AMANTE? (ENCRUZILHADA EMOCIONAL).

Vou ou não vou! O “sim” é forte demais. O “não” me aniquila. Logo eu que sempre fui mais cerebral que emocional; não estou conseguindo agir com a razão. Pareço um fantoche. Só tenho uma certeza: quero ao menos te ver de novo! Talvez sentar para conversar sobre coisas que não conseguimos discutir. Conversa séria! Matar essa saudade insana. Que corrói! A saudade está me enlouquecendo. Martelam em minha mente bobagens que nos faziam rir sem censura. Como a busca de energia nos troncos das árvores. Nossa! Como era bom! A gente fazia exercício de sensibilidade tentando traduzir sensações. Surgiam as mais variadas. E quando a gente ia andar de olhos fechados na areia da praia? Os braços eram a nossa antena. Esticados para a frente. Vez ou outra eu ou você tropeçávamos na areia. Quando isso acontecia, uma punição: virar estátua, por alguns minutos. Eu me sentia tão viva! A criança que habita em mim nunca foi tão feliz. Era  também hilário ver um homem barbado como você brincando de pega-pega na praia. Como um moleque. Livre. Sorriso aberto. Gargalhadas de perder o folego. A gente não dava a mínima para o que os outros pensavam. E aquela vez da água de coco? Tomar toda água, sem respirar. Num fôlego só? Fingi que engasguei. Você ficou apavorado, tentando me tirar do sufoco. No final eu ri tanto. Você ficou bravo.  Nem desconfiou que era brincadeira minha. Foram tantos os momentos. Tão simples. Tão intensos! Tudo parou naquela viagem fatídica. Nem posso relembrar. Dá uma dor. Foi lá que os castelos se desmoronaram. Foi lá que enterrei minha paixão. Bem que eu não queria ir. Você insistiu. Disse estar livre naquele fim de semana. Começou a botar água em minha boca. Descrevia o hotel a beira mar como um paraíso. Um lugar lindo. Disse ter ido há muito tempo com amigos. Falava das lagoas naturais que se formavam nas areias. Da lancha alugada que conduzia às praias encantadas, desertas. Dizia que as areias cantavam por lá. Os coqueirais com suas sombras frondosas. Nem precisava de guarda sol. E os cardumes? Você dizia que eram coloridos. Foi muito convincente. Desmarquei um workshop importante, daquele fim de semana. Só para estar com você. Não queria parecer fácil e aceitar logo de cara o seu convite. Nós estávamos juntos há apenas quatro meses. Na verdade estava louca para viajar com você. Mas estava postergando o momento. Desde aquele encontro no supermercado, onde te conheci. Fiquei fascinada. Lembro que  estava escolhendo uvas sem sementes. Minhas preferidas. Você na mesma banca, comprando frutas tropicais. Pensei: – Deve morar sozinho. Não tinha aliança! O seu olhar maroto, meio cínico. Me conquistou.  Perguntou sobre as minhas uvas. De lá para cá a gente começou a se encontrar semanalmente. Quintas e sábados. Domingos? Nunca. Dizia que era o dia de almoçar com sua mãe. “Mentiroso”! Hoje eu sei. Você não esperava por aquela surpresa em nossa viagem. Sua mulher descobriu tudo e reservou um fim de semana, lá também. Confesso que ela teve muito sangue frio. Corajosa. Esperou até o nosso “jantar romântico”. Queria nos surpreender dentro do restaurante do hotel. Que baixaria! Morri de vergonha e de raiva. Meu mundo se desmoronou. Não imaginava que era casado. Filhos pequenos. Como pode me enganar assim? Patife! Não consegui entender como arranjava tanto tempo livre pra ficar comigo. Nunca iria imaginar. Que histórias inventava à sua mulher? Depois disso entendi bem os domingos com sua mãe. Fraco! Nunca gostei de homens fracos. Muito menos hipócrita. Fui me apaixonar por um! O mel virou fel! Queimou a alma. Feridas sangrando. Humilhada. Não te quis mais! Não por falta de tesão. Nem por falta de sua insistência. Depois daquele barraco armado por sua mulher, arrumei as malas, aluguei um carro e vim embora. Acabada! Ambivalente. Pena de sua mulher. Pena de mim! Só que não consegui esquece-lo. Processar tantos sentimentos. Simplesmente não consegui. Acordei nesta manhã com imagens mentais fortes. Sonhei com você! Meu coração estava aos pulos. Você se debatia dentro dele. Cantava e dançava como um louco. Segurou minhas mãos e me rodopiou sem parar. Até o cansaço extremo. Eu, como uma presa sua. Desprovida de energia. Entregue! Então, seus lábios carnudos e sensuais se aproximaram dos meus. Num tom cafajeste. Atrevido. Sussurrou: -Esposa eu tenho. Amante não! Acordei. Esse sonho intensificou desejos guardados. Peguei o celular. Mensagem sua! Duas semanas sem você! Pernas bambas. Abri a mensagem. Não acreditei. Coração disparou. Mãos trêmulas. AMBIVALÊNCIA TOTAL!

