JOÃO, CRESCE AGORA!!!! (INTEGRAÇÃO ENTRE IDENTIDADES BIOLÓGICA E SOCIAL)

Os sonhos podem ser importantes manifestações do nosso inconsciente. Eles trazem de forma simbólica,  conteúdos emocionas que muitas vezes ficaram reprimidos e que estão precisando de resoluções. Muitos traumas e stresses vividos, que não foram conduzidos adequadamente, podem permanecer em formas de conflitos e angústias.  Há sonhos que se tornam recorrentes. Muitas vezes eles surgem  de formas diferentes, mas com a mesma base de história emocional.  É um jeito de tentar  tornar conscientes algumas situações emocionais recalcadas e mal resolvidas. Importante dar atenção à todos os sinais e expressões que emergem do  inconsciente. Sempre tem um significado particular, para quem sonha. Vou narrar aqui o caso de JOÃO. Homem bonito, inteligente, educado e com comportamento social nota dez! Tem quarenta e dois anos.  Teve uma educação muito rígida. Ficou internado num seminário dos nove aos dezoito anos. Recebeu uma formação curricular excelente que o preparou para a vida profissional, com enorme potencial de realização.  Fez engenharia e se tornou um grande empresário. Se casou com uma bela psicóloga. Extremamente sensível, muito inteligente e nada reprimida! A grande questão de JOÃO que,  por ser também muito sensível e ter sido privado de contatos com seus afetos, teve que se reprimir  emocionalmente. Não conseguia nem falar ” EU TE AMO”! Sofreu atrozmente por ter sido afastado da família. Principalmente,  de sua mãe e de seu amado gato ,” Nino”! Tinha muitas saudades daqueles pelos brancos macios, daquele miado tão seu!   Converteu o sofrimento em muita dedicação ao estudo e a fazer coisas! Resolveu fugir dos sentimentos.  Se tornou muito rígido, detalhista e emocionalmente infeliz.  Sua vontade era construir grandes projetos e ser admirado por todos.. Essa compensação aguentou até certo ponto! Começou a ter sérios conflitos de identidade e descompensação energética. Em muitos momentos se sentia sem energia, sem libido! Muitos sonhos ! Pesadelos recorrentes! Muita angústia! Sua mulher, LANA, sempre presente, administrando bem as crises e entendendo que ele precisava de tratamento urgente! Ela não podia tratar dele! Poderia dar um “empurrãozinho”. Foi o que fez! Afinal o seu casamento, também estava em perigo! Ela o compreendia e era muito apaixonada. Ele por sua vez, também, já não  suportava mais tantas noites mal dormidas e uma certa depressão. JOÃO, inteligente com é, resolveu colocar a “razão à serviço da emoção”!  Veio buscar ajuda terapêutica. Queria muito entender o que os sonhos querem lhe  falar! Hoje, já reconhece através deles, um menino chorando e desamparado. Pedindo socorro! Outro dia, ele recebeu de seu sonho, um convite transformador : ‘” QUER CONHECER O JOÃO?

AMOR VIRTUAL! (CARÊNCIA/ FRAGILIDADE)

