BEIJO DE CRAVO E CANELA! ( SABORES E SENTIDOS).

Tive bons amores. Vários tipos. De várias maneiras. Amores de paz. Amores infernais. Amores doces. Amores amargos. Amores platônicos. Até que encontrei Bernardo! Pra mim significava  a soma de todos eles. Então o escolhi! Não foi pelo seu olhar misterioso. Tampouco pela voz envolvente. Nem pela mãos impressionantemente fortes. Elas falavam em seus gestos. Transmitiam tanta segurança! Engraçado, é como se elas mobilizassem os meus sentidos. Tinham uma energia única! Também não foi por causa delas que eu o escolhi. Nem pela sexualidade sempre fervente que me levava às nuvens. Nem seus ardentes beijos cheios de desejo. Não, não foi! O que me prendeu e enfeitiçou e fez com que eu o eternizasse dentro de mim, foi a estrutura de ser humano que imaginei que ele fosse. Cada encontro, uma descoberta. Cada descoberta era como se fosse uma peça a mais para completar o quebra cabeça em meu coração. “O homem ideal”! Parece loucura mas tinha uma certa lógica. Depois de ter sofrido decepções, achei ser essa uma forma de não errar em uma nova escolha. Bernardo era a síntese dos meus anseios. Um ser humano equilibrado: razão e emoção. Coração quente. Pensamentos organizados. Simpatia contagiante. Sabia colocar nas palavras a emoção correspondente. Uma delícia de papo. Nosso primeiro encontro foi inesquecível para mim. Aconteceu na praça da igreja de onde eu morava. Lembro, era uma noite de lua cheia. A  claridade da lua enfeitava toda a praça. Eu e ele sentados num banco bem embaixo de um  pé de ipê. O luar estava tão intenso que dava pra ver as flores do ipê dourado, reluzindo  como se fosse um dia de sol. Foi ali que aconteceu o nosso primeiro beijo. Gosto de canela e cravo. Quanta saudade daquela noite! Naquele momento, misturados aos sentidos, os aromas do delicioso doce de abóbora de minha avó. Ela fazia sempre que eu  ia em sua casa, quando criança. Adorava aquele gostinho de cravo e canela que ela colocava nos doces e compotas de frutas. Ao sentir o beijo, me arrepiei toda. Prazeres misturados. Sensações deliciosas e muito tesão! Mexeu com minhas entranhas. De todos os beijos que experimentei, aquele foi o mais marcante. Inesquecível! Suas mãos e o seu beijo me colocaram no cativeiro da paixão. Mesmo assim, escravizada, eu não  teria escolhido Bernardo se ele não tivesse preenchido a imagem do quebra cabeça do homem ideal. Mas as peças se encaixaram. Uma a uma. Ficou perfeito. Em meu coração já havia acabado o encaixe. “Bernardo”! Não demorou muito fomos morar bem no pé da serra. Casa gostosa e simples. Muita natureza e vida. Esquilos apareciam por lá. Gatos e cachorros numa irmandade exótica, brincando pelo quintal, junto com galinhas cacarejando por toda parte. Pássaros de toda espécie, com seus cantos, nos acordavam todas as manhãs, sinalizando o nascer do dia. A gente só saia de lá para dar aulas no colégio, num bairro próximo. Fins de semana eram o momento de receber amigos especiais com comidinha caseira. Fogão à lenha.  Minha única divergência com Bernardo, era na escolha do prato. Sou vegetariana. Ele não. A gente sempre acabava num bom consenso. Não tivemos filhos, por escolha. Talvez um dia, quem sabe! Se não desse pra  ter um filho da barriga, tudo bem. Adotaria! Afinal, tantas crianças precisam de um lar. Amor não ia faltar! Assim a vida transcorreu por sete anos. Os beijos variando em muitos sabores diferentes. Incrível sensação de estar viva. Afrodisíacos! Mas, não sei bem o que houve, depois de um certo tempo, os beijos foram se rareando e ficando sem sabor. Fui me assustando. Era ele ou eu? As conversas ficando cansativas. Cinza! Faltava tesão pra continuar. O paraíso no meio do mato foi se entristecendo. Até então eu nunca tinha pensado em viver de outra forma.  