CHAVES!

CARDÁPIO DA VIDA! (LIVRE ARBÍTRIO).

Existem infindáveis formas de ser e estar na nossa existência. A escolha  depende de cada um. Algumas vezes do destino! Sempre que for preciso terá um jeitinho certo de melhorar roteiros e bagunças. A vida oferece farto banquete. Pratos deliciosos. Muitos enganam. Aparentemente atraentes, mas nocivos à saúde como um todo. Tem pra todos os gostos! Alimentar-se do prato errado ou comer demais é indigesto. É necessário bom senso e limites.  Atitudes e escolhas definem a qualidade de  vida. Saber escolher é uma arte! “Não dá pra ser tudo. Nem ter tudo”. A  forma de viver voraz, desequilibra e intoxica  irremediavelmente o organismo. Sabota a saúde mental e física, isolando o  ser humano de si mesmo. A vida não perdoa essas sabotagens! Ela tem seu ritmo. Exige respeito. Cada momento tem energia própria  e múltiplas possibilidades  Atropelar esses momentos destrói lentamente o  equilíbrio vital. Caminho certeiro é  focar nas sensações e escolhas possíveis.  Administrar  com segurança e equilíbrio cada passo dos desejos, escolhas e construções. A natureza  é sabia e generosa; sabe acolher sem discriminação. Desde o mais simples ao mais fortalecido, independendo do gênero ou status social. “Todos são iguais diante da natureza”! Cada ser, de alguma forma, pode encontrar possibilidade de crescimento e fortalecer o seu eu. Em psicologia se aprende que precisamos fortalecer as pernas, o quanto possível. Essa estrutura está diretamente ligada a integração mente-corpo. “O psíquico integrado ao emocional é o responsável por essa força”.  (Não perca suas pernas)! O universo oferece oportunidades aos que buscam essa integração. Não importam limitações existentes. Dentro do seu espaço e tempo é possível lutar, evoluir ou fazer resgates salutares. Nesse aspecto,  auto conhecimento traduz grandes descobertas.  Com ele fica mais fácil encontrar e saborear o alimento desejado. “Traçar o próprio caminho através de boas escolhas”! Obstáculos sempre vão existir! O enfrentamento diante das circunstâncias é essencial –  desenvolve força e revitaliza a alma. Auto imagem fortalecida  funciona  como uma mola propulsora para o fortalecimento do ego. “Só monta no cavalo dourado quem tem determinação e coragem”. Abrir o peito. Respirar fundo. Coluna ereta. Postura saudável pra conduzir esse cavalo. Imprescindível que essa condução seja coerente com o  coração e o mental. A valorização do MOMENTO PRESENTE  amplia a consciência. É o ponto de partida que  pode ser um instrumento mental transformador. A vida é a soma desses momentos. Livre arbítrio com responsabilidade expande a consciência e a fortalece. A GRANDE  GESTALT DA VIDA É SER FELIZ!

_ ” Viver o aqui e  o agora” passos firmes na construção saudável do amanhã!  (Teoria da Gestalt estuda a percepção e a sensação do movimento. Ampliação da consciência pessoal). A  Gestalt enfatiza o auto conhecimento e o crescimento pessoal, focando no homem e em suas percepções do presente, como capacidade de se auto gerir e regular.

RENÚNCIA DOS DEUSES! ( DESCRIÇÃO DE UM DEVANEIO).

Duas e meia da madruga. Insônia terrível insistindo em atormentar a minha noite. Arrumo o travesseiro. Quem sabe assim melhora o peso na cabeça! Viro para o lado direito. Para o esquerdo. De bruços. Que nada! Droga!  Levanto-me. Vou fazer xixi. Aproveito e pingo um colírio nos olhos, para aliviar a queimação. Tomo um copo d’água quase gelada. Sinto-me melhor. Olho no relógio. Duas e quarenta e cinco. Rapidamente passa pela cabeça que, dali a pouco, terei que me  levantar. O trabalho me espera! Resolvo desligar o despertador. Tenho que dormir, nem que seja um pouquinho. Quinze minutos já vão ajudar. Será difícil encarar o dia assim! Areia em meus olhos continua. Não adiantou nada o colírio. Pareço insana. Colírio nunca curou sono! Muita excitação. Não consigo dormir. Saio do quarto. Decido ir ao computador. Antes, lavo o rosto no lavabo. Água fria no rosto alivia os olhos pesados. Vou tentar escrever um pouco em meu blog. Talvez assim o sono chegue mais fácil. Mal me acomodo na cadeira em frente à máquina, o coração dispara. De novo aquela imagem. Fixa. Par de olhos rasgados. Cor de mel. Estranhamente sedutores. Carregados de magia e mistério, que fazem aflorar os meus sentidos mais loucos. Aperto no peito começa a incomodar. Frio na barriga. Gostoso. Ruim! Sei lá! Não estou me entendendo. Será que Deus me entende? Será que ELE já sentiu isso? Nossa! Estou enlouquecida. “Louca e pecadora”. Não consigo me concentrar nos textos que trabalho. Sensações ambivalentes. “Preto e branco”! Contraste angustiante. Cabeça começa a doer. Alma e entranha se misturam. Devastadora perda do auto controle. Estou péssima. Sou ridícula, escrava dos sentidos. Ventre arde como um vulcão em erupção. Num repente, minha mente quer ser ouvida. Fico surpresa e aliviada. Saio do transe. Volto os olhos para o artigo que estou escrevendo .  Respiro fundo e busco lucidez. Começo a escrever sobre “revolução dos sentidos”. As lavas do vulcão querem destruir toda a carne de meu corpo. Toda a serenidade. Não quero mais sangue escorrendo pelos poros. Esvaindo toda a  energia. Ficar como um carro desenfreado passando por cima de meu equilíbrio. Preciso de cores! Árvores frondosas. Sombras e ventos. Preciso do sol. Arco íris da vida. Pausa. Necessito, por alguns segundos, inspirar e expirar novamente. Retomo o texto. Não serei escrava dos desejos. Pausa novamente. Leio o que escrevo. Acho tudo confuso. Não importa! Tenho que ser fiel ao que sinto. Volto a teclar:- Pensando bem é uma grande bobagem sentir desejos. Para que? Submete. Despersonaliza. Desejo não tem cura! Doença incurável. Pausa para nova respiração. Capricho, principalmente na expiração. Preciso concluir esse ensaio. Certa vez li um livro que dizia para não sermos escravos dos sentidos. Essa dependência é como droga. Tira o chão. Ridiculariza a alma. É como se atolar na areia movediça. Asfixia. Alma se enterra nas vísceras. Vira fantoche. Sem rumo! O desejo é corrosivo. O desejo mata. Renuncio! Penso num título para esse devaneio: RENÚNCIA DOS DEUSES!

( Relato de Clarice, em terapia. Jovem escritora. Momento de angústia e conflito em sua jornada).