As pessoas têm vivido perdidas em suas buscas emocionais. Parece que o desespero substituiu o bom senso. Quantos estragos e sofrimentos! O autoquestionamento foi colocado num plano tão inferior onde nem se cogita entrar.  Vale tudo pra buscar  essa tal felicidade!!! Muitas vezes o preço a pagar pode ficar tão alto quanto o valor da própria vida. Dia destes, apareceu em meu consultório a “MARIA”, mulher de quarenta e nove anos. Expressão de sofrimento e angústia! Estava vestindo calça jeans e uma camisa branca de algodão, dando-lhe um aspecto bem jovial. Notava-se que era vaidosa, unhas esmaltadas de um tom claro, combinando com o seu batom! Mas, todo esse aparato não disfarçava a tristeza em seus lindos olhos verdes. Tão intensa! Parecia que eles queriam falar dos sonhos que se perderam na estrada do tempo! Assim que se deitou no divã,  começou um choro compulsivo, com muitos soluços e gemidos! Quando foi se acalmando, ficou alguns minutos quieta, respirando meio acelerado…  Começou falando que se sentia um lixo! Disse que, há nove anos, tinha desfeito o casamento. Foi traída pelo marido com sua melhor amiga! Traumática a separação! Passou a não confiar em mais ninguém! Daquela data pra cá, não tinha tido mais nenhum relacionamento. Entrou numa depressão profunda! Tomou medicamentos durante um tempo, mas resolveu reagir. Retomou sua profissão de advogada. Foi se recompondo profissional e fisicamente. Voltou a se cuidar. Ficou novamente com a aparência bonita e atraente. Só o medo de sofrer novamente não a abandonava. Tornou-se muito desconfiada e infeliz! Tentava disfarçar esse estado emocional perto das pessoas que a conhecia. Era muito orgulhosa! Há dois meses, numa tarde chuvosa de domingo, sozinha, entediada e fugindo da depressão, resolveu reagir. Foi buscar na internet  um site de relacionamento para se distrair. Fragilizada e carente, não deu outra. Caiu no conto dos VIGARISTAS DE PLANTÃO! Entrou na conversa do JOÃO, que como um bom psicopata, soube envolve-la e ganhar sua confiança, perdida há  tanto tempo! Não demorou muito, se viu vítima,  explorada e iludida por causa dessa paixão virtual! Narrou sua história como se ela fosse vítima do destino! A escolhida para sofrer! Entrou num golpe costumeiro em que pessoas com baixa auto estima entram, perigosamente. Acreditam em declarações mentirosas, mágicas! Psicopatas e indivíduos com caráter deformado exercem muito bem esses papéis. Ouviu promessas desejadas! Em sua carência, achou que poderia ser feliz novamente. Desta vez, foi ainda mais cara a traição sofrida! O desqualificado, impiedosamente, além de roubar o seu coração, roubou também sua conta bancária! MARIA, está tendo que resgatar sua autoconfiança e amor próprio! O sorriso escondido? Acho que o impostor não conseguiu levar!!!

MUITO PRAZER! ( UM SONHO DE AUTO DESCOBERTA)

Estava ficando maluca. Minha cabeça pesava tanto! O pescoço estava dolorido e frágil. Acordei naquela quarta-feira com a sensação de que um trator tinha passado sobre meu corpo! Estava de péssimo humor. Pudera, toda vez que aquele pesadelo acontecia, eu ficava péssima. Estava cada vez mais recorrente. A cena que ficava mais registrada era a da ” MENINA TRISTE”! Ela devia ter mais ou menos uns seis anos de idade, tinha uma aparência mal cuidada, roupas muito velhas e feias. Um olhar muito triste! O que me chamava mais a atenção era o nariz escorrendo até a boca e a expressão de medo e abandono. Ela tentava falar algo e sua garganta não conseguia emitir som algum. Tentava, tentava! Sua voz não saia! Desesperada, começou a correr buscando pedir socorro! Não conseguia! Numa aflição intensa buscava correr cada vez mais, como se assim fosse se livrar desse tormento. De repente as pernas ficaram bambas, tremendo, perdendo a força. Ela caiu no chão todo molhado, dentro de uma poça de lama. Sempre neste momento eu acordava, ainda sob os efeitos da tremedeira! Depois de ficar quase dois anos nesse sofrimento, resolvi tentar sair desse quadro insano. Lembro que estava chegando o dia dos namorados e eu me prometi que não queria passar aquela data nesse quadro psíquico tão alterado. Afinal, eu estava de namorado novo. Não podia estragar mais esse namoro, com minhas inseguranças e baixa auto-estima. Desta vez tinha arranjado o Felipe, um cara bem legal. Bom papo, sensível e estável. Não queria perder a chance de tentar ser feliz no amor. Há quanto tempo eu não sentia aquele friozinho na barriga! Já estava com trinta e cinco anos! A saída que achei mais saudável foi buscar ajuda terapêutica. Uma amiga tinha me falado de um profissional muito competente, que havia feito com que ela conseguisse mudanças intensas em sua vida, através do processo a que ela se submeteu. Realmente eu percebi muitas mudanças em suas atitudes e uma expressão mais feliz! Fui lá. Começamos as sessões. Fui investigar quem era aquela CRIANÇA DESAMPARADA que insistia em me visitar em noites mal dormidas. Fui entrando, devagarzinho, em fragmentos de histórias emocionais deterioradas e mal resolvidas. Coisas que ficaram ancoradas em meu coração. Tive que conversar muito com aquela triste menina! Entender e aceitar seus motivos e angústias! Cuidar das feridas que sangravam. Oferecer todo o carinho e respeito que lhe negaram. Estamos nos tornando muito amigas! Sabe que estou tendo prazer em conhece-la? A menina já sorri e fala. Chego a chamar o pesadelo de sonho! QUEM DIRIA!

