A GATA NÃO PODE SER MANSA! ( SOBREVIVENCIA)!

Sabrina, moça morena, estatura pequena, energética, ingênua e introspectiva. Longos cabelos castanhos escuros. Meiguice cativante. “Aparente calma”. Internamente, um vulcão. Esse seu jeito de menina boazinha, engana muito. Personalidade forte! Enganou o esperto Otávio. Homem dominador. Adora ser o centro das atenções. Otávio casou-se com a “menina boazinha”, seduzindo-a com o seu charme psicopata. De início, foi fácil exercer domínio sobre ela. Sabrina tinha uma atitude submissa e apaixonada. Talvez por isso não se deu conta dos riscos emocionais que estava correndo naquela relação. Ela também se enganou a respeito de Otávio. Ficou cega! Entregou-se ao amor de tal forma que anulou a sua identidade. Fantasiou uma vida cheia de cumplicidade e respeito ao lado de seu escolhido. Sexo ardente dele, ia de encontro ao seu vulcão interno. “Lavas de prazer”! Enlouquecia naqueles momentos. Com o passar do tempo, essa embriagues emocional foi se atenuando e ela foi se conscientizando sobre o desiquilíbrio de Otávio nos detalhes do dia- dia. Sabrina foi se dando conta que pra conviver com ele, numa boa, ela teria que se auto- sabotar. Otávio, revelou- se num  comportamento egoísta e controlador. A cumplicidade sonhada por Sabrina, esvaiu-se. Falta de respeito descabida à sua identidade de mulher, geraram conflitos desgastantes entre eles, alimentando em Sabrina, mágoas e ressentimentos. Ela foi se contendo, ficando Insegura, frágil e calada, cada vez mais. Em pouco tempo, começaram emergir sintomas físicos. Diferentes quadros de ansiedade e seus efeitos colaterais. A vida ficou muito ruim! Insuportável! Seu coração pedia socorro. Sabrina resolveu vir buscar ajuda terapêutica para se livrar desses “demônios internos”. Trouxe um sonho recente que a estava incomodando muito, martelando na cabeça. Sensível como é, disse que esse sonho fotografou o seu coração. Em sua queixa, trouxe uma ambivalência marcante! Não queria descasar-se. Tampouco  continuar casada. Naquele esquema sem respeito. Não! Seu lado saudável não queria mais ser tratada como uma boneca de pano. Precisava resgatar a mulher guerreira adormecida dentro de si! Integrar a menina boazinha com essa guerreira. Sabrina, em suas divagações, ingenuamente, esperou que Otávio se transformasse no homem que idealizou. Pensou que o fato  de suas peles quentes, conversarem e rirem juntas, na hora da entrega, seria o termômetro para um casamento feliz. Na verdade, essa  festa dos sentidos enlouquecidos quando transavam, de certa forma, era a vilã na vida de Sabrina. Naqueles momentos apostava que ele era o homem de sua vida, no entanto,  na convivência diária, mágoas iam se acumulando, ferindo sua dignidade e sua auto- imagem.  Já nem sabia mais, se era amor o que sentia por Otávio

SONHO: – Sabrina estava acompanhada do primeiro cãozinho que teve na vida, “Veludo”.  Ganhou de seus seus pais, ainda menina, em seu aniversário de sete anos. (Nesse momento, emocionada, Sabrina interrompeu por segundos o seu relato). Quis falar um pouco da história dela com Veludo: – Esse meu bebê, viveu longos anos ao meu lado. Pretinho, muito peludo. Mistura de vira lata com lulu. Lindo, lindo! Com quinze anos de idade, meio cego,  escapou pelo portão entreaberto da casa onde a gente morava. Foi atropelado por um caminhão. Horrível aquele dia. Chorei igual criança. Nossa como sofri! Sempre que lembro dele, dói. Quinze anos de muito amor! (sic). Suspirou bem fundo! Depois de uns segundos, retomou o seu relato. (Continuação do sonho) :- Chegando ao prédio onde mora com Otávio, pegou o elevador, indo até o seu apartamento. Estava com Veludo em seu colo. Parou no andar. Distraída, abriu a porta do apartamento, e, surpresa, ouviu sons de vozes desconhecidas vindas da sala de estar. Assustou-se! Quem poderia ser? Discretamente, sem ser vista, deu uma espiada no ambiente. Visualizou pessoas estranhas, ouvindo descontraidamente músicas e bebericando. Na maior tranquilidade. Como se a casa fosse deles. Sangue esquentou na hora! Seriam amigos do Otávio? Como assim! Precisava tomar uma atitude e verificar quem eram esses intrusos. Assaltantes com certeza não eram. Estavam muito a vontade e descontraídos. Raiva! Muita raiva invadiu e esquentou o seu corpo todo, contrastando com mãos geladas. Seu impulso era acabar com aquela palhaçada toda. Não se entregou ao impulso! Precisava passar aquilo a limpo de forma equilibrada. Pensou em trancar Veludo no elevador, enquanto fosse abordar os intrusos. Queria surpreende-los! No momento em que foi tentar prender o cãozinho, Sabrina teve a sensação forte de claustrofobia. Parou imediatamente. Imaginou o sofrimento do cãozinho, preso lá.  Segurou Veludo no colo. Foi então que, corajosamente, pernas tremendo, resolveu ir até a sala. Passou por eles. Nada aconteceu! Atravessou novamente todo o ambiente onde os desconhecidos estavam. Novamente, nenhuma reação deles. Sabrina duvidou dela mesma. Até se perguntou:-Será que virei fantasma? Foi então, que sensações assustadoras invadiram o seu corpo e foram se intensificando. Taquicardia! O coração batia muito alto e acelerado. Boca seca. Língua grudando no céu da boca. Nesse mal estar, com o sistema simpático aguçado, acordou. Abruptamente! Cabeça girando, girando! Pegou o copo com água que sempre deixa ao lado da cama (hábito antigo). Bebeu uns goles. Inspirou fundo. Várias vezes. Segurou um tantinho a inspiração. Repetiu novamente o exercício e paulatinamente voltou a respirar normalmente. (Esse exercício sempre funcionou quando está ansiosa). Pegou caneta e papel. Precisava anotar aquele sonho mobilizador!

