BATIDAS SELVAGENS! ( SUSTO REPENTINO).

Frio intenso nesse fim de tarde chuvosa. Inverno rigoroso. Encapotada até os pés, ainda assim o queixo treme. Vou até a sala de estar e acendo a lareira. Percebo que as lenhas estão acabando. Só dá para mais uma vez. Penso em ligar e pedir mais um bom tanto delas. Prevenir é sempre bom! Que gostoso; já estou sentindo o calorzinho invadindo o ambiente. Devagar vai ficando bem aquecido. Até esqueço do frio. Sensação deliciosa invade o meu corpo. “Sensação de útero materno”! Vou até a cozinha buscar um chá de erva cidreira. Meu favorito! Pego a xícara de porcelana vermelha que foi de minha avó. Tenho um carinho especial por ela. O chá fica mais gostoso. Adoro essa xícara! Volto à sala novamente. Retiro de cima da mesinha redonda de canto um livro e alguns artigos que estou começando a ler sobre “Auto conhecimento.” Presentão de meu amigo João. Ele adora psicologia! Folheio um pouco. Leio alguns trechos interessantes. (Costume antigo). A sinopse do livro resume a viagem fascinante ao nosso mundo interno. Continente muito pouco explorado pela maioria dos mortais! “A gente vive e morre sem se auto conhecer”! Um dos trechos descreve o conceito de Carl Gustav Jung, falando sobre o processo de individuação. Tornar-se um Ser integral. “Autônomo e independente”. Buscar o equilíbrio entre corpo, mente, alma, emoções e relações. (Precisamos manter essas áreas em equilíbrio para estarmos bem na vida). Começo a ler o primeiro capítulo. O tema vai se aprofundando um pouco mais, falando sobre dores do passado, relação com a mãe, o pai e a criança interior. Encarar as feridas para curar-se! Descobrir a máscara que foi construída para  proteger essas feridas que acabam encobrindo o ser. Aprofunda também sobre conteúdos psíquicos não expressos! “Soltar as feras”! Vou saboreando intensamente essa leitura. Pego um almofadão pra ajeitar melhor a coluna. Tomo um gole do chá, que nessa altura já esfriou. Infelizmente. Adoro bem quente! Leio outro trecho que aborda a importância do conhecimento de si mesmo. “Apropriar-se de suas qualidades, limitações, desejos, ambições. Facilita o autocontrole. Desenvolve objetivos de uma forma mais integrada”. O texto relaciona também a importância da prática da meditação como caminho da auto  realização. Essa prática ajuda  no processo de identificar o que precisa ser mudado e, a partir de nossa transformação, obter uma vida mais funcional e plena. Enfatiza que a ausência do auto conhecimento dificulta o nosso eixo, alterando o sistema energético, podendo fazer com que dependamos excessivamente da opinião do outro. Desenvolver auto cobrança exagerada e muita  crueldade consigo mesmo pode ser outra das sequelas. “Fragiliza a pessoa”. Fui me envolvendo com a leitura e não percebi o tempo passar. Nem o sono chegar. Cochilei mesmo. Também nessa sala quentinha! Acordei do cochilo com os olhos ainda sonolentos. Parecia que tinham areia. Percebi o livro entreaberto, caído no tapete. Branquinha, “parece uma bola de neve”, amada filhinha peluda, com uma das patas em cima do meu braço querendo me acordar. Sufocando-me com seus beijos. Que felicidade ter a minha Branquinha! Retribuo intensamente os carinhos. Afago muito seus pelos macios enquanto a encho de beijocas. Vou até a cozinha buscar chá quente. Enquanto isso, o telefone toca insistentemente. Olho para o telefone. Resolvi não atender. Era o Júlio César. Sempre inadequado. Caramba. Ele consegue! Estou me sentindo tão bem aqui. Julinho (assim que o chamo), detesta livros! É um cara legal, mas, pessimamente formado. O que me atraiu nele é a espontaneidade e o seu jeito natural de ser. Não tem o menor interesse em entender como funciona o psiquismo. Tento trabalhar nossas diferenças o tempo todo! Não sei se vai dar! Tenho um interesse enorme em conhecer minhas profundezas e buscar equilíbrio entre a mente e o o corpo. (Júlio Cesar é meio ignorante, só gosta de ouvir notícias na televisão. Nada intelectual)! Para mim, leitura é vitamina! Enquanto divago sobre isso, percebo, fixados em mim, dois olhinhos brilhantes e curiosos. Não aguento! Rolo no tapete com a bolinha de neve até a gente se cansar. Esgotada, ela adormece em cima da almofada como um anjo. Sento-me na posição de eixo. Respiro fundo. Tento contatar  sentimentos presentes. Conecto. Relaxo! Começo a meditar e identificar sensações. Entregue, numa sintonia absoluta com o meu eu; nesse momento sou interrompida com fortes batidas na porta (campainha quebrada).  Branquinha acordou assustadíssima. Latiu muito. Peguei minha linda no colo. Senti seu coração disparado. Apertei-a contra o meu peito, com muito carinho. Fui pra bem perto da porta, reconhecendo aquela batida, pergunto meio brincando : QUEM SERIA O SELVAGEM? MUITOS RISOS VINDOS DE FORA!

QUERO PAZ! (CONTURBAÇÃO).