O HOMEM CROCODILO! ( ENCOURAÇAMENTO)

Todos achavam Antônio um homem muito legal! Sociável, extrovertido, brincalhão e muito educado. Sabia se colocar nas situações. Tentava sempre ser o centro das atenções, com um certo carisma, que sabia utilizar! Centralizador. Buscava sempre  ser admirado para se sentir num lugar  de destaque  Ele nem questionava seus próprios limites. Era viciado em trabalho! O importante era  mostrar habilidade. Isso  alimentava muito seu ego.  Homem loiro, alto,  tinha quarenta anos, cabelos enrolados, dando a impressão de ser um “grande bebê”! Era chefe do setor de engenharia de uma grande empresa de construção. Adorava comandar e ter subalternos; isso era essencial para a sua vaidade! Gostava de usar roupas de grife e comer em restaurantes caros. Não tinha compaixão por pessoas que ele julgava ser de classe  inferior. Era impiedoso com os desfavorecidos! Jamais teve atitude de dar esmola à algum indigente. É com esse desconhecido, “casca dura”, que um dia ingenuamente construí sonhos. No pesadelo que vivi com esse rapaz, nem DEUS ACREDITA! Conheci Antonio numa tarde muito fria e ensolarada de outono. Fui tomar um chocolate quente numa padaria muito frequentada, perto de minha casa. Lá tinha um pão especial integral que, quentinho, derretia na boca!  Sentei numa mesinha de canto, encostada na parede.  Assim que dei a primeira mordida em meu saboroso pão, percebi que alguém me olhava insistentemente. Tentei ignorar mas, em pouquíssimo tempo, aquele par de olhos castanhos, inquisidores, já se encontrava em minha mesa. Chegou comentando do frio exagerado daquela tarde e da vontade de tomar o meu chocolate quente! Apesar de ser “cara de pau”, tinha um bom papo! Confesso que gostei do jeito atrevido dele. Gosto de homem com atitude! Ele nem era o meu tipo físico. Mas ali começou uma paixão! Começamos a conversar e nem vimos o tempo passar. Passamos quase quatro horas naquela padaria. Quando olhei no relógio, me assustei. Tinha perdido o cinema com minha amiga, Milena. “Paciência, acho que ela entenderia”. Estava me sentindo leve e feliz! “ANTÔNIO”, talvez pudesse ser o meu grande amor! Ficamos assim, num namoro com muito tesão,  por um bom tempo. Não conhecia ainda o outro lado da personalidade dele.  Assim que fomos tendo mais intimidade, algumas vezes, suas reações me assustavam. Eu sempre procurava dar um desconto! Podia ser stress! Assim, o tempo foi passando e eu caindo numa realidade ambivalente. Queria continuar com a nossa relação, mas temia e rejeitava esse lado duro de seu caráter. Antônio foi se mostrando insensível e cruel em diversas situações. Nesse meio tempo engravidei. O que deveria ser um sonho, virou pesadelo. “E agora”?  Não teve jeito. Tive que contar! Afinal, apesar de não querer, ele era o pai! Sua reação foi monstruosa. Me assustei. Fiquei revoltada. Ele simplesmente jogou o dinheiro no chão e disse pra eu resolver o problema. Não haveria negociação! Chorei todas as lágrimas que tinha! Gritei! Blasfemei e o expulsei de minha vida. Foi a gota d’ água! “O nosso filho”? Está a cara dele. Acabou de fazer seis anos. “Antônio?”. Acho que a vida lhe deu o troco. Sofreu um acidente. Ficou sem movimentos nas pernas! Trabalha em casa. Vive sozinho e sem amigos. As visitas que Daniel, nosso filho, faz a ele são sua única alegria. Parece que a pele  de crocodilo está se trocando! Aquele olhos inquisidores do passado já estão conseguindo chorar!