CALA A BOCA CARINA! (NECESSIDADE DE FALAR DEMAIS).

A festa de aniversário de Graciela, minha melhor amiga, foi programada há dois meses. Convidamos todas as amigas da nossa turma de psicologia e alguns alunos de outros cursos, amigos nossos também. A gente queria que tudo saísse perfeito. Fechamos um espaço bem moderninho, super bom astral, perto da faculdade. Facilitaria a ida da turma. Seria numa sexta feira, logo após o termino das aulas. “Assim ninguém faltaria”! Combinamos chegar em torno das onze e meia da noite. A excitação era grande. Contratamos até um conjunto musical. A ideia era animar o pessoal. Pouca conversa. Muita dança e tequila na cabeça! Claro que a geladinha não ia faltar também. Sucos e batidas de variadas frutas. Ninguém nem pensava em comer! Lógico que eu, como amiga da Graciela, corri atrás de um delicioso bolo de chocolate, brigadeiros e mini salgados. Tudo perfeitamente organizado. Chegou a grande noite. Vesti o meu clássico pretinho brilhante. Rasteirinha nos pés pra dançar  confortável, sem dor. Cheguei ao espaço antes do pessoal. Queria conferir se estava tudo em ordem. Perto da meia noite começou a chegar um ou outro e de repente a casa foi ficando lotada. Alguns convidados levaram amigos novos e desconhecidos. Luzes lilases e negras na pista de dança. Risos e alegria. Vozes e gritinhos próprios do momento. Em meio a essa confusão toda chega um amigo acompanhado de uma moça toda risonha e falante. Logo de início achei interessante o jeito dela. Pensei que poderia ser uma companhia animada. Fomos apresentadas. Nesse intervalo de tempo, meu amigo sumiu no meio da pista de dança. Fiquei só com Carina tentando dar atenção. Ela não conhecia ninguém dali. Ficaria deslocada se a deixasse ali. Minha impressão de início, de que ela era extrovertida e legal, aos poucos foi se desmanchando. Carina não parava de falar. Engatava uma conversa na outra. Dava a impressão que ela nem respirava. Além do mais era meio grudenta. Sabe aquela sensação de estar sendo sugada? Meio vampiresca! Fui tendo um mal estar crescente. Muito ruim. Ela não dava espaço pra eu abrir a boca. Muito menos falar com ninguém. Uma das convidadas tentou chegar perto de mim, meio brincando, tentando me puxar pra dança; Carina, imediatamente segurou o meu braço para eu não escapar. Foi hilário! Ao mesmo tempo que estava irritada, estava também com certa pena dela que tentava me agradar em tudo. Expressava um certo desespero que eu a deixasse sozinha no meio da festa. Fiquei numa situação emocional ambivalente. Tenho esse problema. Sempre me coloco no lugar do outro. Naquele primeiro encontro, ela queria me contar tudo sobre sua vida. Senti, ali, que me despersonalizei. Fiquei nas mãos dela! Até me convenceu a sentar numa mesa próxima a entrada, onde tinha menos barulho. Poderia ouvi-la melhor! Ela, falando, falando. Dava a impressão que não pararia mais. “Parece que ela tinha congelado a minha expressão. Era meio diabólico o que estava acontecendo. Logo comigo, que estava fazendo o curso de psicologia! Deixar-me envolver desta forma, sem reagir! Essa situação durou eterna hora e meia. Me estranhei. Não soube me defender da voracidade neurótica daquela menina. Ela conseguiu me escravizar em sua compulsão. Fiquei indignada comigo mesma pela minha impotência e falta de atitude assertiva de lidar com aquela situação. Se eu estava desconfortável, nada mais natural do que ter jogo de cintura para me livrar do que não estava gostando. Tudo terminou só na hora de cortar o bolo. Radicalmente fugi de Carina. Até o fim da festa. Nem quis saber se ela ainda estava na lá. Medo que a dose se repetisse. Fui embora carregando aquela imagem ruim de toda essa experiência. Ficou como um peso! Sorte que na segunda feira eu tinha supervisão clínica de casos que estava