Não me venha com suas lamúrias disfarçadas escurecer o meu olhar. Você representa nuvem que antecede tempestade. Mal se aproxima a paz vai embora. Um inferno! Sua história de abandono e rejeição justifica atitudes destrutivas que você sempre expressou diante da vida. Você nunca cuidou disso! Tentei de todas as formas lhe ajudar. Até indiquei terapia. Muitas vezes parecia um louco. Não deu! Seu vampirismo sugava minha energia. Da última vez tinha jurado que não lhe daria mais nenhuma chance. “Insanidade mascarada de amor”! Rasguei sua máscara. Deparei com muita raiva e egoísmo. Impressionante! Assustou minha alma serena. Decidida, exclui você de minha vida. Não foi nada fácil! Sentimento forte, mesclado de mágoa e amor, sem norte, me afligindo por longo período. Num primeiro momento parecia que meu peito iria explodir.  Sorrateiro, esse sentimento enganou meu consciente. Escondeu-se num ponto desconhecido de meu ser. Queria se proteger da dor. Não podia mais se expor. Desestabilizou minha energia orgânica completamente. Adoeci. Chorei. Chorei muito. Lavei a alma! Demorei um bom tempo pra recuperar a saúde mental e meu equilíbrio. Enfim, resgatei o amor próprio! Meu coração menino recomeçou a sonhar novamente. Liberto e maroto, não quis mais saber do que sofreu. Queria viver! Agora, no meio desse baile animado da vida, onde ritmos se alternam entre samba, valsa, jazz, você reaparece em meu céu. Nova máscara. Novas promessas. Brotou uma sensação ambivalente “amor e medo”! Nuvens ameaçadoras ressurgiram! Só de imaginar tempestades se reaproximando, o sangue gelou! Frio na barriga. Fiquei esperta. Não me permiti errar novamente. Prestei mais atenção em meu coração. Não dispensei o cérebro. Desta vez você me pegou mais integrada. Suas falas e xavecos,  enfraqueceram. Não me seduzem mais. Estranhei você! Não o quero mais. Meu sistema reptiliano repetiu forte: NÃO!NÃO! NÃO!

ALZHEIMER! (ALTERAÇÃO NA MEMÓRIA E COMPORTAMENTO.).

Francisco, sempre foi um rapaz fora de série. Quando jovem, jogava bola como ninguém. Atacante do time, Chiquinho começou num time de várzea e, descoberto por um olheiro, transformou-se num grande profissional. Aos dezoito anos já era muito valorizado no meio futebolístico. Fechou contratos importantes no decorrer da carreira. Aos trinta anos tinha armazenado um bom dinheiro, graças ao pai, seu empresário. Soube administrar seus ganhos. O poder e o sucesso não afetaram seu caráter equilibrado, ao contrário do que normalmente acontece com jogadores. Esteva em plena carreira, já com trinta e dois anos, quando sofreu um acidente de carro que o excluiu, definitivamente, da carreira de futebol. Sofreu. Traumatizante para ele! Como tinha boa estrutura emocional não se entregou. Organizou-se! Depois de pouco tempo abriu uma empresa na área de “equipamentos eletrônicos” com economias acumuladas. Contratou gente de peso.  Empenhou-se. Era determinado. Estudou  tudo sobre o assunto. Buscou parcerias especializadas. Assumiu um sócio minoritário, amigo antigo e seu admirador. Depois de quatro anos de muito trabalho, começou a receber os frutos. Vida mais tranquila! Apaixonou-se por Jasmim. Conheceu-a no meio profissional. “Era realmente uma flor aquela menina”! Casou-se. Seu lar foi colorido por duas filhas, Joana e Laura. Paixões de sua vida, além de sua mulher, claro. O tempo passou! Francisco trabalhando mais do que devia. Centralizador. Tinha dificuldades em delegar. Traço espertamente muito explorado pelo sócio e gerências. “Facilitava a vida deles”! Na verdade ele trabalhava por todos. Era sempre ele que resolvia os maiores problemas. Além do mais, era muito humilde. Não se apropriava de seus feitos. Sempre dividia  conquistas, sem cobrar maior participação dos integrantes de primeira linha. Desgastava-se demais. Muitas vezes, ficava em seu limite energético mínimo sem se dar conta. Vivia descompensado pelo excesso de trabalho e preocupação. Dores no estômago. Baixa glicemia. Tomava lá seus remédios e dava um jeito provisório nessas reações orgânicas. Assim o tempo foi passando. Além do desgaste físico do futebol, acumulou também intensos estresses de sua atuação na área executiva.  Com cinquenta e dois anos começaram a surgir dores intensas nas articulações, comprometendo-o profissionalmente, mais uma vez. Concomitantemente, seus reflexos foram ficando mais lentos que o normal para a sua idade. Resistiu muito em aceitar essa realidade. Não se conformava. “Não tinha história genética para isso!”. Assustado, tentava disfarçar os problemas, esforçando-se para parecer normal. (Reflexo é uma reação corporal automática, imediata e constate. Uma lesão que interrompe o arco reflexo em qualquer uma de suas partes pode provocar perda do reflexo. Estruturas encefálicas podem exercer ação inibitória ou estimulante sobre os reflexos). Como estava ganhando peso muito rápido, suspeitou-se que poderia ser “hipotireoidismo”. Essa possibilidade foi descartada. Depois de uma bateria de exames e de uma ressonância magnética cerebral, foi diagnosticado com início de “ALZHEIMER PRECOCE”. Iniciou tratamento clínico pra melhorar  sintomas e a qualidade de vida. Foram indicados muitos exercícios aeróbicos, de força, equilíbrio e coordenação. Exercícios em grupo, como caminhada, corrida, hidroginástica, natação, são eficazes tanto física quanto emocionalmente. (Vida natural e menos estresses facilitam a circulação energética). Como tratamento adicional, foi sugerida a utilização do óleo de cannabis. Estudos apontam que ele ajuda a conter a formação de beta-amilóide no cérebro (fibra proteica pegajosa que se junta rapidamente e forma placas prejudiciais  ao funcionamento da região onde é formada). Sua família unida contra esse monstro invisível deu a maior força a Francisco. Com a introdução desse novo estilo de vida, cheio de esportes, respiração e alimentação saudável, uma nova esperança nasceu. Jasmim, Joana e Laura bolaram um programa legal em família. Resolveram fazer do limão, limonada! Divertiam-se, brincavam e trabalhavam respiração em grupo. Duas vezes por semana. O clima de doença foi dando espaço a uma nova vida. Além disso, Francisco foi fazer terapia num grupo masculino. Lá transformou-se numa nova pessoa. A neurose e a doença perderam espaço. Articulava emoções, pensamentos, sensações, explorando e expandindo sua capacidade cerebral. Fazia parte trabalhar sonhos e alegria de viver. Voltava de lá renovado! Começou a fazer quadros coloridos e cobiçados. Conquistou um público. Fez exposições. Muito entusiasmado com a nova vida, ninguém o reconhecia mais! Essa nova fase possibilitou descobertas e renascimentos inesperados. Voltou a sentir a vida melhor do que antes! Centrado. Autêntico. Parece que descobriu que não precisa mais responder às expectativas do outro. Noutro dia comentou com a Jasmim: NUNCA SENTI TANTO O TEU PERFUME!