ASSÉDIO SEXUAL! ( DESRESPEITO/ INVASÃO)

Pedro é profissionalmente reconhecido como um vencedor! Passou a ocupar o cargo de gerente geral da multinacional em que trabalha.    Moreno alto, olhos verdes, nariz um tanto adunco, magro, postura rígida e uma expressão meio canalha. Não chega a ser bonito, mas tem um certo charme.  Gosta de usar esse charme em todas as situações que consegue, sem medir consequências. Intolerante  e perfeccionista. Na empresa exerce seu poder de forma desrespeitosa e abusiva! Meu nome é Maria, sou secretária executiva da gerência. Confesso que quando fui apresentada à ele já me antipatizei. Não gostei de seu jeito de me olhar e nem de seu perfume. “Ele me devorou com os olhos”! Desde esse dia me preocupei bastante em evitá-lo em momentos fora do expediente de trabalho. Sei que sou atraente. Muito séria e ética. Responsável e exigente! Tento cuidar muito de minha imagem e de meu cargo. Acho que até por isso atraio os homens. Eles correm atrás de mim! Estou solteira, acabei de me divorciar! Meu ex- marido me fez sofrer profundas dores emocionais. Tornou-se um canalha. Conquistador barato! Não podia ver mulher! Quando chegava em casa me queria alegre e sexuada, como se eu me sentisse a esposa mais amada e respeitada do mundo! Desde a minha separação, há oito meses, me vacinei contra esses tipos que querem só usar a mulher como objeto de prazer. Não me deixarei mais ser desrespeitada por esses homens baratos e sem valores. Pedro, o meu chefe antipático e conquistador, por sua vez,  está se mantendo meio afastado de mim, desde a última festa da empresa, há dois meses. Fim de festa, ele bêbado e desconexo tentou me agarrar  na marra no momento em que fui tomar um café. Fiquei tão indignada que o empurrei contra uma porta de vidro que até trincou. Ainda bem que ninguém viu! Acho que eu me sentiria muito humilhada. Pediria demissão embora aquele não seria o momento mais indicado. Estava muito endividada. Não poderia correr riscos de ficar desempregada. Depois daquela festa Pedro passou a não me olhar.  tornou-se muito hostil. Tinha a sensação que eu seria despedida a qualquer momento. Para minha surpresa isso não aconteceu! No entanto, nesse período comecei a procurar um outro emprego. Está sendo difícil. Não vou desistir. Ampliarei meus contatos! Na última sexta feira, precisei ficar em horário extra. Terminaria um trabalho importante. Tranquila fui realizando o meu trabalho. Segura, achei que estava sozinha na empresa, (pensei que Pedro já havia ido embora em horário normal – até por isso resolvi ficar trabalhando). Quase terminando o ofício, fui até o banheiro lavar as mãos sujas de tinta. Estava de costas para a porta, quando, de repente, sinto dois braços me abraçando forte, tentando impossibilitar que eu reagisse, buscando me beijar. A minha respiração quase parou! Me contorci o quanto pude. Consegui me virar e olhar quem era o violentador. Não acreditei no que vi! Com uma voz embasbacada, meio louco ele disse que tinha o maior tesão por mim. Ficou por um momento observando a minha reação de pavor. Por sorte o telefone tocou naquele momento. O homem se assustou e saiu correndo. Perdi a voz! Não consegui gritar e nem chamar o segurança! Não poderia! ELE TINHA CORRIDO DE MIM! Depois de sofrer mais essa violência sexual e moral, dentro do ambiente de trabalho, quase entrando em depressão, me enchi de coragem e tive uma atitude! Resolvi correr todos os riscos! Estou saindo da delegacia. Pressinto que “chefe e segurança” irão ter problemas! Nossa, como o céu está azul!!!