começando a atender. Fiz questão de comentar essa experiência que tive com Carina. Minha experiente supervisora conduziu de forma que eu entendesse o porque provável daquele comportamento. Deixou claro que era um traço forte do caráter dela. Carência muito grande. Necessidade de se auto afirmar e de ocupar espaço. Provavelmente é a forma que desenvolveu pra ser vista e valorizada. Insegura e baixa auto estima. Falar compulsivamente é um traço de muita ansiedade. Busca para compensar experiências emocionais mal resolvidas em sua história de vida. A supervisora deixou claro que essa era uma análise superficial, já que a paciente não estava presente para avaliação global de seu jeito de ser. Com certezas haveriam outros traços a serem investigados. Sai da supervisão com uma nova sensação em relação a Carina. Fiquei meditando como os caminhos emocionais são determinantes para o nosso equilíbrio mental e físico. Como as pessoas ficam ancoradas em meio às suas próprias neuroses, sem achar o caminho da libertação de seu verdadeiro eu.  Encobertas. Infelizes. Vão se aprofundando inconscientemente nesse desiquilíbrio, cada vez mais. NÃO SABEM COMO PEDIR SOCORRO!

AUTO-RETRATO EMOCIONAL! (SINTOMAS DEPRESSIVOS).

Nasci de parto normal cercada de expectativas e de carinho. Pais apaixonados e ciumentos. Gostavam de fazer filhos! Fizeram seis. Família grande. Dificuldades financeiras. Muita dignidade e contato afetivo entre os irmãos, principalmente. Se não fosse o excesso de ciúmes de meus pais, talvez tivesse sido perfeito. “A pobreza maior é a da alma”! Lá em casa não existia isso. De algum jeito cresci com uma ótima auto imagem. Talvez tenha sido a atenção exagerada que meu pai dava a mim. Ele fazia com que me sentisse uma princesa. “Eu me achava tão linda”! Isso me deu segurança e abriu caminhos. Desde pequena fui amorosa e meiga. Muito sensível. Sofria com as dores do mundo. Essa minha condição emocional refletiu, muitas vezes erroneamente, uma imagem fragilizada de minha pessoa. “Sensível e forte”! Teimosa. Sempre soube buscar meus desejos. Peito aberto. Guerreira! Fiz faculdade de “Assistência Social”. Queria me envolver e ajudar pessoas carentes e necessitadas. Tive sorte; logo que me formei fui contratada por uma ONG que cuidava de crianças e as preparava para a vida. Muita realização! Casei com o homem que escolhi. “Tinha um olhar tão profundo!” Forte e bonito. Crescer e vencer, estas eram suas metas. Cheio de si! Ele me enchia de orgulho.  Eu sentia que a minha vida era como um conto de fadas. Vivia com a cabeça nas nuvens. Filhos chegaram. Lindos, lindos! Um menino e duas meninas. Muito trabalho e amor transbordante. Realidade brava! Conciliar tudo, junto a um marido que foi se revelando cada vez mais brilhante, porém muito individualista. Começaram a emergir  seus aspectos psicológicos não expressos anteriormente, que foram desgastando nosso relacionamento. Meu marido não sabia o que era cumplicidade na vida a dois. Chegava a ser sufocante! Numa coisa ele era bom. Sexo. Amante fogoso.  Sexo era o seu fraco. No dia-dia eu precisava respirar fundo para administrar sua arrogância. Engolir a seco e manter aparente felicidade. Sempre dava uma nova chance a nós! Manter a família unida era sagrado para mim. Não queria a separação. Achava que seria a ruína de nosso lar. Até porque as crianças precisavam muito dos pais unidos.  