AVISO DO INCONSCIENTE! (MENSAGEM SIMBÓLICA).

Sonho de Gustavo: Estava com sua filha de trinta anos, no andar de cima do sobrado ensolarado, cheio de boas energias, onde tinham morado com a mãe e duas irmãs, durante muitos anos. Vista para a serra. Muito verde ao redor. Maritacas, muito frequentes naquela região, cantavam em coro, orquestradas pelo vento. No sonho, porém, a sensação era outra. Sensação de vazio! Estava noite. Silêncio. Luzes acesas onde estavam. Só Gustavo e sua filha na sala do piso superior. A parte térrea da casa, totalmente escura. Gustavo ouve um barulho vindo de lá. Se assusta! Imediatamente pensa em assaltantes. Coração dispara. Cautelosamente, desce as escadas para ver o que estava acontecendo. Enquanto isso, sua filha Ariane permanece no andar de cima. Gustavo abre a porta da sala do andar térreo, cuidadosamente. A luz da rua entra pelas frestas iluminando parcialmente o ambiente. Espia! Olha para todos os lados do quintal. Percebe que folhas caídas faziam ruídos, movimentadas pela ventania que estava começando. Imediatamente fecha a porta com trancas e puxa os cantos das cortinas das janelas, fechando-as completamente. (Acordou)!

Descrição de Gustavo:  Homem maduro. Inteligente. Machista, sensível e articulado. Caráter extremamente rígido. Muitos conflitos entre o racional e o emocional. Dificuldades intensas em ser espontâneo e natural. Sem se perceber, muitas defesas fazem seu comportamento fora de casa ser extremamente gentil e falso com ele mesmo. Isso lhe acarreta uma cisão entre o que faz e o que realmente deseja. Medo de ser rejeitado! “Baixa auto estima”. Tendência a super valorizar os outros! Em contra partida, no ambiente intimo, solta as feras! Ali, compensa  as contenções que se impõe no ambiente social. Exageradamente crítico e ácido. Qualidades que desenvolveu por intensas raivas e humilhações contidas. “Exige dos íntimos o que sente que exigiram dele mesmo”! Desta forma alimenta a sua neurose (conflito inconsciente). Assim vai vivendo insatisfeito e descompensado energeticamente.

Interpretação: Gustavo está num momento de tomar decisões importantes em sua vida. Construir mudanças radicais ou continuar patinando nas neuroses cristalizadas. Precisa conversar com sua primeira natureza. Apropriar-se de sua realidade, saudavelmente. O sonho traz Ariane, sua filha, tão carente quanto ele. Ambos no andar de cima (precisando se auto cuidarem). Estão sozinhos, sem contato com o chão! O andar de baixo está escuro (contato com o chão). Chão dá segurança! Inseguros com o barulho. Gustavo desce cautelosamente. Abre a porta, luz da rua ilumina a sala (enfrentamento). Percebe que o barulho que ouviu era das folhas esvoaçando. “Fecha a porta e os cantos da cortina”: defesa (medo de ser visto)!. Risco do que isto significa à sua vida.

Momento de vida: Gustavo vive um intenso conflito. Empresário bem sucedido, tem um sócio, de temperamento controlador, mais rígido do que Gustavo, ainda. Quer morrer trabalhando, único prazer de sua vida! Na empresa, age como se fosse o presidente. O único dono! Seu ego é maior que suas habilidades e funções. Disfarça bem! Aos incautos,  pega de surpresa, induzindo ao caminho que quer. Sempre na intenção de não “perder o seu brinquedo”. Não quer vender a empresa de jeito nenhum.. Isso representa um grande conflito para Gustavo. Ele, ambivalente, tem grandes preocupações em gerar conflito na sociedade. (Insegurança). Não consegue ser claro e transparente o suficiente e expressar que não dá mais. Quer realizar voos sonhados, conectados ao seu emocional há tempos! Por outro lado, tem muita dificuldade em vender a empresa, construção de sua vida, mesmo já tendo sentido nas vísceras que, sem isso, não será possível sua realização plena. Gustavo sente que o fator tempo está correndo contra seus anseios. Conflito instalado!

Processo terapêutico: Trabalho em seus traços de caráter.  Traumas, estresses em sua história de vida. Tentar integrar seu emocional com a sua realidade. Desconstruir os  medos, inseguranças, raivas contidas “teias de aranhas”. FAZER AS PAZES COM O CORAÇÃO!

NÃO DEIXE O SEU JANTAR PARA DEPOIS! (AUTO-SABOTAGEM).).

