O JARDINEIRO LOUCO! ( REEQUILÍBRIO DA RAZÃO).

Antonio é um homem de quarenta e dois anos de idade. Pode-se dizer que viveu apenas trinta e sete. Foi ai que enlouqueceu. Diziam que enlouqueceu por Amor! Homem extremamente sensível. Inteligente. Nasceu numa família simples e muito amorosa. Nunca faltou contato afetivo que nutrisse sua sensibilidade e sonhos, a não ser no período em que esteve internado na creche, quando muito criança. Sua história: Zé Damião, seu pai, jardineiro simples, nascido na roça. Por lá ficou  até o nascimento de Antonio quando decidiu morar na cidade grande. Tentar subir na vida. Ouviu dizer que na cidade seu salário triplicaria. Arriscaria trabalhar em jardinagem nos condomínios de luxo. Era um homem ignorante, mas muito, muito esperto! Tanto que aprendeu sozinho a criar lindos jardins. Casado com Maria das Graças, mulher semi analfabeta, porém de muita iniciativa. Desconhecia o que era preguiça.Tinha atitude diante da vida. Combinara com o marido que iria à cidade grande buscar emprego em casa de madame. Cozinheira de mão cheia, seria fácil arranjar uma colocação. Partiram cheios de sonhos e expectativas e um lindo bebê para criar. Lá as coisas não foram tão fáceis quanto pensaram. O salário era bem melhor mesmo. Quanto mais somado ao salário de Maria das Graças. Dava pra viver bem e ter novas expectativas. Só que o custo de vida era bem mais alto que o da roça. Batalharam juntos. Com dor no coração, Maria deixava Antonio o dia todo na creche. Sentia que criança pequena precisava era de mãe mesmo. Escola só na idade certa. Não quando se é um bebezinho. Mas ela não tinha saída. Só assim conseguiriam trabalhar. Tiveram muitos tombos. Muitas levantadas. Lá, perceberam a enorme distância entre os sonhos e a realidade! Apesar de tudo, não desistiram da luta. Por um bom tempo, tiveram que se acomodar em lugares extremamente simples, com piores condições das que haviam na roça. Mas sempre que o desânimo se aproximava eles pensavam que parte do sonho já tinha se realizado. Estavam na cidade grande! Isso já era bom demais. Estavam mais próximos de poder educar e formar o Antonio. Seria um doutor. Já tinham decidido. Daria muito orgulho ainda pra eles! Antonio foi um menino retraído e tímido. Tinha um comportamento introspectivo e meio calado, mas muito criativo. Conseguia ir bem nos estudos. Tinha uma certa dificuldade de se socializar. Com  sacrifício e muita economia, seus pais conseguiram que seu menino fizesse o curso superior. Antonio correspondeu em parte às expectativas da família. Não fez medicina como os pais queriam. Sem chances! Não tinha vocação. Nem tentou. Era um jovem sensível. Exageradamente sensível. Não gostava de ver sangue. Fragilizava fácil. Quase desmaiava. Imagine se fosse fazer medicina! Não quis de jeito nenhum. Formou-se em agronomia. Assim como o pai, gostava de plantas e de lidar com a terra. Logo que se formou, foi trabalhar numa  empresa média que vendia plantas, paisagismo e negócios correlatos. Depois de um tempo seu patrão ficou encantado com o sua  criatividade e ótimo desempenho. Não demorou muito foi nomeado gerente, com participação nos lucros da loja. Seus pais ficaram radiantes em ver o filho bem sucedido e ganhando um bom dinheiro. Sonho realizado! Suficiente para  eles não precisarem mais trabalhar. Resolveram  voltar para o interior. Antonio continuou na cidade grande trabalhando muito. Ficou conhecido como “Antonio das flores”! Falante e comunicativo em seu emprego. Lá ele se soltava. Adorava contar aos clientes aspectos científicos de cada espécie de planta ou flor quando surgisse interesse pelo assunto. Parecia que estava dando uma aula. Algumas vezes até se tornava um chato. Ficava tão empolgado que não parava de falar. Não se tocava! Sentia-se envaidecido quando se dava conta de seu desenvolvimento profissional e do reconhecimento das pessoas. Reforçava a sua auto-imagem. Os ventos estavam soprando a favor. Seu padrão propôs sociedade em troca do trabalho excelente que ele realizava na empresa. Antonio entraria com a responsabilidade de administrar a loja sozinho gerenciando também os quarenta funcionários que lá trabalhavam.  