Que seria  dos nossos fins de semana regados a vinho? Risos descontraídos por qualquer bobagem que se dizia. Verdade que “vinho na cabeça” bloqueava o homem crítico e egoísta que se escondia em meu marido. “Naqueles momentos eu o amava como antes”! E os Natais, como seriam? Tão esperado pelas crianças! Troca de presentes? Amigos secretos. Avós, tios, primos. Todos reunidos! Não. Eu tinha que lutar pela família unida. “Preferia suportar meu marido sem vinho!” O tempo foi passando… Filhos tomando rumos na vida. Viraram adultos. Tão de repente, meu Deus! Nem com o tempo meu marido melhorou em seu egoísmo. Pelo contrário. “Acho que o tempo vai evidenciando as qualidades boas e ruins das pessoas”! No caso dele, muito mais as ruins. Sem os filhos nossa convivência foi ficando insuportável. Comecei a me entregar mais e mais ao trabalho na busca de momentos leves e saudáveis. Queria ficar longe de críticas e cobranças.  Daquele ambiente emocional pesado. Meu alívio acontecia quando os filhos nos visitavam em fins de semana. Revivia um pouco os momentos felizes. Nosso corpo vai nos dando sinais! Numa segunda feira, depois de um desses fins de semana, acordei me sentindo muito esquisita. Apesar do sol brilhar lá fora eu sentia um dia cinza. Nada estava fazendo sentido. Não queria sair da cama. Uma certa dor de cabeça. Corpo pesado e dolorido. Pensamentos ruins. Estava sozinha em casa. Meu marido tinha ido trabalhar como de costume, muito cedo. Em meus cinquenta e seis anos nunca tinha me sentido assim. “Sem vontade de viver”! Tentei usar o racional para entender o que estava acontecendo comigo. Rapidamente me sentei na cama, em posição de lótus e pratiquei meditação. Respirei com a alma e o corpo. Quinze minutos. Milagrosos. Insights aconteceram. Decisões importantes. Libertação. Não me condenaria mais a essa vida! “TERAPIA DE CASAL OU DIVÓRCIO!”

ABRAÇO LOUCO! (SENSAÇÕES VISCERAIS).

Acho que estou obsessiva. Não é possível. De novo não! Essa saudade doentia está me deixando insana. Preciso me tratar! Tomar remédios. Sei lá! Estou doente. Não consigo parar de pensar naquele olhar brilhante. Sorriso transparente. Calças jeans azul claro e camiseta branca. Aquela estampa tão forte. Tão sexy! Corte de cabelo “grego”, único nele. Nossa! Ímpetos de  agarrar aquele homem! Quase incontroláveis! Tento desviar os pensamentos, mas, volto a pensar nele. Penso na nossa cafeteria! Ele, com o seu usual café bem curto. Eu, no meu velho estilo “americano”, bem fraco! Sempre acompanhados por docinhos crocantes. Aquela rotina semanal, deliciosa. Todas as tardes de sextas feiras. Exatamente às dezessete horas. Fixo! Até meio neurótico. Nunca houve atrasos. O dono da cafeteria já sabia. Sempre havia um lugar especial reservado. Lotava demais. A moçada fazia ponto de encontro. Isso martela na minha cabeça direto! Foi lá que conheci Artur. Psicólogo, despojado e extrovertido que atiçou os meus sentidos! Tinha clínica bem perto dali. Dois quarteirões. Aproveitava os intervalos entre uma sessão e outra pra ir tomar o famoso café da casa. Normalmente estava sozinho, lendo algum livro ou texto. Na primeira vez em que o vi não sabia nada dele ainda. A sua figura me fascinou. Durante algumas semanas fiquei indo na cafeteria, até criar coragem de me aproximar. Numa dessas tardes, atrevida e curiosa, armei uma cena de improviso. Passando pela sua mesa, fiz que tropecei. Deixei cair quase que em cima dele a carteira que segurava. Ele, meio assustado com o imprevisto, abaixou-se e me entregou a carteira. Foi a primeira vez que me olhou! Pedi mil desculpas. “Sua expressão me intrigava e excitava”. Parecia um homem misterioso e cheio de sabedoria. No tropeção simulado, por azar ou não, machuquei o dedinho do pé direito. Artur convidou-me a sentar em sua mesa até melhorar a dor que a  torção causou. Doía mesmo! Sem graça pelo constrangimento inesperado, novamente me desculpei. Desta vez, de verdade!  Muito gentil, comentou que aquelas mesas eram muito próximas umas das outras, mesmo. Difícil não tropeçar.  “Que voz , meu Deus!” Começou um papo bem legal e informal. Meio brincando estendeu a mão “Artur a seu dispor”. Retribuindo o sorriso: “Milena, a desastrada!”