Assim que se conheceram, Eleonora e Heitor viviam grudados. Todos comentavam que eram almas gêmeas. O namoro era uma festa! Ela de uma meiguice sem tamanho. Ele representava o papel do bom menino. Solícito, amável e prestativo no social. A mudança surgiu depois de algum tempo de casados. Heitor se transformou num homem grosseiro e agressivo. Desta forma passou a projetar sua intensa neurose camuflada. Queria ser o soberano. O admirado! Ocupar todo o espaço. Suas palavras e decisões não podiam ser contestadas. Não respeitava Eleonora, sendo constantes suas agressões emocionais. (Agressão domestica). Heitor projetava todas os sentimentos ruins contidos, decorrentes da péssima relação que teve com a mãe. (Rejeições e frustrações). Quanto mais Eleonora expressasse compreensão e paciência, mais grosseiro Heitor ficava. Um inferno! Isso o fortalecia. (Muitas raivas contidas). Ele nunca tocou nesse assunto com a mãe. (Pacote fechado dentro do peito). Mulher rígida e esperta. Um gelo! Expressão felina. Fazia dele o que bem queria. Não enxergou o mal que causou ao filho. Incapaz de fazer um carinho. Só o estudo foi o projeto de vida que reservou para ele. Ficou distante de Heitor durante anos, isolando-o num internato de padres. Ele chorou muito. Nunca a perdoou! Sofreu em silêncio. Garoto sensível e amoroso, desenvolveu um padrão de caráter rígido. Regredido emocionalmente. Intelectualmente diferenciado! Todos o admiravam. Eleonora nunca imaginou que esse seria o grande problema em seu casamento. Também, como podia uma menina moça como ela pressupor consequências de todo esse pacote em sua vida? Eles se davam tão bem! Na cabeça dela só rolavam fantasias e sonhos. Vivia intensamente a mágica paixão por aqueles olhos verdes. Era como um Deus para ela. Encarar o lado oculto do comportamento doentio de Heitor foi sofrido demais. Sentiu-se traída! Ele não era a pessoa com quem havia se casado. “Injusto a vida fazer isso com uma sonhadora!¨. Fazia tudo que uma mulher podia fazer para tentar ser feliz com ele. Deletou dívidas emocionais acumuladas. Longas dívidas! Perdoava sempre! De vez em quando pensava que as coisas podiam melhorar. Ela acreditava que ele não era aquele agressor barato. Naquele fim de ano ela estava feliz. Há duas semanas Heitor estava menos desequilibrado! Não tinham brigado. Até pensou em preparar um natal em grande estilo. Sentia-se leve. No entanto a realidade traiu novamente Eleonora. Na manhã de quinze de dezembro ela acordou bem cedo. Cantando. Preparou o desjejum costumeiro. Banana assada com aveia, queijo branco e um café bem fraco. Até torradas integrais! Do jeitinho que Heitor gostava. Saudável e natural. Tudo pronto. Lá fora, Eleonora teria um dia cheio de trabalho. Correria total. Sem tempo pra nada. Mesmo assim priorizou a relação. Dez minutos junto dele, na manhã fresca, era um presente para ela. Eleonora foi até o escritório e chamou-o com carinho. Chocou-se com a reação estúpida e agressiva de Heitor. A leveza e o bom humor que Eleonora estava sentindo, até então, foram substituídas por uma carga de raiva intensa. Heitor falou rispidamente pra ela calar a boca e não atrapalhar a sua leitura. Essa reação despertou demônios internos nela. “Ofereceu flores e recebeu espinhos!¨. Muito irada, pensou em partir para o revide. Aquela atitude desequilibrada repentina de Heitor, transportou Eleonora a um lugar em que ela tinha jurado não mais voltar! Violência emocional, não iria mais admitir. Eleonora sentia que estava traindo sua essência e dignidade! A resposta de Heitor foi como um raio caindo sobre a sua cabeça. E diante da insistência dela querendo contornar a situação, Heitor ainda completou:- “Para de encher o saco! Vai tomando o seu café!¨. Eleonora sentiu um aperto no peito. Pensou que estava enfartando. Seu corpo ficou todo dolorido dando sinais de que não admitiria mais que o tratassem assim. Como se ela tivesse levado uma surra! Estressada, cabeça confusa, pensou em dar um basta no casamento naquele mesmo instante. Foi tudo muito rápido. Num milésimo de segundo implodiram emoções absurdamente contidas. Ela se estranhou. De-repente um branco mental em Eleonora. “Foi como uma pausa entre o sentir e o pensar”. Respirou fundo. Bem fundo! Lentamente foram surgindo em sua mente, cenas de historias tocantes vividas com Heitor. Recuperou sensações. “Parecia auto sabotagem!¨. Como num filme! Frio na barriga. Conflito! Vingança ou perdão? Sangue pulsando. Eleonora era uma irremediável apaixonada por Heitor. “Atração de pele é um animal indomável”. Só em pensar nos braços quentes e peludos dele, envolvendo-a por inteiro, suas pernas bambeavam. Atiçavam desejos profanos. Primitivos. Gangorra emocional prevalecendo. Ambivalência. Queria Heitor. Não queria Heitor! Dividida. Incapaz de se libertar. NOVAMENTE OS SENTIDOS IMPERARAM. A GOTA AINDA NÃO EXTRAPOLOU!
(Eleonora apresenta um quadro de dependência emocional. Identidade fragilizada. Auto estima e auto conhecimento poderão fortalece-la e ajudá-la. Psicoterapia é bem indicada).