MONALISA, ONDE VOCÊ SE ESCONDEU? (TIMIDEZ/SEXUALIDADE)!

Meu nome é Monalisa. Sempre me achei meio esquisita! Por mais que eu me esforçasse não conseguia me sentir igual aos outros. Tinha muita dificuldade de me encaixar no social, explicitamente. Na adolescência sofri muito por conta disso. Na escola,  enquanto minhas colegas de classe saboreavam a ebulição natural dos seus hormônios, paquerando, indo a festas, saindo com grupos de amigos, eu me mantinha isolada de tudo, sofrendo em silêncio! O momento do meu maior sofrimento foi aos quinze anos; me sentia um “E.T.”! Naquela fase,  iniciei um  processo de fechamento emocional profundo a ponto de não conseguir me expressar, nem em minha própria casa! Tenho uma irmã, Carla, um ano mais nova que eu. Ela era o meu oposto. Extrovertida e aparentemente feliz! Carla não fazia nenhuma questão de ser minha amiga! Acho que ela não gostava do meu jeito. Quanto à minha mãe, Helena, nunca me percebeu! Vivia tão preocupada com a sobrevivência! Parecia tão infeliz! Pudera, meu pai a abandonou assim que minha irmã nasceu. Ela teve que dar duro na vida!  Ser mãe e pai ao mesmo tempo. Nunca mais namorou ninguém! De vez em quando eu até tinha vontade de ser amiga da minha irmã, ser mais próxima de minha mãe! Fiz algumas tentativas que não deram em nada. Hoje, passados oito anos, percebo que talvez ela tivesse inveja de mim! Todos falavam de minha beleza, de meus olhos azuis e misteriosos, da minha meiguice… Os elogios eram constantes, mas eu me sentia feia e magra demais. Nem gostava de me olhar no espelho! Carla era o meu oposto. Graúda, nem um pouco delicada, falava muito alto e um tanto egoísta. Nunca queria  dividir nada. Invadia todos os espaços que conseguia, sem ter a menor culpa! Minha mãe dizia que ela era parecida com o meu pai! Tinha um comportamento oposto do meu. Comunicativa, determinada! Fazia de tudo pra conseguir o que queria, não media consequências! O fato que mais me marcou naquela época, foi aos dezesseis anos. Nessa fase arranjei um amor platônico, o garoto mais bonito da escola! Na minha fantasia eu podia viajar quanto tempo quisesse. Ninguém sabia, era só minha! Nos meus isolamentos, era a minha imaginação quem dava asas ao meu sonho. Me sentia poderosa, desejada! Num dia de setembro, estava ouvindo o meu coração, me imaginando dançando com esse amor idealizado, quando de repente chega a minha irmã, toda eufórica, carregando um livro da biblioteca da escola. Olhou pra mim com a indiferença de sempre e colocou esse livro em cima da mesa. Estava cantarolando e disse de repente que tinha começado um namoro com o Felipe, “o meu amor secreto”! Iria sair com ele naquela noite. Perdi o chão! Fiquei tonta, tentei disfarçar. Corri para o meu quarto e desandei a chorar. Lá fiquei horas sem fim, desolada, até Carla sair, para o encontro que me destruiu. Sozinha em casa, meio perdida, num impulso, voltei à sala tentando me recuperar. Peguei o livro que tinha ficado em cima da mesa e comecei a ler. Precisava fugir da tristeza que eu sentia… Li a sinopse e me interessei! Lá narrava a história de uma mulher que, para não sofrer, resolveu nunca amar.  Ela ficou assim depois de uma grande decepção amorosa. Quase enlouqueceu! Naquele momento ela jurou nunca mais querer se envolver com alguém! Transformou-se em uma pessoa extremamente racional! Correu atrás de sua profissão. Ganhou muito dinheiro! Seguiu na vida procurando se afastar dos relacionamentos que surgiram. Nunca mais amou! Em meu desespero, resolvi adotar o mesmo modelo! Achei que dessa maneira me pouparia de novas dores também. Me prometi não me magoar nunca mais! Peguei firme nos estudos, me formei em engenharia de alimentos. Consegui um bom emprego em outra cidade com um ótimo salário.  Hoje, passados onze anos, me sinto uma mulher segura, rígida e determinada, assim como a personagem daquele livro que li. Tenho quase tudo que o dinheiro pode comprar, mas confesso que “não sou feliz”! Não me permiti conhecer a “fêmea” que habita em mim. Passei todos esses anos fugindo do amor! Entediada, há um mês resolvi enfrentar as minhas defesas e fazer um curso de dança. Bem pertinho de casa! Sabe que estou adorando? Na última aula dancei com o “Antonio”, um moreno com olhos verdes e brilhantes! O seu sorriso maroto não me assustou!!! Alguma coisa está mudando em mim! Há um clima de tesão no ar…