Carlos Henrique, empresário, sessenta anos. Trouxe um sonho: -Numa sala ampla de um casarão antigo, estava havendo uma festa. No centro da sala uma mesa grande, retangular, com imensas travessas repletas de alimentos. Variados e saborosos. A maioria das pessoas já estavam se servindo à vontade. Carlos Henrique chegou acompanhado de sua mulher, Carla. Percebeu que as comidas já estavam escasseando, porém, mesmo assim, ainda havia muitas iguarias. Ele e a esposa começaram a montar seus pratos. Carlos Henrique foi logo nos pratos preferidos. Assim que avistou abóbora recheada, salivou! Colocou no prato duas porções bem servidas e foi pegar o seu indispensável arroz integral e alguns refogados verdes. (Anda evitando carnes). Tem considerado a condição de se tornar vegetariano, por ser  mais saudável para o organismo! Além disso, principalmente, existe a questão de não se alimentar através da dor dos animais! Influência de Carla, vegetariana há mais de vinte e cinco anos. “Mulher cheia de saúde e energia”! Enquanto ele montava o prato, surge uma das gerentes de sua empresa e comunica que haveria uma comemoração formal aos casados, no andar de cima. Carla, logo de cara, disse que não iria. Foi sentar-se para almoçar. Carlos  Henrique ficou em conflito. Tem muita dificuldades em dizer “Não”, socialmente. Suas prioridades pessoais sempre estão em segundo plano.  Essa atitude  irrita Carla,  profundamente. Depois de considerar a opinião de sua mulher, Carlos Henrique decidiu que não iria.  Foi então que  voltou para pegar o prato que havia deixado  sobre a mesa, porém, já não estava mais lá. O garçom  havia retirado. Carlos Henrique, com fome, disfarçadamente, pegou um novo prato e se contentou com alguns restos que sobraram nas travessas. (Acordou).

ANAMNESE: Carlos Henrique construiu com muito empenho e determinação a empresa que hoje lhe dá conforto financeiro. Não seria sua melhor escolha na juventude (tinha fortes dons artísticos). Adorava cinema. Entendeu, porém, que para ganhar dinheiro tinha que ser empresário. Precisava garantir a vida. Muito inteligente! Espírito empreendedor. Deu tudo de si. Construiu o seu sucesso financeiro e social. Por outro lado, porém, lhe custou um preço alto. “Dinheiro e sucesso não compram felicidade”! Reprimiu muitos sonhos e um jeito natural de ser.  Viveu longos anos no automático. Respondendo muito às expectativas que os outros tinham dele. Mesmo fora do trabalho esse comportamento se repetia.  Carla, sua mulher, muitas vezes enfrentou o comportamento desajustado do marido entre muitas discussões e conflitos. Quantos aniversários sozinha! Quantas noites solitárias. Ele simplesmente não conseguia valorizar afetos mais do que trabalho. Mesmo um trabalho sem importância, ele achava fundamental sua presença. Não se permitia!  Agia como se fosse um funcionário com receio de ser demitido! Não conseguia agir como proprietário e usufruir os momentos emocionais tão deliciosos em família. Era muito pobre esses aspectos de sua vida.  Foram trinta anos de ausências! Sempre havia um bom motivo como justificativa. Não se dava conta que ficava infeliz com suas atitudes tão rígidas, bloqueando sua sensibilidade e sonhos. Durante esse período começou a surgir muitas alterações energéticas. Sintomas psicológicos e físico. Carlos Henrique, não entendia o porque desses quadros. Não sabia que sua primeira natureza ficou aprisionada neste percurso. “Afetos essenciais  não vivenciados”. Relatou em sua história de vida, ter sido obrigado a ficar distante da mãe e da família, num colégio interno, por longos anos. Estudou muito. Sofreu também! Revoltado, calado. Seu foco mental fixou somente em crescer socialmente. Desenvolveu racionalidade extrema. Comportamento político e cordial. Todos gostavam dele., só que internamente ficou vazio emocional. O não saber dizer não,  facilitou entradas de pessoas fúteis e artificiais em seu núcleo de amigos. Divertido e articulado, vivia muito de aparência. Com trinta anos se envolveu com Carla, sua secretária. Na verdade ficou atraído por sua beleza. Jeitosa, sensível e feminina! “Sorte grande”! Inteligente e tolerante, soube ser companheira. Ela conseguiu enxergar a alma carente de Carlos Henrique! Soube ter calma e compreensão acima do que se pode esperar de uma mulher. Carlos Henrique de algum jeito  desenvolveu algumas atitudes saudáveis na relação com Carla, para compensar intensas neuroses trazidas em sua bagagem. Carla nunca perdeu a esperança de ver seu marido mais humano e menos máquina!

QUEIXA: Sonhos recorrentes, como o citado acima, tem bagunçado muito a forma mental extremamente organizada de Carlos Henrique. Anda ansioso e angustiado. Dia destes, acordou no meio da noite sufocado, coração disparado. Suor frio. “PRECISA LIVRAR-SE DAS TEIAS E CUIDAR DE SUAS IGUARIAS”!

 

“SORVETE NO PORTÃO”! ( CARÊNCIA/ INSEGURANÇA).

