FIM DO MUNDO! (DELÍRIO).

Sensação de bola de fogo baixando sobre a terra. Sol ardente. Queimava. Queimava muito! Elise não aguentava mais! Calor intenso vindo por todos os lados. Caminhava no deserto. Areias brancas e finas. Tão brancas. O reflexo do sol sobre elas turvava a visão. Temia que não desse tempo de chegar ao seu destino, embora não tivesse clareza sobre qual seria esse destino. Sabia que tinha uma missão a cumprir, mas, no entanto, também não tinha clareza sobre ela! De uma coisa tinha certeza: seria muito importante, vital, para sua evolução como ser humano. “Cumprir a missão”. Só teria consciência no fim do caminho! Confusa e culpada, sentia que não organizara prioridades essenciais. “Não podia ter negligenciado assim, meu Deus”! Agora – não tinha saída – correria o risco. Foi então que, pausadamente, observou ao redor. Assustada, percebeu que não havia nem um sinal de vida. “Nem uma formiga, que fosse”! Assustou-se! O sol cruel não perdoava. Cabeça fervendo (dentro e fora), apesar do chapéu. Medo acentuado aumentando. Ninguém para lhe dar a mão. Num impulso de vida, mesmo sem norte, acelera os passos tentando chegar em algum lugar onde se sinta mais segura. Bolhas ameaçadoras estourando nos pés. Dor beirando o insuportável! Garganta seca. Sede desesperada. Língua grudada na boca. Sensação de estar colada. Respiração curta e acelerada. Pensamentos confusos, enlouquecedores. Visões de aranhas imensas voando em sua direção; outras vezes, borboletas transformando-se em monstros carnívoros querendo atacá-la. Seu racional reagiu na tentativa de sobrevivência, recuperando parcialmente a lucidez, como último recurso.  Organizou os pensamentos! Tremendo esforço tentando sair daquela situação suicida. Essa breve recuperação não durou muito. Apenas instantes! Quadro mental caótico voltou. Visão cada vez mais embaçada. Sombras e vultos! Num milésimo de segundo pensou que as visões pudessem ser Anjos Salvadores. “Anjos e aranhas voadoras”! Simultaneamente. Duvidou de sua sanidade. Ambivalência total! Pernas muito bambas, mal conseguia ficar em pé. Sensação de desmaio. E o sol lá! Causticante, impiedoso, persistindo. Ignorava seu sofrimento! Já quase sem visão alguma, fecha os olhos, pisca bem forte, tentando melhorar a cegueira que sente se aproximar. Depois de repetir esse exercício, algumas vezes, como num milagre, consegue vislumbrar bem distante, lá no fim das dunas, vultos humanos se movimentando. Instantaneamente se revigora. Quis acreditar naquele vislumbre. “Sinal de vida se aproximando”! Força absurda emerge das entranhas. Acelera os passos naquela direção. Talvez tenha encontrado a saída! Nem sente mais a dor insuportável nos pés, tamanha a excitação. Começou salivar vida! Apressou-se. Passos acelerados. De repente se viu correndo. Correndo atrás da salvação! No entanto, foi percebendo alguma coisa estranha no ar. Por mais que corresse não sentia que se aproximava dos vultos avistados. Pior ainda, sensação que não tinha saído do mesmo lugar. Pensa em seu desespero: cadê as pessoas? Esfrega os olhos, agoniada.  Impotência esmorece de vez o  seu corpo. Pernas cambaleiam. Cai na areia escaldante como um saco de areia. Semiconsciente. Tem a sensação que uma nuvem enorme e  fervente está para cair em sua cabeça. Conforme essa nuvem se aproxima, ela consegue vislumbrar uma fumaça lilás e negra formando a frase  “FIM DO MUNDO!”. ( ELISE ACORDOU).

NÃO ERA HORA DE PARTIR! (ESPERANÇA).