O VELHO “GALINHA”! ( ANCORADO NA ADOLESCÊNCIA)!

Alfredo é uma pessoa divertida, com senso de humor requintado, capaz de ficar horas seguidas dançando e falando de mulher, seu tema preferido. Dia destes, sentada em um botequim muito bem frequentado, no centro da cidade, conheci essa “figura”! Acho importante descrever o seu visual, para se formar a ideia da imagem física dele. Possui mais ou menos um metro e oitenta de altura, cabelos ralos e brancos, postura meio curva. Seu rosto tem muitas marcas do tempo, com um par de olhos esverdeados e meio caídos. O que chama a atenção é o brilho que esse olhar ainda contém e o sorriso maroto que exibe seus dentes meio amarelados pelo tempo. Eu estava com uma colega, também psicóloga, tomando um suco, depois de um dia de trabalho. Conversávamos sobre a viagem que faríamos no próximo fim de semana. Estávamos tão envolvidas com o tema e, nem percebemos que Alfredo, na maior “cara de pau”, tinha puxado sua cadeira e se sentado ao nosso lado. Percebi sua presença no momento em que ele sussurrou em meu ouvido ” Não sabia que Anjos falam”! Levei um susto! Quase caí da cadeira! Ele emanava cheiro de cerveja, seu hálito estava terrível. Logo comigo que não gosto de álcool! Diante da minha reação, ficou meio desconcertado mas não perdeu a pose! Se apresentou. Era uma pessoa prolixa! Começou a falar como um adolescente, papo empolgado e conquistador. Achei uma certa graça e fiquei com pena daquele homem. Acostumada a ouvir pessoas, dei uma certa atenção a ele. Queria entender um pouco mais sobre seu comportamento e talvez ajuda-lo. Minha amiga percebendo a minha intenção, pediu licença e foi ao banheiro. Por acaso estou desenvolvendo uma tese sobre” TEMAS DE COMPORTAMENTOS”! Dei espaço pra ele se abrir e falar de si. O que eu fui percebendo é que eu estava diante de um homem com idade bem madura, num psiquismo muito adolescente. Estimulei que falasse sobre sua história de vida e fui entendendo onde ficaram os “buracos” emocionais, de seu desenvolvimento psíquico. Despertou em mim uma certa compaixão. Ao contrário do que  foi buscar em minha mesa, ele encontrou a indicação de um caminho onde pudesse se descobrir. Se ele se crescer, talvez  haja tempo de conhecer o verdadeiro amor!

CRIS, VOCÊ ENLOUQUECEU? (INVEJA)!