Isaura. Doce Isaura. Quando criança suportou muito preconceito pelo seu jeito diferente de ser. Sofreu o diabo! Nasceu mais introspectiva, é certo, porém, o ambiente familiar contribuiu muito para intensificar características de insegurança e fragilidade. Filha de pais ausentes, além disso, sofreu consequências de ser o “sanduíche” entre duas irmãs extremamente competitivas, indiferentes à sua meiguice e intensa sensibilidade. Pareciam dois tratores quando o tema era ocupar espaço! “Engoliam como jiboia a identidade da menina”. Isaura não tinha recursos internos para reagir. Esse quadro recorrente foi desenvolvendo em Isaura intensa carência e dificuldades de expressões genuínas. Chegando à idade escolar, inevitavelmente, levou esse pesado pacote emocional para dentro da sala de aula. Seus pais, inadvertidamente, envolvidos tão somente com o profissional e com o próprio casamento desestruturado. Cheio de brigas e agressões verbais. Não percebiam a  angústia velada da filha. Deixaram de desempenhar suas funções como genitores equilibrados e responsáveis. Não  cuidaram da família que construíram. Sua mãe, Maria, acordou pra realidade só depois do difícil divórcio, com Joel, pai  de Isaura. Tentou do melhor jeito que conseguiu resolver a situação conflituosa entre as filhas. “O mal já estava feito!”.  Buraco emocional instalado, principalmente, no coração da sensível Isaura. Na verdade, Maria esteve cega! Por longos anos não enxergou a realidade que estava bem embaixo de seu nariz. Faltou consciência. Faltou maturidade e integração! Após a separação, Maria sentiu extrema necessidade de  encarar todos os problemas emocionais nutridos dentro de casa. Percebeu como não cuidou da estrutura emocional da família, parte fundamental no papel dos pais! Quando se conscientizou, sofreu. Sentiu-se extremamente culpada.  Focou sua sensibilidade e amor num  maior contato com as filhas e melhorar as relações entre as irmãs e com ela própria. Esse objetivo passou a ser sua meta. Lutou! Muitas vezes foi nocauteada. Nunca desistiu. Quando percebia o sofrimento de Isaura na escola por não conseguir se enturmar e as dificuldades em acompanhar pedagogicamente a turma, Maria se descabelava. Agora a briga era dela! Resolveu que precisava estar presente no dia dia. Exagerou! Tentava compensar a fragilidade da filha superprotegendo-a, sem perceber que essa atitude deixava a menina mais insegura ainda. Alguns maldosos rotulavam Isaura com apelidos pejorativos. “Esquisita” era o apelido mais suave! Nesse meio emocional de rejeição, Isaura intensificava sua contenção e atitudes desastrosas. Concomitantemente, como é natural, foi desenvolvendo cada vez mais, necessidade de ser aceita e admirada. Sem percepção de tempo e espaço, tentava agradar às pessoas absurdamente. Numa tentativa inocente em se sentir aceita, tornou-se muito tagarela. Valia qualquer assunto.  Comentários fora dos contextos é o que mais fazia. Motivo de crescentes indiferenças e rejeições. Chacotas camufladas aconteciam! Sua verdadeira identidade cada vez mais sufocada.  Comportamento inadequado, funcionava como uma bola de neve, só crescia. Certa vez, Antônia, amiga comum de suas irmãs, foi fazer uma visita a elas. Quando essa amiga chegou, assim que apertou a campainha, Isaura em sua extrema carência e ansiedade correu ao congelador, pegou um delicioso sorvete de morango e foi depressa receber Antônia. Sorrindo, abriu o portão segurando o geladinho. Ali mesmo, sem esperar que a amiga entrasse, insistiu que ela pegasse e provasse o sorvete! Antônia meio sem graça, constrangida, estranhou. Não sabia se aceitava ou não. Deu uma desculpa qualquer deixando para depois. As irmãs presenciaram  a cena e começaram a gozar de Isaura. Esse fato foi um importante divisor de águas em sua vida emocional. “Sorvete no portão”! Expressão que se tornou gozação. A partir dai, toda vez que se falasse no tema “carência”, esse termo passou a ser usado pelas irmãs como referência de extrema carência. “Olha o sorvete no portão “! Maria, sua mãe, depois de intensa crise no casamento, já separada, arranjou  tempo para  olhar e acolher suas filhas tão esquecidas por ela! Queria resgatar o tempo perdido. Percebeu a extrema carência de Isaura. Conversou muito com a filha. Aqueceu a relação entre elas. Tentou obter de Isaura sentimentos não expressos, guardados lá no fundo do coração. Foi difícil a aproximação. Paulatinamente, Isaura foi cedendo. Maria fez o possível! Investigou como uma boa mãe deve fazer as histórias e queixas de rejeição sofrida por Isaura. Não censurou. Não julgou. Apenas acolheu com o coração. Conseguiu falar de carinho e amor. Pela primeira vez em seus treze anos de idade, Isaura sentiu a mãe próxima e afetuosa. Conversaram muito. Longas conversas! Por estar adolescendo, Isaura  estava com maior percepção de sua dificuldades emocionais, conseguindo reconhecer sua ansiedade em agradar as pessoas e as atitudes errôneas que usava pra isso. “Não conseguia agir naturalmente”. Falou que detestou a gozação das irmãs e a reação da amiga Antônia. ‘Esse fato  acionou sentimentos calados pelo tempo”. Maria, atenta, achou que seria um bom momento para Isaura iniciar um processo em psicoterapia. Decidiu que buscar organizar o psicológico de Isaura seria essencial naquele momento. Resgatar sua identidade. Sorte que encontrou Mariza. Psicóloga sensível, amadurecida e experiente. Soube desenvolver uma relação de confiança e aceitação  com Isaura. Ela ficou no processo terapêutico durante quatro anos.  Ninguém a reconheceria. Isaura mudou tanto! Outra pessoa. Arranjou um namorado que combina em tudo com ela. Feliz! “RI MUITO DO SORVETE NO PORTÃO. VIROU PIADA”!

_  ( Caso relatado por Mariza, terapeuta de Isaura).