. Caímos na risada. Nesse momento Artur me ofereceu um café. Ficamos uns trinta minutos sentados naquele cantinho conversando sobre a força do inconsciente. Tema do livro que ele estava lendo.”Os melhores trinta minutos de minha vida”! Fiquei ouvindo-o como se ele fosse um Deus. Falou que era psicoterapeuta. Que trabalhava na área clínica. “Evitava falar muito de sua profissão”. Discreto e sutil. Fiquei ainda mais atraída por aquele homem. Percebi em nossa conversa como a mente humana o intrigava. De repente, Artur olhou no relógio e disse estar em sua hora. Tinha que trabalhar! Devo ter expressado frustração. Ele se levantou e entregou seu telefone, caso precisasse. Deu-me um sorriso e um beijinho na face. Saiu rapidamente. Fiquei tão feliz. Eu estava carente demais! Pouco depois voltei pra casa. Não dormi naquela noite. Artur me enfeitiçou. Não me lembro ter vivido isso antes. Nem via a hora de amanhecer para ver se aquela excitação melhorava. Só pensava que precisava rever aquele homem. Nunca em meus trinta e oito anos de idade tinha tido sensação semelhante. Deliciosamente adolescente! Ter conversado com ele tinha significado muito pra mim. “Ampliou minha consciência e olhar para o mundo”. Pulei da cama bem cedo e fui direto tomar uma ducha quentinha. Espiei pela janela e vislumbrei um lindo nascer de sol que me estimulou a idealizar um sonho maluco.  “Queria aquele homem!”Nem me perguntei se ele teria sentido o mesmo. Estava numa situação emocional muito egocêntrica. Só queria saber de mim. Pensei muito. Resolvi segurar a ansiedade e dar uma de difícil. “Sei que os homens preferem mulheres difíceis”! Decidi esperar até a próxima sexta, naquele mesmo café. Desta vez já poderia conversar direto com ele! Sem nenhum truque. A semana passou tão lentamente que quase enfartei. Na sexta feira, aproveitando a tarde amena, coloquei o meu vestido amarelo florido. Sexy! Chamava a atenção dos olhares masculinos. Cheguei no horário de sempre. Perscrutei o ambiente. Lá estava o meu rei, na mesinha especial de sempre. Fui direto à sua mesa. Como se já tivesse direitos adquiridos sobre ele. “Assim me perdi em Artur”! Fui me apaixonando e fantasiando o mundo. Ele falava de coisas e ideias que me extasiavam. Além da química, desenvolvi uma profunda admiração por ele. Era o homem maduro dos meus sonhos! Nunca falou de sentimentos. Não gostava de falar de sua vida particular. Eu não me importava com isso. Te-lo próximo já me fazia sentir realizada. Suas conversas eram intrigantes. Os meus pensamentos pecaminosos! Esta mistura de sensações foram alimentadas por mim o tempo todo. O motivo principal de eu me interessar pelo psiquismo e as atitudes humanas. Nossos encontros duraram maravilhosos cinco meses. Eu não aguentava maios disfarçar enormes sentimentos que Artur despertava em mim. Estava doida de paixão. Resolvi arriscar tudo. Era uma sexta feira cinza. Coração pulando no peito. Desenfreado. Mãos geladas. Olho no olho! Sabotei o medo de rejeição. Falei dos meu desejos. Da atração intensa que sentia por ele. Das fantasias e sonhos. “Parecia uma sessão de terapia”! Eu falava. Ele ouvia. Silenciosamente. Sem julgar. Acolhedor! Chorei. Chorei muito. Num repente ele levantou-se, pegou minha mão, delicadamente, e fomos caminhar na orla da praia, pertinho dali. O vento estava prometendo chuva próxima. Faíscas no céu. O mar com ondas violentas. Intensas! Paramos por um momento. Artur me abraçou. Abraçou tão forte que até prendeu a minha respiração. Sensação ambivalente. Morte e vida! Águas perigosas começaram a cair do céu. Gelada! “Naquele dia, estranhamente ele estava vestido com a mesma roupa de quando o conheci”. O seu jeans azul foi ficando grudado em meu vestido amarelo. Era tanta água! Encharcados. Mal podíamos caminhar. A tempestade pegou a gente em cheio. Não sobrou nada. ACABAMOS ALI!