EU NÃO QUERIA SER VOCÊ! (AVERSÃO).

Passos velozes. Determinados. Andava em passos largos pelas avenidas. Assim como uma louca. Não enxergava as pessoas que cruzavam comigo. Pareciam fantasmas. Apenas sombras que atrapalhavam o meu caminho. Sentimentos conflitantes, queimando o meu peito. Precisava urgentemente me livrar daquela angústia. Acelerava os passos. Cada vez mais rápidos. Tentava correr da dor. Ela teria que ficar para trás. Lágrimas presas embaçando meus olhos. Coração disparado. Boca seca. Língua grudada no céu da boca. Ainda assim eu não conseguia diminuir a caminhada louca. Minhas pernas denunciando cansaço. Começaram a tremer. Um certo vazio invadindo o peito. Desiquilíbrio energético. Senti minhas forças diminuindo. Parei de repente. Nem me dei conta que estava bem em frente ao “Parque dos Pássaros”. Protagonista de tantas histórias felizes. Até de tragédias. Foi ali em frente à  Fonte dos Amores que Cristina apunhalou o seu amor. Coitada. Não suportou a dor da traição. Presa em flagrante. Não conseguiu  usar o racional pra organizar o coração. Ficou cega. “Integrar amor e emoção é essencial”. Tenho certeza se tivesse pensado mais, não entraria em desatino.. Estragou sua vida por quem não a merecia. Burrice. Ouvi dizer que se arrependeu muito. Pesadelos todas as noites. Não dava mais pra voltar atrás. Essas lembranças tão fortes foram me transportando a outro canto da minha dor. Pensei:- Quanto sofrimento de graça! Parei. Sentei-me sobre o primeiro banco que avistei. Ainda molhado pela garoa que tinha acabado de cair. Minha calça jeans encharcou. Nem liguei. O frio do molhado na pele  deu uma sensação de vida. Meu corpo foi conversando com as sensações no meio do caos emocional! Como a chuva tinha dado uma trégua, tirei o casaco. Nesse momento passou um sorveteiro:-Olha o sorvete caseiro! Pensei:- Porque não? Puxei uma nota da carteira molhada. Deliciei-me com o gostinho do morango. Fui ficando mais calma. Sensação infantil  a cada lambida. Periquitos e sabiás cantando em coro entre os galhos das árvores. Parece que aqueles pássaros não queriam me ver triste. Nem sei porque quis acreditar nisso. Me fez bem. Num instante até duvidei de mim. “Meu Deus será que enlouqueci? Pensei logo-: Acho que não! Louco tem dificuldade de integrar razão com emoção. Não está sendo o meu caso. Resgatei um pouco do meu equilíbrio naquele momento. Sensação de paz foi brotando. De encantamento. De prazer! Eu, meu sorvete e os pássaros orquestrando seu sons mágicos. Foi terapêutico! Reconheci que o universo oferece presentes inesperados. Basta reconhece-los. De repente tudo pode mudar. O sofrimento desaparecer. Por instantes esqueci da dor. Alonguei um pouco o corpo, mesmo ainda sentada. Parecia que tinha saído de uma luta. Muito dolorido! Estiquei as pernas, braços. Movimentei o pescoço, levemente. Em círculos. Suavemente. Nesse momento meu coração se fez presente novamente. “Coração e pescoço”. Sensação ambivalente. Amor e orgulho brigando por lá. Entregue a essas sensações, distraída, tinha esquecido de tomar o sorvete .Derreteu por inteiro. Gotas de morango por todos os lados. Calça jeans, meus pés. Tudo melado. “Sempre tive aflição de melado na pele”. Felizmente essa neurose não estava lá. Não mexeu comigo. Meu coração sorrateiro insistia em trazer lembranças dolorosas de um passado recente. Elas foram se intensificando. Sensação ruim. Novamente disritmia. Respiração acelerada. Mãos geladas. Dor no peito. Medo de morrer. Sensação de morrer. De prisão! Insuportável. Precisava me livrar daquilo tudo. Angústia dói tanto! Num esforço, novamente,  busquei olhar a realidade que me cercava. Precisava voltar à razão. O instinto de sobrevivência é forte. Parte minha imersa na dor. Outra parte  me chamando pra vida. Voltei meu olhar para o copinho vazio. O sorvete não existia mais. O copinho vazio e minha mão melada pelo sorvete derretido. Num impulso infantil, comecei a lamber os dedos. Queria sentir de novo o gostinho do morango. Assim fiquei por alguns segundos. Quando levantei os olhos, uma menina de uns quatro anos de idade, tomava um sorvete também. Curiosa me observava. Expressava surpresa pela minha atitude. Generosa me ofereceu o seu sorvete.:- Quer? Esse seu gesto mobilizou sentimentos genuínos em mim. Sorrindo , agradeci. Recebi um lindo sorriso de volta. Ouvindo o chamado da mãe, jogou-me um beijo com a mãozinha. Saiu correndo. Aquele pequeno vestido amarelo com sorriso cristalino, como num milagre, resgatou em mim sonhos escondidos pela vida. Foi tão intenso! Percebi naquele momento  uma radiografia da felicidade que eu buscava. Quantos resgastes eu devia ao meu coração. A gente se engana muito nesta vida. “Quantas cebolas com casca lisa, bonita. Por dentro toda podre”. Não se aproveita nada. Muitas vezes nos enganamos assim com pessoas. Eu me enganei! “As aparências enganam. A saúde vem de dentro para fora. Atitudes expressam a saúde mental e o equilíbrio. Bonitinhos e ordinários é o que mais se tem por ai! Recado -: Hoje vou me escolher. Eu não quero você. Não preciso mais de você. “EU NÃO QUERIA SER VOCÊ”!

159 comentários em “EU NÃO QUERIA SER VOCÊ! (AVERSÃO).”

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