EU E MEUS VÁRIOS EUS! ( ASPECTOS INTERNOS).

Nasci assim: questionadora e rebelde. Faço as coisas do meu jeito. Não preciso de sua opinião. Nem da opinião de ninguém! Sou lá do interior da Bahia. Quando pequena dei muito trabalho. Minha mãe, que Deus a tenha, só não endoideceu porque já tinha um bocado de loucura própria. Até quiseram interná-la. Coitada. Também não era pra isso! Hoje eu entendo minha mãe. Suportar tanta amargura! Vida miserável. Tão sufocada pelo senhor meu pai. Cabra insensível. Casca de crocodilo é o que ele era. A válvula de escape dela foi o desequilíbrio mesmo! Daí, quando eu fazia as minhas traquinagens danadas, era a gota d’agua. É isso. Hoje compreendo minha mãe. De vez em quando eu mesma achava que tinha extrapolado. Até apanhar de chinelo, já apanhei. Com nove anos de idade queria entender coisas que os adultos não me contavam. Ouvia “quando crescer vai entender. Você ainda é uma criança.”. Eu ficava muito brava. Pensava que, se tinha brotado esse interesse em mim, é porque já era hora de saber, ué! Muitas vezes, queria entender porque a vida num dia parece maravilhosa e noutro tão chata! Porque existimos? Respostas vazias me deixavam mais questionadora ainda. Isso aborrecia os adultos, principalmente minha mãe. Ela não tinha muita paciência, não! Por muito pouco já gritava. Mandava eu calar a boca. Eu não desistia. Sempre arranjava um jeito de satisfazer o meu espírito curioso. Na escola fui uma aluna rebelde. Não gostava de estudar. Buscava só o prazer imediato. Queria viver os aspectos fantasiados dos meus sonhos criativos. Não sossegava. Fui Princesa. Rainha. Algumas vezes fui bruxa! Fui Deus colorido. Fui até borboleta em cima de uma cerejeira. Voava pelos canteiros ensolarados. As flores? Eram minhas amiguinhas. Crescendo, troquei essas fantasias pelo doce sabor do mel. Beijos, abraços e muito sexo. Nossa! Ficou sendo o meu ponto forte. Maluquice. Os hormônios enlouquecem! Só vivia isso. Só queria o doce sabor do mel! Fiquei compulsiva. “Compulsiva sexual”. Pode? Com o transcorrer  dos anos fui piorando. Eu me degradando! Qualquer um servia. Não queria o mesmo homem. Precisava variar. Diversos temperos! Chegou num momento da vida que comecei a sentir auto repulsa. Mesmo assim continuei com esse comportamento compulsivo. Essa briga interna tomou tamanho gigante. “Conflito desaba a gente”. Já não tinha energia pra bancar os outros lados necessários  da vida. Auto imagem zerada. Me sentia um lixo; no entanto, ainda assim, não controlava os impulsos sexuais e continuava com as atitudes de auto destruição! Era gozada pelos homens que me conheciam. Perdi amigas. Me sentia usada. Sem identidade saudável.  “Galinha amarela”, era o meu apelido. Acho que porque virei loira. Numa tarde, sozinha em meu quarto, infeliz, passeando pela internet, não sei porque, resolvi entrar num blog de psicologia pra entender que força estranha me compelia a ter atitudes que não conseguia controlar. Lendo sobre compulsão, fiquei intrigada! “Será que eu tinha aquilo”? Fiquei perplexa ao ler um caso lá relatado, idêntico ao meu quadro. Lá era classificado como ” transtorno mental”. Descrevia como um padrão persistente de falha no controle de impulsos sexuais repetitivos e intensos. Identificado como distúrbio compulsivo sexual. Identifiquei- me com todos os sintomas emocionais e psíquicos que lá estavam expostos. (Muito polêmico esse tema!). Compreendi que precisava de tratamento. Fui buscar ajuda terapêutica. Não quero mais me auto sabotar. Quero alinhavar pontos importantes de meu jeito de ser e me auto resgatar. “Preciso conhecer quais caminhos internos  me levam onde não quero ir”. Saber dos abismos ameaçadores e desviar-me deles. Comandar o meu equilíbrio psíquico sem me sentir um fantoche do prazer vazio. Lição nova: Orgasmo? SÓ SE FOR COM MUITO AMOR!

VIAGEM PROFUNDA! (APURAR OS SENTIDOS).