Será que enlouqueci? Andei me perguntando nos últimos meses. Não me reconhecia naquela pessoa agressiva e desorganizada em que eu tinha me transformado. Fui sempre tão equilibrada. Tão organizada! As pessoas até brincavam que eu era muito cerebral. Eu pensava, concluía e organizava! Sentimentos? Driblava, facilmente! Porque sofrer por alguém? “Que bobagem!”; assim eu ia lidava com a minha vida emocional. Incrível como eu me  sentia muito bem resolvida. Conquistava e largava! Isso me divertia. Dava muito prazer saber que alguém sofria por mim! Funcionei assim, até há alguns meses.  O casamento de  Nívea, minha prima, mudou tudo. Na noite em que Nívea se casou,  tudo estava em clima de festa. A noiva  com  brilho único no olhar, irradiando uma felicidade intangível. As luzes do ambiente, a festa, a música, tudo mágico. Na hora em que eu fui cumprimentar os noivos, senti um “frio na barriga”. Essa sensação  me fez sentir muito estranha,  aumentando ainda mais, quando fui abraçar Nívea. Percebi que a  intensa alegria que ela estava vivendo me incomodou.  Seu sorriso radiante me deu certa raiva! Abraçando o noivo, aquele homem másculo, forte, cheiroso senti minha libido alterada. Nossa, Confesso que me incomodou. Precisava me afastar dali. Fui me esconder no jardim. Não entendia porque não estava suportando a felicidade de minha prima.  Acho que queria estar no lugar dela, talvez, que ela nem existisse! Ambivalente, raiva e culpa, martelando em meu peito! Tentei recuperar o bom senso, quando consegui parte disso,  voltei à festa. Encontrei os noivos  dançando alegremente músicas pop, samba, rock. Assim que olhei Nívea em cima daquele sapato branco de salto alto, celebrando a vida junto ao marido, desejei que seu salto alto quebrassem ali mesmo.  Vê-la com tanta alegria de viver, sangrava o meu coração. Naquele rápido instante, me odiei.  Me senti uma bruxa! Sorrateiramente, fui embora da festa. Não dava mais para continuar lá.  Eu estava esvaziada e infeliz. Esse desequilíbrio foi tomando grandes proporções. Não entendia como eu podia ser tão má!  Porque não conseguia me livrar desse sentimento tão corrosivo:- ” Roubar de Lívia toda a felicidade que estava vivendo”.  Cheguei até a ficar na dúvida se estava apaixonada por Carlos, seu marido. Morria de vergonha de mim mesma. Fui buscar num livro de psicologia alguma explicação desse turbilhão de emoções. O que descobri me aliviou. Estou em minha décima  sessão de terapia. Comecei entendendo que sou humana e tenho que aceitar os meus sentimentos. Aprender a lidar com eles. Descobri também que não estou apaixonada por Carlos, apenas sou muito carente e mal resolvida. Entre outras coisas, fui mordida pela inveja por eu  não ser feliz no amor.  Era o doce que eu nunca comi. Quanto aos noivos, fiquei sabendo que estão em plena ” lua de mel”! Sabe que já torço pela felicidade deles!? Entrei em contato com meu coração. Estou iniciando uma lua de mel, comigo mesma! Tem um certo gostinho de felicidade no ar. “Acho que não sou tão bruxa assim!”.

FELIZ NATAL (RENASCER)

 Estou só e triste! Lá fora as luzes  brilham como estrelas no céu. Quantas lembranças, meu DEUS! Os sons das pessoas conversando, rindo, aumentam ainda mais a minha angústia. Tento ouvir meu coração!  Não consigo. Sinto que algo muito forte está quase a explodir! Penso, com profunda saudades, em minha mãe, meu pai, minha infância, já tão longínqua. Lembro da magia de quando, em noite de natal, à meia noite, se trocavam presentes em nome do ” papai noel”! E os amigos secretos? A gente tinha que adivinhar tudo que vinha dentro das caixas de papelão. A excitação das pessoas, que pareciam crianças, também. Muitas vezes, eu queria provar “champanhe” e ouvia um sonoro não de minha mãe; em vez disso me oferecia um suco de uva, especial, que ela mesma fazia. Eu achava ruim! Queria o proibido, mas aceitava logo, não ia estragar a festa! Acho que faltou naquele momento, ela me explicar o porque do “NÃO”! Hoje, adulto e tão distante dos meus amores, das minhas fontes de afetos genuínos, abandonado de mim mesmo, quero salvar a criança que habita em mim. Quem sabe ainda existam caminhos em que eu possa investir minha energia e resgatar a alegria de viver. Essa noite de natal, seus sons e cores mexendo com meus  conflitos, já tão antigos, trouxe à luz, a força dos afetos e a necessidade do perdão!  Tenho que fazer escolhas e nem sempre as melhores são as mais fáceis – hoje sei disso! Percebo que, muitas vezes, assim como minha mãe não me explicou o motivo de criança não poder tomar champanhe, eu também deixei de me explicar e de ouvir, em situações de crise! Amores importantes partiram, sem que eu entendesse o porque! Refletindo, nessa noite de natal, em seu significado, no quanto são importantes os afetos em nossas vidas, acho que devo dar chance ao meu coração! Tem tanta coisa bloqueada e perdida no tempo! Depois dessa caminhada interna, olho no relógio e percebo que já se passaram quatro horas de profunda reflexão. Sinto que algo está mudando em mim. Pensando bem, acho que vou tentar resgatar amores possíveis e quem sabe poder receber o novo! Sou a primeira da lista! Nossa! Já estou conseguindo espiar pela janela e sentir certa alegria nas luzes, cores e sons, que estão vindo lá de fora! PAPAI NOEL EXISTE!                