Bem nessa época, Sabrina buscou ajuda psicoterapêutica por sentir-se desestabilizada emocionalmente. Desde da noite em que sonhou, coisas estranhas passeavam por sua mente. “Talvez Otávio não fosse o homem de sua vida”! Não estava feliz : – Por mais que eu tente sair dessa baixa auto estima, Otávio faz com que eu me sinta dependente, inferior e frágil. Um lixo”. (sic). Essa  a sua fala ao iniciar a queixa, porém, ao mesmo tempo, dizia nutrir um sentimento forte e quente por ele. Não conseguia se imaginar longe de dele. Longe ou próximo desse homem, não estava bem! ( Ambivalente). Vozes internas gritavam sons em seus ouvidos que machucavam sua alma. O lado saudável de Sabrina, se recusava continuar naquela submissão opressora, anulando a sua identidade, cada vez mais.    _   O sonho trazido, trouxe, simbolicamente, fragmentos da relação sufocante em que vivia com o narcísico Otávio. (Muito material inconsciente para ser trabalhado ao longo do processo). Em seu relato, Sabrina descreveu o marido como um homem extremamente individualista e sem respeito por ela. Tóxico! Por outro lado dizia, também, que ele sabia usar palavras doces e bem escolhidas, quando a  queria reconquistar. Ela entrava sempre na conversa dele. Isso foi cumulativo. Ressentimentos, raivas de si mesma e sentimentos bloqueados intensificados foram o gatilho para ela pensar em mudar de vida e desbravar seu caminho interno e do auto conhecimento. Na nossa conversa, admitiu o erro em perdoá-lo constantemente depois de tantas  ofensas e ataques a sua pessoa. Isto tornou-se recorrente. Reconheceu que a sedução de Otávio sequestrava a sua paz, bastava um simples aceno dele, e, lá estava ela, se entregando às enlouquecidas noites de amor.  ” Uma linda boneca de pano, não uma mulher”! A cena do sonho, da claustrofobia, no momento em que “Veludo” quase foi preso no elevador, foi relacionada aos sintomas de ansiedade e sufoco que inúmeras vezes, quando estressada, invadem seu organismo. Reconheceu sua grande dificuldade em lidar com as contenções emocionais de seu peito. Na segunda cena- ( pessoas estranhas invadiram a sala de seu apartamento e ignoraram a sua presença), Sabrina relacionou ao sentimento de intensa raiva em sentir-se invadida em seu próprio espaço. Sem identidade! ( Desrespeito/invasão).  Reconheceu essa mesma dificuldade no campo social. “Sonho terapêutico “!     -Sabrina no final da primeira sessão, desabafou mais intensamente ainda, num pranto longo. Não suportava mais o jeito aversivo de Otávio. Queria se fortalecer e resgatar sua auto imagem e identidade. Como numa catarse  vociferou tudo que estava guardado no peito. Desconsideração e desrespeito que estavam transformando a sua auto imagem cada vez mais, numa sombra, como a cena do sonho trazido. Estava claro que tinha chegado ao seu limite de tolerância em ficar nesse papel. Não seria mais a “boneca de pano” sem identidade e subjugada. Frase repetida Otávio nas horas de briga:- ” Mulher não tem que dar palpite em nada. Mulher irritante? Cama nela”! Fisgava sempre o  ponto fraco de Sabrina. Vulcão interno queimando seu  próprio coração. Ambivalência: AMOR E ÓDIO, CONSUMINDO!