Sonolenta. Sensação corporal de leveza. Olhos pesados, lacrimejando de tanto bocejar. Credo, parece quebranto! Não paro de ficar bocejando, até dói o maxilar. Sentada no tapete da sala de estar dou uma espiada rápida no sofá aconchegante, encostado no canto da parede. Da varanda emana um cheiro delicioso de jasmim. O perfume se espalha por toda a sala.  A tentação de deitar naquele sofá é imensa. Meu corpo pede um sono gostoso! No entanto vim aqui na sala para meditar. Não quero dormir agora! (Não devia ter tomado as duas taças de vinho no almoço). Tenho pouca resistência ao álcool! Com preguiça, me levanto, vou até a cozinha tomar um copo de água. Aproveito e provo um bocadinho da geleia de morangos frescos que fiz  hoje pela manhã, antes do almoço. Provo. Hum, delícia! Pego uma colherada e lambuzo uma torradinha integral. Nossa! Sinto que meu corpo acordou com esse prazer! Os morangos docinhos reanimaram o desejo de voltar à experiência a que eu  tinha me proposto: meditação profunda! Há tempos estou querendo fazer essa viagem. Experimentar sensações novas, saudáveis e intensas, através dos sentidos. Fiz iniciação na yoga e, num determinado momento, travei. Tive que interromper.  Acho que me bloqueei. Isso ficou mal resolvido em mim. Neste domingo tranquilo, sozinha aqui em casa, me estimulei viver a experiência novamente. Nestes últimos dias, li um livro incrível sobre “efeitos da respiração profunda”.  Essa conexão com o interno é muito importante para o auto desenvolvimento e auto percepção. Tema atraente para mim! Ainda na cozinha olho para a mesa e olho as compotas. Tentação, essa geleia! Pego uma colher e saboreio mais uma porção dessa delícia. Volto à sala engolindo prazer. Novamente me sento no tapete, em posição de lótus e me preparo para meditar! (O livro que li explicava que através da respiração apuramos os sentidos e nos apropriamos mais de nós mesmos). A sexualidade pode atingir um estado de entrega plena!  Sensibilidade mais refinada. Tudo melhora! O vento na pele, o ar inalado produzem sensações aguçadas de um extremo prazer de estar vivo, mobilizando pontos sutis do sistema energético. Busco sair desses ensinamentos saudáveis que invadem a minha mente e tento voltar para o vazio interno. Inspiro a calma!  Respiro lenta e profundamente. Faço isso algumas vezes. Volto a respirar normal. Começo a contagem mental, de um a cinco. Quando algum pensamento interfere, retomo a contagem. Controlar os sentidos não é fácil! Gosto do morango que insiste ainda em minha boca, junto ao perfume das flores que vem da varanda, despertam sensações de um prazer singular. Intenso! Me ancoro nesse estado sensorial. Fecho os olhos. Aguço mais os sentidos. Ouço o vento cantando entre os galhos dos coqueiros do quintal. As folhas conversam entre elas. Som  misterioso. Fascinante! Coloco as mãos sobre o meu abdome, entrelaçando os dedos, suavemente. Sinto o calor da minha pele entre eles. Calor gostoso. Morno. Em  minha mente imagens abstratas, variadas, vindas do inconsciente. São figuras desconexas. Coloridas. Preto e branco. Misturadas. Me entrego aos sentidos! Quadro emocional motivador. De repente estou num lugar novo e estimulante. Foco meu olhar no meu âmago. Bem lá no fundo das entranhas. Ancoro nessa sensação por  instantes. Inspiro fundo! Expiro lentamente. Solto todo o ar num ritmo suave e prazeroso. Repito algumas vezes essa respiração. Pensamentos desconexos vêm a mente. Deixo que eles permaneçam o tempo necessário e que voem junto ao vento! Aceito sem censura expressões cerebrais emergentes. (Vou dando continuidade ao processo de limpeza mental, através desses exercícios). Olhos fechados, firmes, focados em meu interior. Depois de algum tempo surge uma sensação de vazio. Intenso. Tento permanecer nesse lugar, nem que seja por rápidos instantes. Algum medo? talvez! Pensamentos cruzados, insistem em interferir nesse processo de esvaziar a mente. “A cabeça da gente é danada, Traiçoeira”! Parece que conspira contra! Não desisto fácil. Sou persistente. Não quero me sabotar! Retomo o processo. Desta vez, conto de um a nove, rejeitando qualquer interferência da mente. Quando ela invade, recomeço a contagem. Depois de muitas tentativas, nem sei quantas, atinjo uma sensação de leveza e profundidade. Há uma luz aquecendo as minhas células. A energia circulante, traz imagens fortalecidas de mim mesma. “Sou gaivota no pico da montanha”. Estou nas nuvens. Transformador e transformante, esse instante. Minha alma está lépida. Lilás! Coração vermelho, pulsante! Pulsando na cadência das batidas. Tranquilo. Sereno. Dança harmoniosa. Integrada. Meu corpo reage num estado de intensa integração. Nirvana. “A CASA ESTÁ EM FESTA”!

O MUNDO COLORIDO DE RENAN! (DISLEXIA)