Todas as manhãs a mesma rotina. Pontualmente, sete horas e trinta minutos, lá estava eu passando pela  praça da Avenida Joaquina. Arborizada, florida, linda!  Alguns ipês amarelos também alegravam o caminho. Nos dias ensolarados havia mais encanto ainda. Presente dourado  oferecido pela  natureza ! Essa alameda ficava bem pertinho da biblioteca onde eu trabalhava como bibliotecário. Assim que me formei, conquistei esse emprego. Foi festa. Grande sonho daquele momento de vida! Sentia tanto prazer no trabalho que nem percebia o tempo passar. Adorava ler sobre plantas e suas diversidades e todos os temas ligados à agricultura. Sempre buscava  novidades sobre esses assuntos. Ali havia grandes obras. Sentia-me afortunado. Um verdadeiro privilegio. Assim que surgia um tempinho, aproveitava e ia correndo procurar lançamentos interessantes. Num desses momentos, folheando um livro  relacionado à diversidade da “Floresta Amazônica”,  considerada a maior biodiversidade do planeta. Muito absorto e surpreso com a citação das milhares de espécies de plantas, mamíferos, anfíbios, pássaros e peixes. Distraído,  folheando as páginas, ouvi uma  meiga voz, dirigindo-se a mim. Desfoquei minha atenção! Levantei a cabeça e avistei uma figura iluminada. Indagou- me sobre referências recentes do tema que eu estava folheando. Esboçando um sorriso pela coincidência, entreguei-lhe o livro. Era uma tarde de quinta feira. Primavera! Sol ameno invadia as janelas da biblioteca.  Foi assim que conheci “Esperança”! Estudante de agronomia. Mais ou menos vinte e cinco anos de idade. Introspectiva. Rosto sério. Cara de intelectual. Num cenho acentuado, as sobrancelhas moldavam um par de olhos extremamente expressivos e sonhadores. Seus olhos, ainda que doces, escondiam um jeito rígido de ser. Não se encaixavam naquele rosto de expressão tão séria. Hoje, passado quatro meses, entendo diferente aquela expressão rígida! Por trás daquela rigidez  e introspecção, se escondia uma menina insegura e sonhadora. Era sua defesa! Talvez tenha tido uma educação severa. Quem sabe! Esperança era linda. Cabelos longos e cacheados, de um castanho brilhante. Tinha o hábito de jogá-lo para trás com as mãos, enquanto eu puxava conversa com ela. Era um charme! Começou a frequentar a biblioteca. com assiduidade. Adorava o momento em que ela chegava. Eu fantasiando cenas incríveis entre nós. Ela nunca baixou a guarda. Inacessível! Acho que esse fato me excitava ainda mais. Quantos sonhos noturnos invadidos por Esperança! Fiquei viciado em aguardar sua chegada todas as quintas feiras, à tarde. Parecia que ela e os ipês entravam juntos. Tanta luminosidade. Tamanha a energia,  colorindo minhas emoções! Menina mulher  emanando perfume agridoce, aromas que mexiam em meus desejos inconfessos. Essa contradição entre seu olhar e atitude tornou-se um mistério envolvente. Apaixonei-me, perdidamente, por aquela menina. Até meio obsessivo. Já não era normal pensar nela do jeito que eu pensava.  Vinte e quatro horas por dia. “Eu era Esperança”. Brigava comigo mesmo com raiva daquela dependência emocional que controlava os meus sentidos, sem receber o menor retorno de Esperança. “Quintas feiras virou  paranoia”! Acordava feliz. Tomava um banho cheiroso. Escolhia uma roupa que encaixasse com o colorido daquele dia. Treinava expressões sedutoras frente ao espelho, para conquistar Esperança.  Queria aquela menina para mim! Assim, o tempo foi passando. Eu sonhando como um adolescente. Até que numa quinta feira quente, início de verão, Esperança não chegou. Gelei! Fiquei angustiado! Ansioso. Esperei-a em todas as  quintas seguintes. Qual nada! Esperança sumiu. Sem deixar  rastros. Sofri a perda de uma grande paixão. Pensei em  morrer. Saudades de seu olhar triste e sonhador. Foi cruel ter  sonho destruído. Dia destes, num repente, enquanto trabalhava, senti seu cheiro passeando por lá. Meu coração disparou. Corri como um doido até o cantinho em que ela  gostava de ler. Decepção inconsolável. Até duvidei de mim. Será que enlouqueci? Seria fruto de minha imaginação? Não havia nem sombra dela. Só que sentia o aroma agridoce emanando daquele canto.  Sei lá. Ultimamente a saudade anda me intimando:- CORRE ATRÁS DA ESPERANÇA SENÃO TE MATO!

QUAL É A SUA, CARA? (CÉREBRO).

