MÃOS E O TEMPO! ( HISTÓRIA EMOCIONAL).

Ontem, antes do jantar, casa de minha mãe, quando saboreava um ” Tawny Port,” que Mariela, minha prima, trouxe de sua recente viagem a Portugal, fui sentindo intensa sensação de leveza e prazer. Cada micro gole preenchia minhas papilas gustativas, numa sensação de “quero mais”. Foram despertando lembranças emocionais de tantas historias vividas, cheias de afetos, da minha  infância. Inebriada, na medida em que tomava mais goles, me ajeitei melhor na confortável cadeira de vime, muito antiga, na qual estava sentada. Dei uma espiada pela janela. Respirei fundo. Quintal de terra batida, continuava o mesmo. Quase nada mudou. Cozinha ensolarada, toda energética. A casa é do tipo casarão. Acolhedora! Tudo rústico. Muita madeira maciça. Espaços amplos. Lá fora, ao lado do quintal de terra batida, pessegueiros floreando deixando uma lindeza todo o lugar. Um encantamento! Nesse processo de lembranças intensas, muitos afetos, sensações inesquecíveis, emergiram na memória. Cada canto, lembranças Impregnadas  me envolviam, falando de uma história de vida. Especialmente na cozinha. Quantas histórias! Ali rolavam longas conversas, até discussões inflamadas enquanto se cozinhavam comidas deliciosas. Sabores e cheiros despertavam  os sentidos num convite urgente a saciar a vontade. Água na boca! Emoções  foram emergindo num crescer. Lembranças que sorriam. Também machucavam! Bateu saudades da tia Zinha. Doeu! Costureira de mão cheia. Irmã de meu pai. Mulher forte, determinada. Amorosa como ela só! Sempre me protegendo contra castigos merecidos, das muitas traquinagens. Lembrei do vestido de linho vermelho, com bolas brancas. Tia Zinha confeccionou pra mim em sua antiga máquina de costura. Presente de aniversário dos meus sete anos. Simplesmente, adorava aquele vestido! Tinha um bolero, tão lindo, mangas fofas. Preferido nos fins de semana quando ia passear. Só queria  ele. ” Tempo bom”! Tia Zinha partiu tão cedo. De repente. Doeu muito. Chorei, sem entender o porque do abandono, nem doente ela estava. “Tias amadas não deveriam morrer”! A vida é injusta. Envolvida nessas emoções, ambivalentes, prazer e tristeza misturados,  distraída, olhei a linda toalha branca de renda que cobria a mesa. Num repente, fui chamada à realidade. Surgiram, diante de meus olhos, duas mãos  cansadas, marcadas pelo tempo. Percebi que  trêmulas, com movimento lento, delicado e cuidadoso, colocando sobre a mesa um prato de petiscos especiais. Pela primeira vez, depois de uma vida, tive um olhar especial para as mãos de minha mãe! Sensibilizada, percebi marcas escuras deixadas pelo tempo, denunciando cansaço e longo caminho trilhado. Alguma marcas mais profundas que outras, no entanto, não perderam a delicadeza! Mãos expressivas. Quantas histórias naquelas mãos! Quantos carinhos. Afagos. Mãos que algumas vezes precisaram mostrar limites necessários. Elas também curavam! Secavam lágrimas. Ensinaram a viver! Como num filme em minha mente, tudo foi intenso e rápido. Lentamente levantei a cabeça,  dei de cara com um olhar terno e meigo, oferendo o meu quitute preferido, (rolinhos de tofu com o molho especial da Lourdes). Delicia! Com carinho na voz, baixinho, disse ter feito especialmente pra mim, insistindo para eu provar. Eu já estava sob o efeito de quatro taças de vinho e toda essa gama de emoções invadindo meu ser. Ela nem notou! Meio zonza, porém em meu equilíbrio ainda, olhei fundo nos olhos de mamãe. Ela esboçou um sorriso tão seu! Com brilho no olhar, olhou também, bem no fundo de meus olhos, naquele momento, nossos olhares conversaram de alma para alma. ALI, DANÇAMOS A NOSSA MÚSICA COMO NUNCA ANTES!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AVALIAÇÃO TARDIA. (CONVICÇÃO).

Foi preciso passar uma vida inteira para entender que não vivi. Aniquilei meus sonhos. Esquartejei-os em pedaços tão pequenos que nem me dei conta. Só agora percebi que os sepultei. Sensação horrível! Estava suportando a vida. Fui percebendo isso na medida em que perdi o tesão por coisas que antigamente acendia meu fogo interno. Bifurcações. Rupturas violentas abrindo abismos no peito, destruindo  desejos. Antigos. Atuais. Figuras emocionais estranhas ocupando a mente. Paulatinamente, passei a não me reconhecer mais. Gradativa auto- sabotagem foi sendo parceira constante nesse longo período. Hoje sei disso! Querendo buscar a cura, tentei analisar porque me permiti essa autodestruição. Seria masoquismo? Estava tão cega! Sei lá. Só sei que fui a única culpada. Errei em sufocar minha identidade. Ser uma pessoa mascarada, falsa comigo mesma. Responder expectativas de alguém? Miséria! Não bastasse, era um ser, prepotente. Machista. Um zero! Baixa auto estima encoberta por  ego inflado, esse era o padrão do  vampiro! Burra. Imatura, só eu mesma! Sonhadora demais, idealizava a vida. Destemperei minha alma. Deprimi. Sem vontade de nada,  precisava de novos temperos pra me sentir viva. Busquei alívio. Tarja preta? Não! Esse caminho não quero. O psiquiatra me desculpe. Dores da alma não se alivia com comprimidos! Preciso voltar a dançar. Todos os ritmos que a vida pode oferecer. Sentir a leveza dos ventos. A energia de um abraço quente. O calor de uma paixão. Reacender meu bicho interno, afiar garras. Deletar  o lixo. RESGATAR  SORRISO DA MENINA QUE SE PERDEU PELO CAMINHO!

-/Sandra Helena, buscou na psicoterapia, o caminho do auto conhecimento. Foi tentar se entender melhor, e, desenvolver auto- estima  vitalizadora/.