Renan, nove anos, é uma criança singular. Inteligência colorida e muito criativa. Desconhecida dos medíocres. Estão acostumados com o modelo tradicional que a sociedade aprova! Esse garoto desde pequenino já denotava um comportamento diferente do irmão mais velho. Sua mãe, mulher simples, afetuosa e preocupada, sempre esteve por perto. Coração gigante. Alma frágil. Cérebro ambivalente. Ora o protegia, ora o punia. Uma coisa é certa: ela o amava profundamente! Algumas vezes até se traia sendo rude e severa. Depois sentia muita culpa por atitudes agressivas e rejeitadoras que eventualmente tomava em relação a ele. “Renan era como um Anjo”. Doce e sensível! Vivia num mundo imaginário sustentando fantasias e sonhos. Natural que Joana, sua mãe, tivesse preocupação com o futuro do filho. Ela era sozinha. Separou-se do pai de Renan, ainda grávida. Um homem troglodita! Insensível e egoísta. Trabalhadora e determinada, Joana seguiu a vida. Conseguiu o cargo de gerência num grande supermercado, próximo à sua casa. Dona Lourdes, sua mãe, dava um bom suporte enquanto ela não voltava do trabalho. Preparava comidas caseiras saborosas, muitas verduras e grãos. Um tempero delicioso. Renan adorava a comida da avó, que o mimava demais. Era o seu xodó. Mulher da roça, que, em sua simplicidade, não entendia porque o  neto amado tinha tantas dificuldades na escola. Ela adorava o jeito amoroso dele. Para ela, Renan era o máximo principalmente quando mostrava pinturas  expressivas e coloridas! No entanto, acompanhava a rotina dele e sabia que algo estava errado em sua vida escolar. Não foram poucas as vezes que Joana foi chamada à escola em função das dificuldades de seu filho em ler e escrever. Em decorrência disso Renan sofria muitas gozações e humilhações. Quando chegava em casa amuado, Joana já sabia que algo ruim tinha acontecido na escola. Ela era uma mulher  esclarecida, porém não conseguia entender o que havia com seu filho. Porque tanta dificuldade  em aprender? Sempre o achou inteligente e criativo. Em sua cabeça, às vezes, surgiam perguntas sem respostas, mas logo pensava que era incompetência dos professores. Trocou Renan de escola algumas vezes, tentando resolver o problema que tanto a angustiava. A última transferência de Renan foi para uma escola com métodos e disciplina mais rígidos. Joana pensou que talvez fosse o que estava faltando pra Renan se enquadrar. Sentia um aperto no coração só em pensar que ele poderia sofrer. Nesses instantes buscava apoio em seu lado racional pra não fraquejar. Precisava se manter firme. “Não queria repetir o erro”. Em cada mudança de escola sempre houve uma expectativa imensa e muitas frustrações. Desta última vez não foi diferente. Logo no primeiro  mês, a coordenação convocou uma reunião com Joana e a comunicou que seu filho não tinha condições de frequentar uma escola normal. Indicou-lhe uma instituição para crianças especiais. Joana descabelou-se. Filho especial? Não!  “Eles não conheciam o seu Renan!”. Ele foi encaminhado para uma avaliação neuropsicológica para fechar um diagnóstico. Havia uma suspeita de dislexia. Quando Joana recebeu o diagnóstico positivo entendeu todo o sofrimento que seu filho sentia. A partir dai, desarmou-se. Buscou informações precisas sobre dislexia. Ampliou a consciência sobre os sintomas do quadro e formas de abordagens. Incrível, mas sentiu- se mais segura para buscar caminhos.  Entendeu que existem tipos e graus diferentes de dislexia e que tem origem genética. A de Renan era do tipo mista, num grau médio. Isto é, auditiva e visual dificultando a aprendizagem e a aquisição das habilidades na escrita, fala e orientação espacial, entre outros. Renan começou a frequentar uma psicóloga especializada e uma fonoaudióloga. Ao mesmo tempo foi matriculado numa instituição que tinha classes especializadas para crianças com dislexias. Com o passar do tempo a inteligência acima da média de Renan veio à tona, transbordando de alegria os corações que o amavam e principalmente a ele mesmo. Foi ficando seguro e integrado. Professores com a magia do conhecimento e da sensibilidade, fizeram desabrochar a criação e a vida que estavam reprimidas dentro de seu mundo. Seus olhos brilhantes expressam agora a alegria de viver. Sorriem como uma criança feliz. Hoje Renan já sabe que é capaz! VOVÓ LOURDES QUE O DIGA!

NÃO SEJA RIDÍCULO! ( IMATURIDADE).

Guilherme é figura que inspira os fracos. Sessenta e seis anos cronológicos e quinze mentais. Casado e pai de dois filhos adultos. Seu comportamento inadequado foi suportado pela esposa durante os trinta anos de convívio. No início do relacionamento Marina achava até graça quando o marido falava ou fazia coisas fora do contexto. Pensava que fazia parte da carência emocional  dele. Ele tinha tido uma infância difícil, pouco contato amoroso. Família numerosa e desestruturada. Ficava jogado nas ruas, cabulava aulas, sem direção e acompanhamento. Aprendeu a mentir pra se proteger de possíveis punições quando era indagado sobre alguma falha que cometera. Pais ausentes emocionalmente, porém, violentos. Sorte que na adolescência, um tio paterno se preocupou com o futuro  dele e resolveu investir em seus estudos. Guilherme foi obrigado a duras penas, entrar nos eixos e nos valores sociais. Teve que estudar muito. Foi muito cobrado pelo tio Jonas. Se deu bem profissionalmente. Formou-se em direito. Abriu um escritório na área trabalhista, ganhou um bom dinheiro. Só o seu caráter imaturo que não mudou, pelo contrário, ficou mais crápula ainda. Esse traço era mais evidente na intimidade. Sabia usar máscaras no social! Quando Marina o conheceu na faculdade, ficou encantada. Nem imaginava que aquele bonitão brincalhão tinha caráter fraco. Era um sedutor inveterado e disfarçado. Com o passar dos tempos ela conheceu o marido infiel que lhe causou muitas lágrimas. Mulher forte. Segurou a onda! Conseguiu conservar a família unida, engolindo raivas e dissabores ao ponto de desenvolver intensa gastrite. Apaixonada pelas suas crianças. Deu duro na formação do caráter deles. Não pensava em si. Doou-se inteira. Agora, depois de tanto tempo, filhos independentes e bem direcionados na vida, não quer mais auto sabotar-se. -“Guilherme potencializou seus defeitos. Transformou-se numa imagem piegas do sessentão com cabeça de adolescente. Sua linguagem, atitudes e interesses são fúteis e escrachados. Pornografia e cachaça são seus vícios. Aposentado, boa situação financeira, gasta tudo nos bares da vida. É um imbecil, sentindo-se um jovenzinho sedutor. Adora menininhas! Desprezível como ser humano”! – Essa foi a fala de Marina. “CIC”.  Ela o enxotou de sua vida. Marina veio buscar ajuda terapêutica. Juntar destroços internos e se perdoar. Está gostando do novo sabor de sua vida (jardins de girassóis). Descobriu-se corajosa, bonita e inteligente. Vai retomar os estudos. Desta vez quer fazer psicologia. Diz brincando: “Quero ajudar outras Marinas em tempo hábil”. Estamos trabalhando nessa questão. Será desejo genuíno ou transferência terapêutica? Sua viagem interna lhe dará a resposta. Está atenta. Vida nova. “MARINA NÃO PODE SE ENGANAR DESTA VEZ”!