Nunca mais vou deixar de consultar o “grande comandante”. Ele sabe das coisas. Todas as vezes que o ignorei foi um desastre. Não foi culpa minha! Não tinha ideia de sua força. Sempre fui desequilibrada mesmo! Parecia um animal, agia só através dos instintos. Simplesmente não conseguia reconhecer sequelas desastrosas de meus atos. Assim fui caminhando pela vida. Inconscientemente. Errei muito! Confusão emocional é o que mais me acometia. (Raiva mesclada com impotência). Sentia-me como numa gangorra subindo e descendo. Dois lados opostos: Potência e Impotência! Na impotência, a sensação era como se eu fosse uma sombra de mim mesma. Um fantoche! Sem forças pra tomar um simples banho ou alguma atitude saudável. Era como se eu estivesse morrendo. A vida não fazia sentido. Remédios psiquiátricos? Até tentei! Depois de algum tempo faziam lá seus efeitos, limitados. A longo prazo sabia que sequelas inevitáveis chegariam. (Falta de libido. Apatia. Dores musculares). Tinha muito medo de prejudicar ainda mais minha saúde tomando esse tipo de medicamento. (Escolhi interromper esse tratamento em pouco tempo). Já, na potência, o sentimento preponderante era a raiva. Invadia os meus sentidos, desnorteando ou bloqueando a sensatez. Horrível sensação! Não tinha lucidez psíquica pra identificar esse sentimento em mim. Sabia que algo estava errado, porém não reconhecia a base emocional que me impelia a uma agressividade desmedida. Nenhum auto controle sobre a situação. Minha saúde física gritava por socorro. Vários sintomas orgânicos foram emergindo. Fiquei até hipertensa. “Não queria tomar remédios para pressão alta, e, ao mesmo tempo, tinha  medo de enfartar sempre que sentia pressão no peito. A luz vermelha acendeu mais intensamente no último domingo de maio do ano passado. Crise brava me acometeu! Cinco horas da tarde. Motivo banal. A cafeteira quebrou bem quando eu estava meio deprimida e fui fazer um café. Comecei a passar mal. Parecia que ela era culpada em me frustrar. Arrebentei-a contra a parede. Perdi o auto controle! Surgiu uma raiva absurda. Raiva do mundo. Raiva de mim! Vontade de quebrar tudo que estivesse em minha frente. No coração, angústia incrível. Sensações assustadoras invadindo todo o meu ser, num crescer. Não me reconhecia. Poderosa força cegou-me. Explodia ou Implodia! Morreria assim? Conflito. Instintivamente, num gesto de sobrevivência, abri a porta, e fui andar na praia. “Talvez o mar com sua magia me acalmasse”. Assim que peguei ritmo no caminhar, a fumaça que embaçava os meus pensamentos começaram a se desfazer, lentamente. Ideias mais claras se aproximaram. Num repente, sensação de vida! Necessidade intensa de me livrar das energias agressivas que se apoderavam de mim. Entender de onde vinha aquela loucura toda. Porque? Qual seu significado? Mais calma e oxigenada, tentei conversar com meu cérebro. Estava difícil estabelecer esse diálogo, até então. Somente o emocional e o instinto andavam me comandando.. Num “insight “, enquanto acelerava os passos e um vento energético acariciava a minha face, pele, cabelos, foi nascendo uma sensação de leveza que envolveu todo o meu ser. (Naquele instante senti que era possível ser feliz). Voltei para casa. Revigorada e determinada. Foi o momento transformador dessa crise! Procurei uma excelente psicóloga. A terapia está ajudando a colorir a minha vida. Não vivo mais em preto e branco! Sabiamente ela está conduzindo a integração entre o que sinto e o que penso. Além de trabalhar os conteúdos emocionais que desencadeiam as crises insanas. A descoberta de minha força interna e a forma de administrar a impotência estão alterando a minha maneira de enxergar o mundo. Fiquei surpresa com o jeito que aprendi de lidar com a raiva. (Usar a razão antes da explosão). Faz a diferença!  É um exercício difícil, impedir que impulsos me dominem. (Questionar o comandante e respirar)! Já entendi que identificando o sentimento presente e a forma como o expressamos, pode ser o início da melhora. Essa consciência fortalece para o próximo passo que é conseguir diagnosticar o motivo da raiva! Entendi que tentar desviar o pensamento para um outro foco, desenvolve o auto controle. Dar um tempo antes de expressar! (Contar até dez lentamente pode ajudar). Evitar reações abruptas, irracionais. Outra forma é nos afastar do ambiente em que estamos, “dar uma volta”. Ponderar! Com a expansão da consciência a visão clareia. Até conseguimos avaliar a parte positiva do quadro estressante. Toda situação tem o aspecto positivo e o negativo. (Fixar no positivo). Vale super a pena. Aprendo também que a raiva bem dosada pode ser construtiva. É um sentimento legítimo. (Um diálogo com respeito e verbalização transparente, pode ser edificante). Além do mais alivia o peito sem destruir sentimentos e energias. Para se atingir esse equilíbrio é necessário fortalecer a mente e integrá-la aos sentimentos, cada vez mais. Tenho vivido sensações incríveis nessas experiências! Fato interessante:- Noutro dia, sonhei estar muito enraivecida. Meu cérebro brigava com uma raiva incontrolável, A raiva era bem escura, quase preta. Disforme e forte. O cérebro lilás tentava iluminá-la e diminuir sua força. Ela resistia muito. O cérebro não desistia! Essa aproximação forçada foi diminuindo a resistência da raiva. Num ímpeto inesperado, já enfraquecida, com medo de morrer, a raiva perguntou ao cérebro:- QUAL É A SUA , CARA? ACORDEI RINDO!