O patrão  com setenta e dois anos de idade, se afastaria. Estava cansado. Queria aproveitar essa fase da vida de uma nova forma. Talvez viajar e conhecer muitos lugares. Não ter horários rígidos. Antonio topou. Foi transformado num empresário,  com apenas vinte e oito anos de idade. Metade da empresa “Natureza Viva”! Sonho realizado! A loja tinha um grande movimento. Nesse contexto emocional sua auto-estima ficou lá em cima. Identidade reforçada. Não era um homem bonito. Charmoso sim! Até demais. Um misto de simplicidade e autenticidade que lembrava a transparência de uma criança. Cabelos castanhos e lisos com uma mecha insistindo em cair sobre o olho esquerdo. Olhar profundo, um tanto caído e de uma tristeza sutil. Talvez marcas do período da infância passada dentro de uma creche em período integral. Esse traço de tristeza era uma das marcas de seu charme. Quando seus pais voltaram para o interior, se viu sozinho na cidade grande. Antonio foi morar num apartamento pequeno mas muito confortável. Ficava bem próximo do seu emprego. Assim iria a pé para o trabalho. Nunca quis tirar carta de motorista. Combinou que iria visitar os pais uma vez por mês. Nesse meio tempo se apaixonou perdidamente por uma cliente da loja. Laura! Moça bonita e sensual. Extremamente extrovertida. Um tanto leviana e  mal falada nas redondezas. Gostava de atrair homens carentes. Tirava seus proveitos e os abandonava sem nenhum arrependimento. Era considerada uma mulher fatal, na linguagem popular. Coitado de quem caísse em suas garras! Antônio carente e meio ingênuo, caiu como um pato. Pobrezinho. Laura, esperta como ela só, não perdeu tempo. Jogou muito charme e conversa em cima de Antonio. O homem pirou. Perdeu o chão. Desatinos atrás de desatinos. Ela brincava com a fragilidade emocional dele. Saia com ele e com outros. Não tinha escrúpulos. Esse era o seu padrão de comportamento. Laura tinha também outros traços de caráter. Gostava de cuidar! Sabia ser carinhosa. Além disso, sabia fazer pratos deliciosos, assim como a mãe Antonio. Isso para ele era o máximo. Cada dia mais fascinado. Ficou uma coisa doentia. Obsessiva. Laura sabia alimentar isso nele.  Por outro lado o imprevisto aconteceu. Laura se surpreendeu apaixonada, também, pelo jeito simples e cristalino de Antonio. Era autêntico como uma criança. Laura dizia que ele era o menino dela. Felizes da vida  resolveram morar juntos. Seria uma experiência. Se desse certo, maravilha! Laura conseguiu ser parcialmente fiel por quase nove anos. Nesse tempo resolveu estudar culinária para aperfeiçoar seus dons. Queria trabalhar na área e ganhar o seu dinheiro. Considerando o caráter da moça, parece que tinha amadurecido durante o tempo que moraram juntos. Antonio respirava Laura! Ele se transformou num fantoche em suas mãos. Antonio nem lembrava de visitar os pais lá no interior; não queria desgrudar de seu amor. Ela muito voluntariosa. Antonio morria de medo de perdê-la. Fazia tudo que Laura queria. Parecia um robô! Se despersonalizou totalmente. Sentia-se feliz em viver daquele jeito com ela. Só que essa dependência de Antonio enfraqueceu ainda mais a ralação entre eles. Laura paulatinamente foi perdendo o interesse por ele. Começou a detestar seus exageros com ela. Evitava os seus carinhos, sempre com uma boa desculpa. Se para Antonio naquela altura do relacionamento tudo estava perfeito, para Laura foi ficando insuportável! Ela começou a sair sozinha nos fins de semana, dando sempre uma desculpa mentirosa. Estava no auge de seus trinta anos hormonais. Queria muito mais da vida! Já não sentia mais nada por Antonio. Nem gratidão pelos anos que conviveram e tudo que ele fez por ela.  