VIAGEM INTERROMPIDA (CORAGEM)

Colégio interno! Vocês não sabem como é difícil para uma criança, sensível como eu, ficar isolado de sua família, de sua fonte de afeto! A cabeça começa a entrar em pensamentos obsessivos, doentios. Eu buscava  os motivos daquela prisão.  Perguntava pra mim mesmo : -“o que fiz de errado? “Porque estou sendo punido “? A consciência vai desenvolvendo defesas pra nos proteger do inimigo oculto. Sim, oculto! Não podia imaginar que minha mãe me desejasse tanto sofrimento. Seria insano pensar isso! Logo ela por quem eu sentia um desejo tão grande de estar próximo. De sentir seu cheiro  tão gostoso! Seu hálito morno!” SUA PRESENÇA TÃO FORTE”! Não eu não podia pensar dessa forma. Tentava me convencer que  forças maiores fizeram com que ela me prendesse, lá!  Pensei muito. Na minha loucura concluí que foi , “DEUS”! Talvez “ELE” achasse que seria bom para mim. Ela sempre falava do grande poder e sabedoria  que ” ELE” tinha! Fiquei nesses intensos conflitos, dias e noites seguidos. O que me aliviava, de vez em quando, eram os momentos de esportes que a gente praticava. Lá eu soltava parte da raiva contida ! Mas o alívio era rápido, à noite tudo voltava novamente. Isso virou um ciclo vicioso em minha vida! Não dava mais pra aguentar!  Lembro que quando chegava as férias de fim de ano, eu me sentia como um passarinho solto da gaiola. Feliz, mas com muito medo de voar. Numa dessas férias, quando já fazia quatro anos de “cárcere”, resolvi que não voltaria  nunca mais pra lá!  Enquanto estive em casa naquelas férias, não contei meu plano à ninguém. Quando foi chegando a hora da volta, foi batendo o desespero! Não é possível que minha mãe não percebesse.Ela me conhecia tão bem! No dia do regresso ela  me deu o beijo frio  de sempre!  Recomendou juízo e cuidado! Colocou eu e a minha prima no ônibus que iria nos levar para o interior, onde era o internato. Ela desceria na metade do caminho. Essa prima tinha a mesma idade que eu! Estava indo numa festa na casa de uma tia nossa. Era aniversário dela! Não fui convidado! Havia uma comunicação não verbal me impedindo de expressar a enorme tristeza que eu estava sentindo.!  Ninguém sabia que a minha decisão já estava tomada! Na hora em que Carla  foi descer do ônibus, eu, num impulso,  desci também ! Fui procurar viver a minha festa! Me enchi de coragem!  Voltei para casa de meus pais, novamente.  Agora com menos algemas mentais!  Estava no auge dos hormônios e dos sonhos!  Rasquei o coração! Chorei muito! Falei de todas as dores contidas! Da enorme solidão e angústia que eu sofria naquele lugar. Para surpresa minha recebi um enorme abraço e acolhimento de minha mãe. Conheci o mel que estava escondido atrás do beijo frio! Nunca mais fugi de mim!