BATIDAS SELVAGENS! ( SUSTO REPENTINO).

Frio intenso nesse fim de tarde chuvosa. Inverno rigoroso. Encapotada até os pés, ainda assim o queixo treme. Vou até a sala de estar e acendo a lareira. Percebo que as lenhas estão acabando. Só dá para mais uma vez. Penso em ligar e pedir mais um bom tanto delas. Prevenir é sempre bom! Que gostoso; já estou sentindo o calorzinho invadindo o ambiente. Devagar vai ficando bem aquecido. Até esqueço do frio. Sensação deliciosa invade o meu corpo. “Sensação de útero materno”! Vou até a cozinha buscar um chá de erva cidreira. Meu favorito! Pego a xícara de porcelana vermelha que foi de minha avó. Tenho um carinho especial por ela. O chá fica mais gostoso. Adoro essa xícara! Volto à sala novamente. Retiro de cima da mesinha redonda de canto um livro e alguns artigos que estou começando a ler sobre “Auto conhecimento.” Presentão de meu amigo João. Ele adora psicologia! Folheio um pouco. Leio alguns trechos interessantes. (Costume antigo). A sinopse do livro resume a viagem fascinante ao nosso mundo interno. Continente muito pouco explorado pela maioria dos mortais! “A gente vive e morre sem se auto conhecer”! Um dos trechos descreve o conceito de Carl Gustav Jung, falando sobre o processo de individuação. Tornar-se um Ser integral. “Autônomo e independente”. Buscar o equilíbrio entre corpo, mente, alma, emoções e relações. (Precisamos manter essas áreas em equilíbrio para estarmos bem na vida). Começo a ler o primeiro capítulo. O tema vai se aprofundando um pouco mais, falando sobre dores do passado, relação com a mãe, o pai e a criança interior. Encarar as feridas para curar-se! Descobrir a máscara que foi construída para  proteger essas feridas que acabam encobrindo o ser. Aprofunda também sobre conteúdos psíquicos não expressos! “Soltar as feras”! Vou saboreando intensamente essa leitura. Pego um almofadão pra ajeitar melhor a coluna. Tomo um gole do chá, que nessa altura já esfriou. Infelizmente. Adoro bem quente! Leio outro trecho que aborda a importância do conhecimento de si mesmo. “Apropriar-se de suas qualidades, limitações, desejos, ambições. Facilita o autocontrole. Desenvolve objetivos de uma forma mais integrada”. O texto relaciona também a importância da prática da meditação como caminho da auto  realização. Essa prática ajuda  no processo de identificar o que precisa ser mudado e, a partir de nossa transformação, obter uma vida mais funcional e plena. Enfatiza que a ausência do auto conhecimento dificulta o nosso eixo, alterando o sistema energético, podendo fazer com que dependamos excessivamente da opinião do outro. Desenvolver auto cobrança exagerada e muita  crueldade consigo mesmo pode ser outra das sequelas. “Fragiliza a pessoa”. Fui me envolvendo com a leitura e não percebi o tempo passar. Nem o sono chegar. Cochilei mesmo. Também nessa sala quentinha! Acordei do cochilo com os olhos ainda sonolentos. Parecia que tinham areia. Percebi o livro entreaberto, caído no tapete. Branquinha, “parece uma bola de neve”, amada filhinha peluda, com uma das patas em cima do meu braço querendo me acordar. Sufocando-me com seus beijos. Que felicidade ter a minha Branquinha! Retribuo intensamente os carinhos. Afago muito seus pelos macios enquanto a encho de beijocas. Vou até a cozinha buscar chá quente. Enquanto isso, o telefone toca insistentemente. Olho para o telefone. Resolvi não atender. Era o Júlio César. Sempre inadequado. Caramba. Ele consegue! Estou me sentindo tão bem aqui. Julinho (assim que o chamo), detesta livros! É um cara legal, mas, pessimamente formado. O que me atraiu nele é a espontaneidade e o seu jeito natural de ser. Não tem o menor interesse em entender como funciona o psiquismo. Tento trabalhar nossas diferenças o tempo todo! Não sei se vai dar! Tenho um interesse enorme em conhecer minhas profundezas e buscar equilíbrio entre a mente e o o corpo. (Júlio Cesar é meio ignorante, só gosta de ouvir notícias na televisão. Nada intelectual)! Para mim, leitura é vitamina! Enquanto divago sobre isso, percebo, fixados em mim, dois olhinhos brilhantes e curiosos. Não aguento! Rolo no tapete com a bolinha de neve até a gente se cansar. Esgotada, ela adormece em cima da almofada como um anjo. Sento-me na posição de eixo. Respiro fundo. Tento contatar  sentimentos presentes. Conecto. Relaxo! Começo a meditar e identificar sensações. Entregue, numa sintonia absoluta com o meu eu; nesse momento sou interrompida com fortes batidas na porta (campainha quebrada).  Branquinha acordou assustadíssima. Latiu muito. Peguei minha linda no colo. Senti seu coração disparado. Apertei-a contra o meu peito, com muito carinho. Fui pra bem perto da porta, reconhecendo aquela batida, pergunto meio brincando : QUEM SERIA O SELVAGEM? MUITOS RISOS VINDOS DE FORA!