Queria novos ares  para oxigenar o coração. Partiu! Silenciosamente. Apenas uma mensagem de voz implorando para ele nunca procurá-la. Um adeus frio e calculista. Sem a menor marca de carinho. Foi o pior fim de semana na vida de Antonio. Restou somente o perfume dela no lençol da cama! Antonio desnorteou-se. Pensou que fosse uma brincadeira malvada. Depois foi caindo a ficha. Não conseguia aceitar o abandono. Não conseguia admitir que se enganara tanto. Começou a entrar em diferentes estados emocionais. Desde a negação até a depressão. Com o passar dos dias alternava ciclos de compulsão e obsessão. Sozinho e sem amigos, estava perdendo a vontade de viver. Quem o conhecia comentava não ser possível uma mulher fazer esse estrago na vida de um homem. Só se ele estivesse doente! Antonio não queria se alimentar. Começou a se embriagar. Se negava a tomar remédios. Afastou-se do trabalho por absoluta falta de condições. O psiquiatra diagnosticou um quadro de confusão mental alternado com mania e depressão. Indicou afastamento do trabalho temporariamente até melhorar seu estado de saúde. Antonio, fragilizado, voltou para o interior para a casa dos pais. Lá teria acolhimento emocional. O doutor lhe disse que o quadro mental desencadeado por aquele stress era uma tendência hereditária. Tinha nascido com ele. Fazia parte de sua estrutura psíquica, por isso precisava de tratamento. Seu avô paterno tivera um quadro mental semelhante, por outros motivos. Antonio nunca mais viu Laura. Embora de início tivesse feito de tudo pra encontrá-la. Soube-se que ela estava com outro alguém. Foi morar longe dali. Antonio entrou na fase da NEGAÇÃO da realidade. Esperava que ela de repente voltasse ou ligasse. Assim passava os dias alienado, lá no interior. Não estava bem mesmo. Comportamento estranho. Expressão muitas vezes não coerente com a realidade. Seus pais preocupados e cuidando do único filho. Para preencher o tempo Antonio começou a trabalhar com jardins e flores lá no interior. Passados quase cinco anos nessa condição mental, algo de novo aconteceu. Começou a pintar. Não queria mais voltar pra cidade. Lá a vida dá medo! A perturbação mental se acalmava com as flores ou com as telas. Sua empresa na cidade foi vendida e seus pais investiram o dinheiro para sobreviverem bem. Hoje, depois de quase cinco anos, Antonio anda fazendo lindos quadros com temas floridos e passionais. Encontrou na arte a forma de expressar sentimentos bloqueados dentro de si. Fez uma exposição de quadros no último fim de semana que atraiu muitos turistas. O tema girava em torno de uma fatal história de amor. O personagem principal estava exposto como um “Jardineiro louco”, que enlouqueceu por amor. Teve um turista que comprou toda a coleção. Ficou encantado com a sutileza dos traços e com aquela história de amor. Esse turista prometeu voltar e talvez negociar com Antonio seus quadros no exterior. Depois daquela tarde de domingo, algo de novo aconteceu no coração de Antonio. Parece que acordou novamente para a vida. Em seu ritmo foi se organizando energeticamente e mentalmente. Parecia um milagre! O “Tonho louco” conseguiu falar de sua dor. Libertou-se! BOAS VINDAS ANTONIO.  Noutro dia, pintando uma de suas telas em praça pública, alguém novo na cidade lhe perguntou: – Quem é você? Sorrindo, respondeu:- ANTONIO DAS FLORES OU TONHO LOUCO. VOCÊ ESCOLHE!

3 comentários em “O JARDINEIRO LOUCO! ( REEQUILÍBRIO DA RAZÃO).”

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