Aquele tinha sido o mapa traçado pelo meu coração. Como não me dera conta da lenta intoxicação emocional que foi tomando conta de nossa relação? Bernardo ficava sempre na dele. Evitava discussão. Pra ele tudo estava bom. E agora? Ficamos meio perdidos. Eu não conseguia viver sem sabor. A vida muitas vezes faz conspirações para mobilizar sentimentos adoecidos. Num feriado da independência tive que levar meus alunos no desfile oficial da escola. Eu iria sozinha. Naquele dia, antes de sair de casa, beijei muito as minhas cinco cachorrinhas. Elas me passavam uma energia incrível. Na verdade eu as chamava de filhas. Com elas os sabores não mudaram! Dei um tchau chocho para o Bernardo e fui ao encontro, com os meus alunos. Era um dia quente e nublado. Eu rezando pra não chover. Lá no desfile apareceu um rapaz alto. Boa aparência. Não tirava o olho de mim. Há tanto tempo eu não prestava atenção pra isso! Já tinha até esquecido dessa sensação. Aquela situação me deixou constrangida. Envaidecida e sem jeito. Afinal, eu era uma mulher casada. Não tinha perfil de infiel. Sempre me preocupei com a minha reputação. Nunca gostei de galinhagem. Acho que por estar carente e confusa emocionalmente, de algum jeito, eu alimentei aquela sedução. Olhar insistente, o rapaz se aproximou. Num segundo, faiscou meu coração. Me senti adolescente novamente. Cheia de vida e com uma certa culpa apertando o peito. Mesmo assim, voltei pra casa feliz! Me sentindo bonita. Atraente. Até minhas cachorrinhas me estranharam. Os hormônios nos traem! Não sei como aquele rapaz sedutor  conseguiu o meu telefone. Foi ficando tão forte. Não resisti aos assédios. Cedi. Resolvi me aproximar  do Francisco. Aquela imagem de um homem carente e charmoso, não saiam de minha cabeça. Mexeu em minhas carências. Fiquei com ideia fixa no seu olhar. Me estranhei! Disfarçar de Bernardo foi ficando difícil. Acho que, por me sentir diferente, ele começou a se preocupar com a gente. Buscava me agradar nos detalhes. Comeu até comida vegetariana! Fiquei extremamente dividida. Fui perdendo a referência interna de meus sentimentos. Confusão e muita dor. Olhava Bernardo e sentia amor. Tesão, não! Olhava para o Francisco, sentia tesão. Amor não. Apenas preenchia as fantasias de uma mulher carente. Ele insistindo na sedução. Mostrando sempre o seu melhor lado. Idealizando a vida dele comigo. Era tão exagerado quanto o antigo Bernardo. Isso me envaidecia o ego. Também me assustava. Fiquei assim por alguns meses. Driblando os meus dois homens! Até me sentia poderosa. Não montei um quebra cabeças para o Francisco. Apenas ficou no platônico. Embora eu sentisse vontade de experimentar o novo, resisti. Era contra os meus princípios. Sou a chamada “certinha”! Herança de mãe! Comecei a somatizar toda aquela angústia. Usei o racional e resolvi  sair daquela droga em que me meti. Organizar a minha vida. Me sentia empobrecida emocionalmente. Entre dois amores. Sem nenhum de verdade. Não queria dessa forma. Busquei uma psicoterapia decente. Um profissional experiente. Descobri que estava na crise dos sete anos. Casamentos podem ser assim! Entendi que corria sérios riscos de perder construções insubstituíveis. Perder a luz que eu já conhecia. Entrar no escuro do desconhecido e caminhar até o mesmo ponto em que estava agora. Amores se constroem ao longo do tempo. Tempos ruins fazem parte da trajetória. Um bom marinheiro, em tempestades, “leva o barco devagar”. Compreendi que estava fugindo de mim mesma.  Fiz uma retrospectiva para encontrar o início da crise. Aprendi abrir o peito. Respirar. Sentir e expressar. Senti que entre eu e o Bernardo não cabia mais ninguém. Só muito amor! Nós éramos o suficiente um para o outro. Nenhum desconhecido preencheria, saudavelmente, esse espaço em minha relação com Bernardo. Eu teria que me encarar. Tinha um grande amor em jogo. Hoje sei que carente atrai carentes! A neurose se fixa nesse ponto e torna a pessoa imatura e sem bases sólidas na realidade. Os afetos e carinhos adormecidos durante esse período de crise estão sendo acordados. Assumi meus descuidos.  Bernardo os dele. Está sendo maravilhoso sentir novamente o sabor de cravo e canela. Francisco? Sou grata a ele. Possibilitou que eu reconhecesse a diferença entre o amor verdadeiro e a fantasia erótica. “QUASE ENTREI NUMA GELADA”!

3 comentários em “BEIJO DE CRAVO E CANELA! ( SABORES E SENTIDOS).”

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