QUERO PAZ! (CONTURBAÇÃO).

Não me venha com suas lamúrias disfarçadas escurecer o meu olhar. Você representa nuvem que antecede tempestade. Mal se aproxima a paz vai embora. Um inferno! Sua história de abandono e rejeição justifica atitudes destrutivas que você sempre expressou diante da vida. Você nunca cuidou disso! Tentei de todas as formas lhe ajudar. Até indiquei terapia. Muitas vezes parecia um louco. Não deu! Seu vampirismo sugava minha energia. Da última vez tinha jurado que não lhe daria mais nenhuma chance. “Insanidade mascarada de amor”! Rasguei sua máscara. Deparei com muita raiva e egoísmo. Impressionante! Assustou minha alma serena. Decidida, exclui você de minha vida. Não foi nada fácil! Sentimento forte, mesclado de mágoa e amor, sem norte, me afligindo por longo período. Num primeiro momento parecia que meu peito iria explodir.  Sorrateiro, esse sentimento enganou meu consciente. Escondeu-se num ponto desconhecido de meu ser. Queria se proteger da dor. Não podia mais se expor. Desestabilizou minha energia orgânica completamente. Adoeci. Chorei. Chorei muito. Lavei a alma! Demorei um bom tempo pra recuperar a saúde mental e meu equilíbrio. Enfim, resgatei o amor próprio! Meu coração menino recomeçou a sonhar novamente. Liberto e maroto, não quis mais saber do que sofreu. Queria viver! Agora, no meio desse baile animado da vida, onde ritmos se alternam entre samba, valsa, jazz, você reaparece em meu céu. Nova máscara. Novas promessas. Brotou uma sensação ambivalente “amor e medo”! Nuvens ameaçadoras ressurgiram! Só de imaginar tempestades se reaproximando, o sangue gelou! Frio na barriga. Fiquei esperta. Não me permiti errar novamente. Prestei mais atenção em meu coração. Não dispensei o cérebro. Desta vez você me pegou mais integrada. Suas falas e xavecos,  enfraqueceram. Não me seduzem mais. Estranhei você! Não o quero mais. Meu sistema reptiliano repetiu forte: NÃO!NÃO! NÃO!